Nostroar

Capítulo 14

Heyden

Mesmo que digamos sempre que o passado está lá atrás, inevitavelmente lembranças dele vem até nossas mentes. Boas ou ruins, não importa, são memorias que ficaram marcadas de alguma forma, e uma delas é de quando conheci ela, a garota que iria se tornar o amor da minha vida.

Assim que entrei para a segunda série do fundamental, sendo um novato por completo, logo fui subjugado pelos valentões da turma. Foram longas semanas que sofri diariamente na mão deles, mas tudo mudou quando ela apareceu.

Geralmente nesse momento é o garoto que ajuda a donzela em perigo, mas aqui foi completamente o contrário. Samantha havia voltado de duas semanas de suspensão e ao ver os garotos insultando comigo ela veio ao meu resgate.

A maioria dos meninos ficariam com vergonha de serem salvos dessa forma, afinal nós que deveríamos proteger elas, e não o contrário. Quando olhei em seus olhos, e ouvia ela me perguntar como eu estava, confesso que dentro daqueles olhos vi e senti algo que nunca havia visto ou sentido antes.

Eu era muito novo para entender aquele sentimento. Desde aquele dia somos melhores amigos, mas com o passar o tempo eu que passei a proteger ela, como retribuição.

Tivemos muitas aventuras com o passar dos anos, mas nunca passamos do que estávamos propostos a ser um ao outro. E agora isso havia mudado, como eu queria ter percebido esse sentimento mais cedo, como queria ter sido mais esperto.

Quando se cresce com pais que não ensinam nada sobre como o mundo funciona, ou os problemas da vida em si, crescemos fracos e lerdos.

Ainda aceitamos o trabalho na boate. Mesmo que ganhássemos em um dia o que ganharíamos em anos, eu queria poder ter uma vida um pouco mais normal. Saber como é trabalhar com algo que fosse legal.

Convenhamos, trabalhar em uma boate não é exatamente como as pessoas imaginam. Na verdade, chega a ser superior. Pelo menos de acordo com o que eu imaginava antes.

Ser bartender na Eros era uma sensação completamente boa e diferente. Não era como as boates do Brasil, que eram simples e sem sal. Na Eros nós realmente entendíamos o porquê de ela ser esse nome.

Claro, isso foi depois de aproveitar os três dias e tomar minha decisão final sobre o que iria querer.

∆

— Então, onde vamos essa noite?

Dryca era a única já arrumada entre nós. E para ser sincero eu estava igual a ela, sem saber o que faríamos. Hory disse que iriamos passar a noite fora, na tentativa de fazer eu me decidir.

Volto para meu quarto e me olho novamente no espelho. Não importava quantas vezes eu me olhava, eu percebia sempre que meu estilo havia mudado por completo agora. A maneira de me vestir, pensamentos de vida e futuro, até mesmo as prioridades. Tudo havia mudado.

Um estilo mais simples, porém, sofisticado era como eu me apresentava agora. Uma calça bege e uma camisa social preta, juntamente de um relógio prata com detalhes em preto no seu interior.

Ouço alguém entrar no quarto, mas contínuo parado ali no espelho. Enquanto arrumava as mangas e a gola da camisa, lentamente Samantha aparece no espelho, me olhando com um leve sorriso de lábios fechados.

Eu a olhava e sorria, mas ela não percebia isso. Isso não era comum entre nós, mas agora havia se tornado bastante. Estalo meus dedos para tomar sua atenção a mim, ao invés da roupa.

— Como estou? ­— Pergunto sorrindo e abrindo levemente os braços.

— Você está perfeito, não há palavras para descrever sua beleza nesse momento — Respondia sorrindo enquanto se aproximava.

— Que romântica, você não era assim — Sorrio enquanto pego em sua cintura e trago seu corpo para mais próximo de mim.

— Os tempos mudaram, né?

Nossos lábios estavam tão próximos, podia sentir sua respiração tocar meu queixo, quente e fraca. Passo minha mão pelos seus cabelos e coloco uma pequena parte atrás de sua orelha.

Seus olhos se fecham morosamente. Suas bochechas coram de forma sutil. A sensação que eu sentia enquanto observava ela era inexplicável. Meu coração acelerava como um carro de F1, e a vontade de tocar seus lábios com os meus era imensa.

— Sim, tudo mudou.

Paro de pensar e apenas permito que meu coração me guie. Nossos lábios se tocavam de forma gentil e delicada. As respirações se tornam ofegante e quente.

Suas mãos ao redor de minha cintura me traziam para mais perto, deixando nossos corpos aderidos por completo. Levo minha mão até sua nuca e a deixo ali, passando meu dedão de maneira suave sobre ela.

Nossas línguas se tocavam da maneira mais intima possível. Com desejo, mas mantendo a delicadeza. Começamos a andar até encostar em um dos armários no closet, paramos brevemente e nos olhamos nos olhos.

Seus olhos estavam sedentos e querendo mais, inteiramente apaixonados por mim.

— Desculpe atrapalhar, mas está na hora de irmos.

Hory aparecia no closet e falava aquilo, saindo logo em seguida. Não queríamos parar, mas por apenas aquele momento iriamos.

— Mais tarde? — Ela me pergunta, meio envergonhada.

— Seu desejo é uma ordem, My Lady.

Ela sorria e me beijava novamente. Apenas um rápido beijo, e saia do quarto puxando minha mão. Quando chegamos na cozinha Hory estava mais produzido do que nunca.

Uma calça preta com cinto da mesma tonalidade. Camisa preta social e seu cabelo completamente bem arrumado e penteado para trás. Era a primeira vez que o via daquele jeito.

Andávamos até o elevador e descíamos juntos até o estacionamento. Assim que a porta de abre Sam e eu caminhávamos em direção ao carro, mas para nossa surpresa, não iriamos nele.

Hory grita nos chamando, então percebemos que eles não estavam junto a nós. Quando viramos nosso rosto podíamos vê-lo encostado em outro carro. Era o carro que sempre desejei. O que sempre comentei com ele que quando pudesse iria comprar.

Audi Rs6. Ele estava com o carro que era minha paixão por anos. Caminho até ele sem acreditar, meus olhos olhavam para cada parte, cada detalhe, cada mínimo detalhe nele.

Os símbolos Rs6 na traseira. Aquelas rodas Avant, não acredito que ele havia comprado esse carro. Aqui nos EUA poderia ser mais fácil, mas há tantas coisas para se fazer, e ele já tinha um carro próprio. A não ser que...

— Venha irmão, pilote sua nova aquisição.

Meus olhos rapidamente passam para ele. Eu não podia e nem conseguia acreditar nisso. Eu provavelmente estava sendo muito mimado desde que cheguei aqui. Apartamento de luxo, roupas, dinheiro quase que caindo do céu. E agora o carro dos meus sonhos.

Queria muito poder aceitar, mas não há méritos nisso, não conquistei por mim, não foi eu. Mas ao mesmo minha mente queria apenas sentar e apreciar essa oportunidade. Por uma noite não mata né?

Abraço Hory com força e o aperto o mais próximo de meu corpo. Suas mãos se conectam em minhas costas e alguns tapas leves são dados nela.

Entramos no carro e íamos até outra boate. Nenhum de nós conhecia, mas não era bem verdade, Dryca e Hory estavam bem animados para chegar lá.

Durante o caminho todo eu olhava e notava o quanto esse carro era sensacional. Todos os detalhes internos, as cores, o conforto indo além do que eu jamais havia tido antes. E a sensação nesse carro, era como se eu não precisasse de mais nada.

O caminho havia sido longo, mas ao chegar podia ver que a espera teria valido a pena. Diferente da Eros, aquilo era ainda maior, e mais trabalhada externamente.

A boate com as luzes mais atraentes e músicas sem fim ou pausa. O lugar onde muitos vinham se divertir ao extremo. Não era apenas a sensação de prazer ou tesão, ia além disso, havia sentimento. Essa era a Destiny, o lugar que mudou minha vida.