Capítulo 23

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Puxei a cortina da vidraça ao lado da porta e por pouco não deixei minhas flores caírem quando uma moça de olhos quase brancos aproximou o rosto para me olhar também. Caramba! Repousei a mão sobre o peito como se isso pudesse acalmá-lo.

Como aquela garota sabia que eu a estava olhando por ali? Juro que tinha sido bem discreta.

Eu não tinha muitos motivos para olhar pela cortina já que a casa não é vista por quem me deseja o mal, mas também não estava a fim de receber determinadas pessoas. Girei a chave e abri para a mulher do lado de fora.

— Ai! Mil desculpas! Eu quase a matei do coração. – ela largou uma maleta no chão ao lado da porta e se aproximou oferecendo-me a mão em um cumprimento. Maleta? Essa pessoa seria algum parente muito distante de mudança para a minha casa? Fiquei pensando nisso enquanto apertava sua mão. — A senhorita me perdoa? – ela soltou os cabelos acobreados de um coque bem estruturado.

— Claro!

Eu ainda a olhava como se tivesse vindo de outro mundo. Juro! Essa garota falava com bastante empolgação e parecia ter energia suficiente para ser armazenada e distribuída. Seus cabelos eram quase ruivos contrastando com sua pele bem branca e com algumas sardas e os olhos praticamente brancos. Talvez fossem azuis ou cinzentos, mas tão sem pigmentação que pareciam transparentes. E como eu poderia não acha-la diferente?

— Está impressionada com os meus olhos? – ela inclinou o rosto como se fosse uma celebridade e como sempre eu resolvi ser sincera.

— Sim. Não só com isso. Você parece tão animada, tão cheia de energia que me contagia. É incrível como você parece ser tão feliz e eu percebi isso, mas ainda nem sei seu nome.

— Kamille Fay, mas pode me chamar de Kami, ou Mille ou Kam, fica a seu critério. Em alguns dias, talvez, eu consiga lhe explicar os motivos de eu ser tão exagerada. Maya pediu que eu viesse lhe instruir sobre tudo que for necessário e, por isso, trouxe a maleta. Você se importa se eu ficar por aqui?

— Claro que não, Mil. Acho que mil combina bastante com você, a mil por hora. O que acha? – ela riu e concordou. — Eu tenho faculdade durante a semana, mas acho que você não vai se sentir sozinha.

— Ah, eu sempre me viro.

— Como disse que é o seu sobrenome?

— Fay.

— Você tem algum parentesco com uma senhora chamada Elizabeth? – ela confirmou com a cabeça e explicou que era uma descendente bem distante daquela, mas que, coincidentemente, tinham a mesma função no mundo da magia. Função esta que Mil não quis me explicar por enquanto. Talvez ela tivesse um cronograma a seguir.

Gostei dela. Sei que costumo ir devagar com as pessoas que conheço, mas esta é a minha primeira impressão. Mil era muito simpática, simples e parecia agradável. Espero que não me decepcione do mesmo modo que Eric fez.

— Você pretende começar hoje mesmo ou já é muito tarde?

— Você quem sabe. Tenho que ser sincera e dizer que estou um pouco ansiosa para aprender coisas importantes até porque não quero fazer feio na cerimônia de coroação. – fechei a porta de casa e caminhei na direção do sofá.

— Não querendo te pressionar, mas acho difícil uma herdeira fazer feio na coroação. Vocês sempre são escolhidas a dedo e sempre possuem uma aura bastante especial. – fiquei lisonjeada com o comentário. — No seu caso dá para perceber o quanto é adorável, compreensiva e sincera. Um pouco de graça misturada ao seu temperamento forte. Tenho uma intuição muito, muito, muito aflorada, Kat. E esse é um dos motivos para ter muita energia porque eu acabo sentindo um pouco de todo mundo.

A Maldição Gricem (Livro 2 - Saga A Herdeira)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora