Cupid is so Dumb

𝟸. 𝒞𝑢𝑝𝑖𝑑 𝑖𝑠 𝑠𝑜 𝑐𝑙𝑢𝑚𝑠𝑦

O adorável canto dos pássaros junto da tranquilizante toada da queda d'água, e a bela melodia ouvida ao longe produzida pela harpa do anjo musicista que vivia na mais alta montanha junto de seus aprendizes... e até mesmo a fragrância das mais diversas flores encontradas por toda a extensão do Jardim Celestial. Não havia melhor combinação existente para um anjo. O ambiente ㅡ não, o lar ㅡ perfeito criado pela Divindade.

O cupido novato de cabelos de fogo passava horas numa das cachoeiras do Jardim Celestial desfrutando o som harmonioso no tempo em que lia e relia seus preciosos livros de contos de fadas. A perfeita combinação de sons tornava extraordinariamente mágico a absorção das graciosas palavras descritas em linhas nas páginas amareladas com cheiro de paraíso. Todos os dias após suas aulas, o cupido voava para lá a fim de aproveitar seu tempo livre. E que tempo valioso! Mas bem, não há cachoeiras em Saiph, muito menos um anjo musicista. Contudo, felizmente, ainda era possível dispor do canto dos pássaros... e como era possível! Pois, cotidianamente, bem cedinho da manhã, uma família inteira de canários vinha na janela do cupido para acordá-lo com uma formosa canção. E por mais que Beomgyu apreciasse, seus pobres ouvidos ainda habituando-se ao novo ambiente sofriam um tantinho. Tão barulhento...

Nos dias que se seguiram, Beomgyu e Yongbok enfim deram início às suas respectivas missões. Porém, a relação entre ambos continuava tão fria quanto um gigantesco balde de gelo. Não se falavam e mal trocavam olhares. Jamais permaneciam por grande tempo no mesmo cômodo que o outro. Mas ironicamente, a refeição da manhã era feita naquela mesma doceria, juntos. Diariamente, sem falta. E em um desses dias, ao que se empanturravam de tortinhas e geleias, foram arrastados para fora pela orelha por uma severa Ahn Hyojin, que acabaram por descobrir ser a proprietária do local.

"Se continuarem a comer tantos doces assim terão cáries, ou pior, diabetes. Vocês são jovens demais para isso, precisam se alimentar de forma correta." ㅡ A mulher dizia como quem dá bronca em uma criança.

Naquele dia e nos posteriores, os cupidos descobriram novas iguarias da Terra que nem sequer sonharam poder existir. Os pratos salgados e até mesmo os picantes eram realmente de dar água na boca e agradeceram de joelhos à Divindade pela sabedoria e criatividade dada ao ser humano. E dentre tudo o que puderam experimentar, o que de fato mais apreciaram foi o "disco quente que estica", ou simplesmente "pizza". E é óbvio que o "disco doce", como optaram por chamar devido a pronúncia difícil do nome correto, tornou-se o favorito de ambos.

Anjos ou formigas?

Pobre de Ahn Hyojin que tentava a todo custo fazê-los comer de forma saudável...

Beomgyu e Yongbok separavam-se após a refeição da manhã e tornavam a se ver apenas ao fim do dia, quando retornavam ao lar temporário e novamente faziam juntos a refeição da noite. Nesse meio tempo, estavam atrás de cumprir suas missões. E exatamente nesse tempo, foi inevitável para Beomgyu perceber que os humanos raramente notavam sua presença, fazendo apenas ao falar diretamente com eles ou alto demais para ser ignorado. Fora essas pequenas exceções, era quase completamente invisível.

Sentia-se... triste. Triste por ser apenas um mero expectador no cotidiano daquela pacata cidade.

Nos primeiros dias de missão, Beomgyu apenas seguiu seus alvos. Queria ter a certeza de não estar cometendo um grande erro. Não que duvidasse que sua superiora fosse descuidada à ponto de trocar alguns nomes nos pergaminhos, era apenas cuidadoso demais ㅡ por ser desastrado demais. Conhecia bem o poder da flecha e qualquer erro poderia custar-lhe a liberdade. E não pretendia ser castigado e banido para o vazio, sendo esse o maior castigo que um anjo pode receber. E não desejava isso nem mesmo ao seu pior inimigo ㅡ Yongbok. Durante seu tempo na Escola Celestial, ouviu muitas histórias de cupidos que, no passado, usavam do poder de suas flechas a fim de causar confusões ao redor do mundo apenas por diversão. A fúria da própria Divindade recaiu sobre esses e os baniu para o vazio, de onde jamais poderiam retornar, e a partir disso, novas regras foram criadas. Tantos corações destroçados e amores perdidos... Era apenas cruel demais para o jovem anjo que almejava exercer tal ofício. À vista disso, procurava evitar qualquer erro mesmo que mínimo.