Continuação capitulo 16 - Henrique

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Por Henrique

Quando procurei Jade no hotel onde estava hospedada desde o dia em que saiu do apartamento de Elisa e não a encontrei, soube na hora que ela tinha vindo atrás da minha irmã. Posso ter exagerado um pouco com o papo de cancelar o casamento, mas tudo isso porque estava muito nervoso. Das vezes que vim atrás de Bella eu não disse mais do que três palavras. Ela sempre me cortava ou mandava sumir da vida dela. Eu não contestava, apenas sumia. Saber que Jade falou com ela e com certeza deve ter dito um monte de merda me deixava irado. Não gostava de envolver ninguém nos meus problemas, não queria que minha irmã pensasse que ela veio porque eu pedi. Cada um tem seu tempo, eu prometi respeitar o tempo e o espaço de Bella.

Não consegui dormir a noite toda. Antes de ir resolvi tomar um café em uma padaria no centro até dar a hora. Assim que chegasse ao Brasil, meus nervos estariam mais relaxados e daria conta de encarar Jade outra vez. Estava lendo alguns e-mails, sentado na mesa do lado de fora quando uma menina tropeçou na minha mala caindo no meu pé. Dei um pulo e a peguei. Ela ralou as mãozinhas, fazia uma careta atrás da outra.

-Tudo bem?

-Minha mão esta doendo - resmungou.

Sorri achando graça da sua manha. Ela era linda, de olhos castanhos e cabelos escuros. Peguei sua mão passando o guardanapo úmido, limpando o machucado.

-Pronto... Vai ficar melhor. Não pode andar sozinha assim, cadê sua mãe?

-Baeta? - a voz estridente de um menino que vinha correndo chamou nossa atenção - Não pode fugir, deixou a mamãe preocupada.

-De como você a chamou?

-Baeta - a menina respondeu sorrindo. Meu coração deu uma pequena falhada, senti uma saudade enorme inundar meu peito. Era o nome da minha mãe.

-Conheci uma mulher com esse nome. Ela era linda... Assim como você.

-Acha meu nome bonito?

-Sim, muito bonito. Você não gosta?

-Às vezes ele é estranho demais.

-Não pense assim. É um nome lindo. A mulher que conheci com esse nome um dia me disse que ser diferente é um dom e precisamos saber usá-lo - toquei a ponta do seu nariz - Procure cuidar do seu dom.

-Quem é você? - a voz do menino fez com que tirasse minha atenção de Baeta.

-Sou Henri e você?

-Sou irmão de Baeta - estendeu a mão - August.

Já tinha tocado a mão do menino antes dele falar seu nome, e depois que ouvi não consegui solta-la. Fiquei encarando aquelas crianças e pensei que deveria estar sonhando. Será que era alguma piada de mau gosto? Engoli em seco olhando para os dois, tentando entender o que estava acontecendo ali.

-August? - ele balançou a cabeça em afirmativo. Era mais serio que a menina, mas não menos receptivo. - Como pode? - perguntei mais pra mim do que para eles. Senti um nó na garganta e quis chorar. Estar nesse país já era demais pra mim, e ainda encontrar duas crianças com o mesmo nome dos meus pais... Indescritível.

-Foi à forma que encontrei de tê-los sempre perto de mim.

Ouvi uma voz familiar, levantei o rosto para olhar minha irmã parada na minha frente. Não soube descrever o sentimento que me invadiu naquele momento. Ela falou comigo. Sim, ela falou comigo como uma pessoa qualquer depois de dez anos. O dia da morte dos meus pais voltou na minha mente com força total, trazendo as imagens de Bella se rasgando e gritando em desespero. Eu também estava apavorado. Não sabia o que fazer, como reagir. Quando me xingou eu pensei que era algo momentâneo, mas o ruim foi que esse momento não passou tão rápido quanto eu desejei. Ele demorou doídos dez anos. Sombrios dez anos. Solitários dez anos. E agora eu estava segurando a mão do meu sobrinho, tendo a admiração da minha sobrinha, além de ter esse olhar da minha irmã. Que olhar era esse? Seus olhos brilhavam, sua respiração estava ofegante e dentro daquele olhar pude ver alguém que perdi há muitos anos. Minha Bella, minha irmã.

Cor a Primeira Vista - Volume II da Série Dê-me AmorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora