|CAPITULO 10|

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Bilhete n° 33

Eu estava pronto para ir embora quando você me pedisse.

Agora... acho que isso me mataria.

Tenho escutado Look After You da banda The Fray sem parar essa semana, se gostaria de saber.

Ferret.

PASSADO | LUCAS GRAHAM

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PASSADO | LUCAS GRAHAM

FAZ DUAS SEMANAS desde que descobri sobre como ela realmente se sente a meu respeito; duas semanas desde que minhas mãos deixaram manchas grosseiras em sua pele. Desde que ela me deu as costas e nunca mais voltou. Sim, estou ciente do quanto a machuquei, tanto que nem mesmo consigo deitar a cabeça no travesseiro sem reviver o medo que percorreu seu rosto como um rio desgovernado naquela tarde. A forma como ela tremia sob meu aperto e seus olhos castanhos brilhavam com horror. Uma pequena parte de mim se odeia por afastar uma das melhores coisas que me aconteceu - mesmo que tenha sido tudo apenas por causa de um belo punhado de pena. Mas, em compensação, existe esse outro lado... o egoísta e vingativo, que a culpa inteiramente por tudo o que aconteceu naquele dia. Funciona como uma vozinha maldosa no fundo da minha mente e essa coisa continua a cantarolar que Anna Lis Scott teve o que mereceu. Enquanto eu tentava ajudar, fui ridicularizado na frente de dois bastardos, então foda-se se a porra do meu coração tem sangrado, porque sei que por um momento o dela também sangrou.

― Sarah me ligou ontem a noite. ― Lyra chama minha atenção de volta para a mesa do café da manhã, e meus olhos automaticamente abandonam a torrada intocada a minha frente.

Os movimentos da loira são friamente equilibrados enquanto preenche o garfo com um punhado aceitável de ovos mexidos. Hoje deveria ser uma daquelas poucas manhãs agradáveis sem Dominic Torrance, ― o babaca está viajando a trabalho tempo suficiente para deixar os hematomas no corpo de sua esposa se curarem sem interrupções ― mas desde que me recusei a falar sobre como ganhei os machucados da semana passada, ela tem me tratado com uma frieza congelante. E é claro que entendo que, como mãe, seu papel é exatamente se preocupar com merdas assim e ficar com raiva quando não consegue resolvê-las. Entretanto, embora no fundo eu também desejasse que mamãe usasse seus pauzinhos para fazer os kally caírem sobre os joelhos, implorando por perdão, eu havia feito um trato com John e eu nunca volto com minha palavra. Enquanto ele não voltar a importunar a garota, ninguém saberá da briga.

Ah, merda.

― O que a Sra. Scott queria? ― questiono, de repente, muito preocupado com a possibilidade da garota ter contado para a mãe tudo o que havia acontecido na quarta passada.

Droga, Lyra ficaria uma fera por ambos os motivos e Sarah com certeza me odiaria por machucar sua preciosa filha.

Mas Anna Lis não seria tão idiota a ponto de me dedurar, certo?

Ah, é... agora que não somos mais "aliados", não há nada impedindo-na de cantarolar sobre o terrível dragão cuspidor de fogo que incendiou seu lindo conto de fadas.

Lyra não me responde de imediato, no entanto. Seu próprio lado vingativo faz questão de primeiro levar a comida à boca e depositar o talher na mesa, com muita, mais muita calma. Impacientemente a observo saborear seus ovos mexidos por segundos quase infinitos, antes de finalmente deixar que olhos verde-floresta, iguaizinhos aos que vejo no espelho, mirem em minha direção.

― Ela está preocupada com a filha... ― diz, por fim. ― Anna Lis tem andado mais quieta do que o normal e não vem se alimentando bem.

Ela estava doente? Desde quando?

― E por que isso seria da nossa conta? ― ignoro o leve embrulhar em meu estômago ao perguntar sem qualquer emoção.

― Bem, eu esperava que o melhor amigo dela pudesse me contar. ― sua atenção pousa brevemente sobre a comida intocada à minha frente.

Seguro a vontade repentina de rir com a afirmação ingênua. Amigo? Anna Lis nunca me viu como um e agora eu sei disso. Projetinho de caridade se encaixa muito melhor aqui. Ela escreveu tudo na droga do diário que John leu.

― Lamento decepcionar, mãe... ― Mordo um pequeno pedaço da minha torrada fria e dura. Embora a geleia e o pão amarguem na boca, ainda me forço a engolir cada migalha antes que o nó em minha garganta se torne maior e fora de controle. ― mas não me lembro de ter se candidato ao cargo de melhor amigo daquela esquisita.

Me assusto com o som de talheres sendo largados bruscamente sobre a mesa e percebo tarde demais a expressão de Lyra tornando-se terrivelmente amarga. É quase palpável a decepção inundando seus olhos, sufocando-me sob um caminhão de culpa, porque, enquanto a encaro, são os olhos desapontados do meu pai que vejo.

James Graham odiava quando eu era desnecessariamente cruel com outras pessoas e seu humor se tornava sombrio por semanas até que eu decidisse me desculpar, o que raramente acontecia. Ainda assim, eu odiava a forma como seus olhos iam perdendo pouco a pouco a esperança em mim. Se eu não fosse seu filho, ele com certeza já teria me odiado a muito tempo, assim como todo mundo sempre acaba fazendo.

― Como ousa dizer isso... ― Lyra sibila em um tom claramente de desprezo. ― Como ousa agir como se não tivesse passado meses na casa dela, comendo da sua comida e participando de passeios em família como se fosse um Scott? Como ousa se referir a Anna Lis com tamanho desrespeito, depois de ter passado semanas me contando sobre como ela era divertida e cativante de maneiras quase sobre humanas?

Mamãe suspira lamentavelmente e sua cadeira arranha ruidosamente contra o piso enquanto se põe de pé.

― Esquisita? ― sua boca se curva em um sorriso sombrio. ― Além de cruel, você também se tornou cego, querido?

Então ela se vai e a sala de jantar cai em silêncio profundo, enquanto repasso suas palavras uma e outra vez. Elas são duras e têm o mesmo efeito que um soco no maxilar, porque, por mais que eu odeie admitir, minha mãe está certa: eu sou ingrato e cruel; machuco as pessoas mesmo antes de sentir isso vindo e depois sou orgulhoso demais para me desculpar. Mas com certeza não sou cego. É claro que não há nada de errado com a Anna Lis. A garota de ouro do Scientia é perfeita. Ela está sempre se compadecendo dos miseráveis e feridos de maneira tão genuína que parece mentira. Apesar de que não é. Tudo nela emana inocência e verdade, pureza e luz. Sinto pena dele... as malditas palavras ressoam em algum lugar da minha mente. Da forma como parece solitário e carente de afeto. Por mais que ele lute muito para não deixar transparecer, sou a única que consegue ver a verdade por trás da floresta fria em seus olhos.

Deixo que meus olhos caiam outra vez sobre o resto de torrada e pisco uma dezena de vezes atrás de conseguir dissipar as lágrimas acumuladas nas bordas.

― Eu não quero a porra da sua pena, ― sussurro para o silêncio. ― só quero que você goste de mim, sua idiota.

***

Isso foi tudo o que consegui produzir em meses.

A ideia de estar escrevendo para ninguém é assustadora.

A ideia de que ninguém está gostando me paralisa.

Mas eu amo essa historia demais para simplesmente desistir.

Obrigado por ter chegado até aqui, querido leitor.

Att,

LISLY SOUTTO

When We FallWhere stories live. Discover now