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depois do que ocorreu com chan, eu decidi que não jogaria nossos esforços no lixo. dois meses depois eu estava em um ônibus indo para outro estado.
sem meu melhor amigo.
eu tenho medo de que seja assim que o mundo funciona.
não é bonito, não é legal.
o mundo não funcionou para hansol e seungkwan.
não funcionou para chan e eu.
tem uma chance de não estar funcionando para você.
eu tenho muito, muito medo do futuro.
porque todas as pessoas que eu já amei se foram.
mas eu sabia que esse não era o fim da minha história. eu me recusei a aceitar que acabaria assim.
eu consegui um emprego cerca de três semanas depois de me mudar.
na época, eu estava no último ano do ensino médio e, de alguma forma, eu consegui me formar. consegui um emprego estável que pagava o suficiente e até consegui fazer uma faculdade pública.
eu também conheci pessoas legais.
eu conheci o mingyu, meu colega de trabalho que de algum jeito me lembrava chan. um ano e meio depois, conheci soonyoung e jihoon.
eu sorrio toda vez que olho para eles. gosto de pensar que eles são uma versão de hansol e seungkwan que deu certo.
minha história estava dando certo, embora não tivesse sequer um dia que eu não tenha pensado em chan do momento que eu acordo até o momento que eu deito para dormir.
e doeu.
doeu muito, porque chan é a parte que falta da minha alma.
ele é minha outra metade, e ele só sumiu.
sequer deixou para trás uma pista de onde ele poderia estar quando se foi, porque se ele tivesse deixado, eu juro que percorria o país e até o mundo todo para achá-lo.
mas não, não tinha nada que eu pudesse fazer.
e, se ele voltasse para onde morava, também não teria uma dica de como me achar, porque eu não deixei nada para trás.
quer dizer, além de memórias e umas roupas que não consegui levar comigo, eu não deixei nada.
quando eu era adolescente, eu achei que com o tempo, com os meses, eu estaria me acostumando com a ideia de não ter mais minha outra metade nem meus dois amigos.
mas o problema é que quando você é criança, você não aprende como lidar com a perda.
eu não sei lidar.
por isso agora estamos no início dos anos noventa, eu já estou na casa dos vinte e não me acostumei.
todo dia eu olho para a coleção de hansol e fico mal por ele e por seungkwan. todo dia vejo uma das poucas fotos que eu e chan tínhamos juntos e fico á beira das lágrimas.
eu estava no meu horário de almoço em um restaurante barato quando vi o garçom trazer meu pedido.
e quando olhei para cima, foi como se um choque percorresse todo o meu corpo.
lee chan.
a pessoa que eu achei que nunca fosse ver na vida novamente.
e talvez ele tenha ficado tão surpreso quanto eu, porque ele segurou no ar o prato que estava quase colocando na mesa por cerca de vinte segundos - que pareceram muito mais.
e então, finalmente começou a chorar.
chan sempre foi melhor do que eu com emoções, porque eu continuei paralisado até que ele me abraçasse - e quase me derrubasse da cadeira que eu estava sentado.
quando nos encontramos novamente, com mais calma, dois dias depois, chan me atualizou de tudo que aconteceu.
seus pais acharam seu diário e, na mesma madrugada que devíamos fugir, eles se mudaram.
chan continuou economizando dinheiro e, assim que completou dezoito anos, saiu de casa e veio para o estado que dissemos que iríamos vir quando fugissemos.
acontece que - novamente - o mundo não estava ao nosso favor.
ele estudava de manhã, trabalhava de tarde e tinha a noite livre - onde costumava passear na esperança de me encontrar em algum momento.
já eu, tinha a manhã livre, mas trabalhava de tarde e estudava de noite.
acontece que recentemente ele conseguiu um novo emprego como garçom desse restaurante, que acontecia de ser perto do meu trabalho, e ai finalmente conseguimos nos encontrar.
o mundo funcionou para nós pela primeira vez.
mais alguns dias depois, eu o apresentei para soonyoung, jihoon e mingyu. eles se deram surpreendentemente bem e eu finalmente senti que minha vida estava completa.
pela primeira vez, eu estava bem.
as memórias para mim eram como filmes. eu ainda lembrava das coisas que aconteceram com frequência.
todos os meus amigos, todas as pessoas que eu me apaixonei no caminho, todas as pessoas que eu conheci.
hansol e seungkwan.
eu espero que todos tenham conseguido seus finais felizes no fim.
eu espero que em outra vida, hansol e seungkwan tenham conseguido viver com calma e tenham conseguido demonstrar seu amor um pelo outro.
eu ainda tenho medo das coisas desmoronarem, mas, por agora, as coisas estão muito bem.
eu e chan estamos bem. estamos felizes.
estamos conseguido viver muito bem.
minha história ainda vai durar muito mais, mas esse é o fim dessa história.
