𝗖𝗮𝗽𝗶𝘁𝘂𝗹𝗼 𝟭𝟲

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Eu preciso me conhecer!

 — É a pergunta mais importante que tenho para fazer. Por que não consigo nenhum desempenho mesmo tendo treinado por um ano? 

Seu suspiro semelhante a um sopro suave deixava claro sua irritação.

— A verdade é que você evoluiu sim. Tem conhecimento sobre artes marciais, está aprendendo a melhor maneira de ajudar com sua individualidade, se esforça nos treinamentos da Yūei apesar de não gostar. O seu problema não é a falta de desenvolvimento. Existe algo que te impede de se esforçar demais, apenas isso. Agora por favor me deixe ir, sinto que alguém está se aproximando e pode acabar me vendo. 

Eu nem mesmo tive tempo ou palavras para impedi-la, estava chocada demais para isso. Desde o início o que me prendia era esse tal "algo". 

Nunca foi uma falha minha.

Talvez eu tivesse uma condição especial, mas ter essa condição significaria um erro. Um detalhe da individualidade significaria fazer o impossível para mudá-lo. E pelo o que entendi não posso mudar isso de maneira alguma já que tenho tentado a meses e nada aconteceu. É como um limite imposto a mim, mas a razão dele pode ser que nunca chegarei a saber.

Pensativa, parei minha caminhada de volta para o acampamento, encarei uma das árvores. Diferente das outras ao seu redor ela estava seca, sem vida, não combinava com o verde chamativo da floresta.

Eu a toquei calmamente, sentindo na ponta dos dedos o tronco áspero. Um choque rápido de energia passeou pelos meus braços até sair e se tornar aquela luz hipnotizante, contornando os galhos secos por alguns segundos. Pequenas folhas começaram a nascer.

Eu posso mudar a realidade, a minha e a deles.

Ter trazido vida para aquela árvore era uma prova disso.

Fiquei tão atordoada e desligada do mundo real que somente percebi que estava próxima do acampamento quando por reflexo me assustei com a sombra de alguém. 

É verdade que a aura havia me alertado de que alguém poderia estar por perto. Mas não tardou para que se revelasse, era Bakugo. O que ele fazia acordado a aquela hora eu não sabia. Seu olhar parecia confuso, provavelmente não esperava que acabaria tendo uma companhia, para ele até desagradavel. 

Meus encontros com Bakugo sempre são constrangedores, isso era um fato.

— Bo..Boa noite. – Pela primeira vez tomei a iniciativa de falar.

— A perfeita herdeira da família Enokida desrespeitando as regras? — Zombou, deixando surgir um sorriso nada amigável nos lábios. – Achei que você fosse ser exemplar. Pelo visto não passavam de discursos tudo o que diziam sobre sua família. — Seu jeito de falar era grosseiro e sarcástico com um pouco de ácido no final. 

Bakugo queria me lembrar do festival. Outro que colocou grandes expectativas nas minhas habilidades e agora parecia me ver como inimiga.

Sinto muito, mas irei decepcioná-lo.

Também o ignorei, passei por ele sem ao menos lhe ceder um olhar. Bakugo não disse nada até que eu chegasse na porta e me virasse discretamente para trás. 

— Saiba que seu silêncio é o mesmo que admitir que eu disse a verdade! – Ele gritou. Sua feição não era a mais bonita naquele momento, ele estava irritado por eu o ter ignorado. 

Eu apertei os braços contra o corpo e acelerei para voltar ao quarto e conseguir respirar. Bakugo me dava medo, sim, muito medo. Toda vez que vejo o vermelho fulminante dos seus olhos me encarando, imagino a vontade imensa que ele tem de atacar quando escuta minha voz.

Eu não teria ideia do que fazer se acontecesse.

A melhor escolha foi me manter calada, a minha resposta com certeza não traria felicidades para ele.

Demorei alguns minutos para me recuperar do susto, esquecer do medo e organizar meus pensamentos. As informações que recebi foram todas escritas em meu diário, a única maneira que encontrei de pegar no sono.

Eu me virava de um lado para o outro para encontrar uma posição confortável, mas só fazia bagunçar o lençol.

O quarto estava frio, parecia que havia esquecido de me cobrir. Algo abaixo de mim estava me incomodando, eu não conseguiria apenas ignorar o desconforto e voltar a dormir. Sem abrir os olhos procurei com as mãos o que era, ao mover as mãos um barulho semelhante a correntes soou. Balancei meu braço esquerdo e novamente escutei o mesmo.

Derrotada, eu levantei e abri os olhos. Aquela sala estranha não era o quarto do acampamento. Como eu tinha chegado ali?

O desespero logo tomou conta da minha razão. Observei ao redor me forçando a lembrar daquele lugar. A sala obviamente era um espaço para crianças. As paredes completamente cobertas por imagens de desenhos infantis. Bonecas, pelúcias, brinquedos espalhados pelo chão, assim como alguns livros também infantis.

Se alguém estivesse entrando ali pela primeira vez, com certeza pensaria que tudo aquilo era para distrair as crianças.

No entanto, a pouca iluminação fazia esses detalhes não serem tão alegres como deveria. Ao menos ela me ajudou a descobrir de onde vinha o som de correntes, a verdade é que haviam correntes me prendendo perto do futon que eu estava deitada antes.

As algemas eram pesadas, feitas perfeitamente para mim. Havia marcas vermelhas em cada um de meus pulsos, talvez eu tivesse me movido demais enquanto dormia ou tentado removê-las, sem sucesso. E logo abaixo, nos braços, ferimentos quase cicatrizados que nunca existiram.

Por que tanta dor?

Quanto mais eu me forçava a lembrar, a entender mais minha cabeça latejava. Nada fazia sentido, não seria novamente um sonho, seria?

Tudo parecia calmo no acampamento sem sinal de vilões. Os professores são habilidosos e experientes, fariam de tudo para que eles não chegassem até nós.

Então...essa é a única explicação.

Além disso, outro detalhe me incomodava.

Aquela dor. A dor que me impulsionava a querer gritar, implorar para acabar, oferecer qualquer coisa a troco dela sumir.

Esse é a sensação que se sente ao morrer?

Faça parar.

O zumbido irritante cessou meus gritos, enquanto no meu coração parecia ter milhões de espinhos. Voltei a cair me contorcendo sobre o futon branco agora sujo pelo sangue que eu tossia. Meus pulsos ardiam quando eu me abraçava para suprir a dor.

Faça parar.

Em meio ao meu sofrimento escutei o estrondo abafado da porta sendo aberta. Pessoas gritavam tão desesperadas quanto eu. Finalmente alguém para me socorrer.

Por favor, façam parar, façam parar...

De repente, estava ofegante, completamente suada e confusa… O que tinha acabado de acontecer?

𝐀 𝐌𝐀𝐑𝐈𝐎𝐍𝐄𝐓𝐄˖ ࣪, BnhaWhere stories live. Discover now