prólogo.

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oi, malucas.
pela primeira vez tomei coragem para soltar essa história que estava montada
na minha cabeça a um certo tempo.

espero que gostem!



Depois de meses deploráveis com pura falta de criatividade para finalizar seu álbum, Alexandre buscava ideias e composições antigas que havia guardado no seu bloco de notas, porém, nenhuma de suas composições foram escolhidas para entrar em seu mais novo repertório.

São tantos anos trabalhando no ramo da música e nunca tinha acontecido tantos bate-cabeça para finalizar um repertório.

Sim, era um álbum de MPB.

Buscava memórias em seus pensamentos, acontecimentos do passado, decepções amorosas, e fases tristes que passou na vida enquanto passava os dedos nas cordas do seu violão.

Alexandre, estava em seu mini estúdio que ficava em seu apartamento no centro de São Paulo. O Barulho das ruas movimentadas da cidade já virou algo habitual, isso não atrapalhava o músico em nada.

No seu álbum havia onze músicas finalizadas. Uma delas que foi bastante debatida com seu parceiro Saraiva foi a música "Virulência". A música era forte, agressiva de forma passiva. Falava sobre revolta, incertezas do músico diante de tudo que vinha acontecendo com o Brasil nos últimos tempos. Quando Nero escreveu virulência, ele estava passando por um momento turbulento e revoltado com a situação do País.

Saraiva, não queria que a música fosse para o mercado musical. Nero, sempre muito rígido, orgulhoso, bruto, batia o pé dizendo que não retiraria a canção do repertório.

"que falta nos faz a paz.
que falta nos faz um país."

(Refrão de virulência)

No final da tarde, Alexandre recebeu uma ligação do seu amigo Saraiva para jantar em um restaurante na cidade.

O músico pensou em recusar por querer focar em terminar seu álbum o quanto antes, mas ele acabou aceitando e também precisava ver o mundo lá fora, respirar o ar gelado - poluído - da cidade movimentada.

Por fim, trinta minutos antes do horário combinado, Alexandre já estava se arrumando para encontrar o amigo e estava bastante curioso para saber o motivo desse jantar de última hora.

O músico estava parado em frente ao espelho enorme que tinha em seu closet. Ele usava uma camiseta polo preta com as golas baixas, na parte de baixo usava uma calça jogger da cor preta que também combinava com sua camiseta, nos pés usava um tênis branco da vizzano.

Estava um verdadeiro pecado! Um diabo.

***

Alexandre estacionou seu carro na rua em frente ao restaurante. Era um ambiente bonito, rústico, com luzes e com um pouco de natureza carregado com flores verdes dentro do lugar. Procurou o Saraiva com os olhos no meio de algumas pessoas, e avistou o produtor acenando com a mão fazendo um sinal, o músico avistou ele no fundo do restaurante e foi até ele rapidamente.

- Finalmente saiu de casa! Estou me sentindo lisonjeado com a tua presença. - disse Saraiva enquanto abraçava rapidamente o amigo.

- Para de ser exagerado. - o músico soltou uma risada sem graça.

Se sentaram na mesa. Alexandre se sentou de frente para o amigo e logo após o garçom chegou cumprimentando ambos, e oferecendo o cardápio de entrada.

Cada um fez seu pedido e rapidamente o Alexandre iniciou o assunto para matar sua curiosidade sobre o motivo desse jantar.

- Diga-me o motivo desse jantar. Tu não veio me pedir em casamento não, né? - franziu o cenho com um sorriso de canto.

- Será? - o produtor disse fazendo os dois cair na risada. - Não. Não vim te pedir em casamento. Tenho uma novidade pra você.

- UAU! Me conte mais dessa novidade. - arrumou sua postura na cadeira se mostrando interessado na conversa.

- Então, Nero. Hoje eu recebi uma ligação do Marcelo Serrado. Ele vai abrir uma gravadora no Rio, na verdade já abriu né, mas vai fazer uma grande festa de inauguração e convidou alguns artistas e você é um deles. - apontou para o mais velho na sua frente.

O Marcelo era um dos amigos que o Alexandre conheceu na faculdade, fizeram o ensino médio juntos, basicamente tudo juntos.

O pai do Marcelo era um grande produtor musical, e sempre ajudou o Alexandre a focar em sua carreira musical, o ajudou a tocar alguns instrumentos e tudo mais.

Como o Alexandre perdeu os pais cedo demais, o pai do Marcelo acabou virando um segundo pai pra ele.

- Que bacana isso! - falou com o semblante animado. - Mas amigo, eu não finalizei meu álbum ainda. O que diabos eu vou fazer no meio desses artistas que eu nem sei quem são. - cruzou os braços se encostando na cadeira.

- Calma! Primeiro, você vai ter que terminar esse álbum, não precisa ser agora e você não vai cantar sozinho. - o músico se mexe na cadeira se mostrando confuso. - Segundo, você conhece esses artistas que irão se apresentar junto com você.

- Tem como você ser mais direto? Antes que eu quebre esse copo na sua cabeça! - rebateu confuso.

- Chico Buarque e Milton Nascimento. - o produtor viu os olhos do seu amigo ficar arregalados depois de ouvir os nomes citados.

- Nem fudendo! - passou a mão na barba grisalha que ainda estava por fazer. - Assim, eu não sou porra nenhuma perto desses caras, Saraiva. Puta que pariu! Acho que preciso de uma água. - fez um sinal chamando o garçom.

Alexandre é um grande fã da música brasileira, gostava como ninguém de MPB e Bossa-nova. Milton Nascimento e Chico Buarque são duas referências para Nero.

O músico já havia encontrado com o Chico Buarque em um evento na cidade. Milton Nascimento continuava ainda sendo um sonho do músico o encontrar e quem sabe um dia gravar uma música juntos.

Estava prestes a realizar um sonho.

- Sexta-feira. - disse o produtor. - Leva algumas roupas à mais. Provavelmente vamos passar o fim de semana lá.

- Tá... Mas eu vou cantar o que? - franziu o cenho. - Meu repertório não está finalizado, não tenho nada em mente.

- Ué, usa suas músicas que tem guardadas. Você tem muitas composições boas, Alexandre. Lindas até demais! Não vai ser apenas uma apresentação, quem sabe isso possa mudar sua vida de alguma forma. - soltou um riso sarcástico.

Alexandre estava desde de sua adolescência na música. Começou tocando em bares, teatros, eventos da escola, até mesmo na formatura da faculdade. Ele era conhecido regionalmente. Por onde você passar e perguntar quem é o Alexandre Nero, todos sempre uma boa história dele para contar.

Era um verdadeiro galanteador, tímido e charmoso.

corcovado | GNWhere stories live. Discover now