•|Capítulo 12 [O começo do fim]

323 42 21
                                    

E foi pensando seriamente, sentado na poltrona vazia da sala da casa do meu pai, que percebi que minha vida era uma grande merda.

Me lembrei, sentado na maldita poltrona, várias coisas que se ocorreram na minha vida quando eu morava aqui.

Lembrei-me da vez em que meu pai invadiu a casa quando ele estava separado da minha mãe, querendo explicações. Naquela manhã só eu estava em casa, perdido, triste, tendo uma crise existencial, mas eu o atendi, e conversei com ele. Garanti que ele estaria bem longe da minha casa, quando, com minhas pernas bambas e coração na mão, o levei ate a esquina da pensão onde ele estava dormindo naqueles dias.
Voltei para casa correndo e desesperado naquele dia, lotando o celular da minha irmã de inúmeras mensagens sem sentido mas com muita importância. Costumava dizer na maioria dos nossos diálogos o quanto queria morrer, mas era uma grande meia verdade, porque ao
mesmo tempo que queria, tinha medo de pensar na morte.

O meu eu com quinze anos, ficava se perguntando o que era felicidade. O meu eu com quinze anos, era obcecado pela tal felicidade. Pensar em que ou em quem te trás felicidade, te torna sozinho e depressivo.

No fim, descobri que a felicidade vinha em pequenas coisas de pequenos combos de surpresas. Mas na minha vida, pouca coisa me dava a sensação de pura felicidade.

Acho que, encontrar a felicidade depois que perdi minha casa, se tornou ainda mais difícil.

Perdi um lugar quente, com pessoas maravilhosas, e abraços que queriam dizer "eu te amo". Depois de perder o meu pequeno lugar para voltar, o que era felicidade?

Então, conheci Jake hyung, Sunoo e Niki. Mas eles tem sua própria casa, eles tem o lugar deles e sabem a onde pertencem.

E eu? Quando eu vou conseguir achar minha felicidade? Quando eu vou realmente ter um lugar para onde voltar?

Um mês se passou desde que vi Jay pela última vez, desde que, talvez, eu tenha dado meu último sorriso. Foi a última vez que senti aquele sentimento quente, aquelas malditas borboletas no estômago, foi a última vez que vi os olhos de alguém queimarem por mim.

Foi a última vez que eu vi Hades.

Eu sempre fui alguém intenso. Eu nunca gostei de perder oportunidades apesar de bundão. O que eu sentia por Jay era intenso demais para ser dito em voz alta, mas era lindamente verdadeiro.

Talvez não puro, ja que eu cometia os pecados da luxúria com outras pensando nele.

Pensar em Jay se tornou a única coisa que me fazia levantar da cama todos os dias, e eu nem sei como. Só imaginava seu rosto, seu sorriso, e ele me dizendo que dias melhores iam vir, que eu tinha que me levantar e encarar o mundo de novo.

De novo. De novo. E, mais uma vez, o dia não foi melhor.

Não faço a minima ideia do porque eu ter levantado da cama para vir nesse maldito lugar, para reviver essas malditas lembranças, com pessoas tão amáveis e pessoas tão cruéis.

Meu pai morreu. Eu estou, infelizmente para uns e felizmente para outros, no enterro dele.
Nunca vi tanta gente falsa e hipócrita no mesmo lugar, mas apesar disso, eu estou aqui, e garanto para a alma dele, que é de coração.

— Tá tudo bem, Won?- Jake hyung perguntou, colocando a mão no meu ombro.

Ele também não parecia muito melhor que eu. Ele anda tendo pesadelos, e ele sempre acorda gritando por Wheein ou por SungHoon, mas quem está la para segurar sua mão sou eu, pouca coisa melhor, tendo mais um de meus pesadelos com a morte da minha mãe e irmã.
Estávamos cada vez mais fundos no caos, e não queríamos dizer isso pra ninguém.

Será que meu pai vai ver o Jay ou Zeus? Curiosidade.

Ergui os olhos para encarar meu hyung, e então lhe ofereci um curto sorriso, não muito sincero.

— Eu tô bem, hyung. Eu nem mesmo sabia que ele estava doente, como posso sentir algo? Espero que ele esteja feliz agora.

— Não.- Jake hyung respirou fundo, se agachando em minha frente. — Tudo bem falar pra mim, Won. Nós somos melhores amigos.

Senti meus olhos pesarem no mesmo instante, mesmo não querendo, a vontade de chorar me consumia inteiro.

— Eu sinto raiva, as vezes eu sinto desespero, e com ele vem o medo. Medo do futuro, medo do amanhã, eu tenho medo.

— Todos temos medos, Won. Eu tenho vários.- Apertou minha mão, beijando cada um de meus dedos. — Ultimamente, eu só sinto medo, medo, medo, medo. O que há de errado?

— Eu to desesperado por algum tipo de sentimento, hyung. Eu to desesperado por amor, por
qualquer tipo de amor.- Abaixei a cabeça, sentindo meu peito se apertar. — Amor de pai, amor de irmão, amor de homem, o único amor que tenho é o seu, mas como posso seguir assim, se nem mesmo você tem se amado, hyung?

Respirei fundo, voltando a lhe encarar. — Porque eu sinto o medo e a falta de esperança me consumindo por inteiro? Porque eu sinto algo me empurrando para o precipício, e porque esse algo sou eu? Porque eu continuo desistindo de mim e me jogando nas mãos dos outros? - Deixei mais lágrimas caírem. — É sobre tudo, hyung. É sobre Jay, sobre SungHoon, sobre você e principalmente, sobre mim.

— Eu vou voltar pra Ilha, Jungwon.- Meu hyung soltou então, me puxando para um abraço apertado
enquanto eu chorava com toda a força que tinha. — Eu sempre pensei que não precisava de nada. Nada faltava, eu estava completo. Mas então, eu notei, que tudo bem se falta algo, um dia eu vou achar.- Ele se afastou e então secou minhas lágrimas com suas mãos. — Eu achei,
Won. Eu achei e mesmo te amando com todo meu coração, eu preciso te forçar a aprender.

— Aprender o que? Que você finalmente admitiu que larga tudo pelo SungHoon?- Tentei brincar, tentando secar minhas lágrimas.

— Aprender a se amar, Won.- Deu um beijo na minha bochecha. — Eu amo você. Você tem pra onde voltar. Eu nunca vou soltar a sua mão, não importa o que aconteça, eu nunca vou soltar a sua mão.

— Eu vou te segurar, eu vou te segurar com toda força que eu tenho, e eu prometo, que vou tentar me segurar da mesma forma.- Senti as lágrimas caírem mais uma vez, não conseguindo impedir.

— Wonie.- Me chamou mais uma vez. — Eu acho que, antes de ir embora, eu quero te fazer perceber algo.

— O que?

— Que você vai para o inferno.

O que?

.
.
.

30/10/2023

O Filho De Hades || JaywonWhere stories live. Discover now