Prólogo

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Ontem à noite eu vi o vídeo deles, ouvi tudo o que eles disseram. Desde então eu não consegui mais dormir. O medo que eu achei que jamais voltaria, a necessidade de me manter o tempo todo em alerta, com frio na barriga, esperando constantemente pelo momento em que eu teria que lutar pela minha vida, tudo isso voltou. Voltou como se já não tivesse acabado faz tempo.

Fui ingênuo demais em achar que esse tipo de ameaça não voltaria, é como se eu tivesse só 18 anos de novo, com minha visão romântica e míope de como o mundo funciona, o bem vencendo o mal de forma definitiva. Mas a verdade é que eles nunca se foram, sempre estiveram nas sombras, esperando o momento certo, o jeito certo de se mostrar novamente, de trazer as pessoas pro lado deles.

Apesar de saber disso, ainda não consigo acreditar em como eles podem ser tão vis, tão dissimulados, mesmo que eu tenha visto do que eles são capazes. Não sei o que eu deveria esperar, mas nunca achei que iriam negar o que fizeram, mesmo com tantas provas. Não dá pra entender como esse tipo de gente pode ainda ter algum tipo de voz.

Agora a revolta tem queimado dentro de mim, como se eu fosse entrar em combustão. Não sei até que ponto tenho direcionado essa raiva a mim mesmo, pela minha inocência quase infantil de achar que tudo estaria resolvido quando claramente não estava. Mas entendo claramente as intenções por trás do que foi dito, da forma como foi dito, uma vez me alertaram sobre como eles usavam as narrativas como forma de manipulação, como isso os faziam poderosos.

Nos últimos anos, eu tenho evitado olhar pra trás, porque me machuca profundamente reviver o que aconteceu. Essas lembranças são como feridas que nunca cicatrizaram. Mas decidi falar da minha história, de como as coisas aconteceram de verdade. E se for necessário, eu vou reabrir mil vezes essas feridas, porque eu me nego a abrir mão da minha liberdade.

Não há mais medo que seja capaz de me silenciar.

Além da FronteiraWhere stories live. Discover now