Thomas é forçado a viajar para Portugal numa tentativa derradeira de parar Oswald Mosley, que continua os seus avanços imparáveis no mundo fascista. Lá encontra a ajuda improvável de Helena, uma mulher de origem cigana e com o coração tão despedaçad...
O seu dedo deslizava lentamente sobre o copo de vidro que já tinha sido esvaziado várias vezes. Fazia círculos à horas, sem noção do tempo e pouco se importava com isso. Helena olhou pela janela para se aperceber que já era noite avançada. As luzes lá fora sob a escuridão confirmavam-no. A garrafa que lhe fazia companhia estava a meio, conseguia distinguir o líquido pela fraca luz que o candeeiro em cima da secretária emitia. Procurava a todo o custo entorpecer as suas emoções, ela nunca tinha sido de afogar as mágoas na bebida mas hoje era apenas disso que precisava. E agradecia a sua resistência ao álcool, podia facilmente derrubar qualquer um numa competição directa, até Arthur. Tinha descalço as botas porque sentia a necessidade urgente de se meter no banho para tirar aquele cheiro de si mas faltavam-lhe as forças. A única coisa que ainda conseguia fazer era pegar no copo. Revivia aquela cena desde que tinha saído do hotel, por muito que se tentasse lavar nada apagava a sua memória. Um estrondo e um clarão repentino que entrou pela janela fez Helena saltar da cadeira. Uma tempestade abatia-se sobre a cidade com chuva intensa.
Levantou-se e dirigiu-se à varanda directamente atrás de si deixando os primeiros pingos caírem livremente sobre a sua cara enquanto fechava os olhos e se habituava ao frio da água. O seu corpo tranquilizava à medida que ficava cada vez mais encharcada e o seu cabelo selvagem baixava levemente.
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-"Hey, you fucking gipsy princess!"- Alfie gritou chamando a sua atenção directamente abaixo da varanda. Tinha tirado o chapéu e admirava-a em todo o seu esplendor.- "Sabes onde me encontrar se precisares de mim, love."- O judeu sorriu levemente para ela antes de se recolher no carro e arrancar perante o olhar atento de Helena. A proposta de Alfie parecia-lhe demasiado tentadora, principalmente no estado em que se encontrava. Mas e Thomas? Que tinha acabado de a salvar das garras de Mosley? Merda, ela sentia-se uma inconsequente por este tipo de coisas lhe passar pela cabeça. Amar intensamente trás sempre as suas consequências, mais tarde ou mais cedo. Ela amava-o com todas as suas forças, isso nunca estaria em questão. O seu coração atraiçoava-a na pior altura da sua vida, entre a tempestade e a calma.
Thomas era a tempestade, Alfie a bonança depois da tempestade.
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