05

32 13 5
                                    

a noite estava diferente naquele fatídico dia.

como todas as madrugadas, peguei a vela derretida e iluminei sua cama vazia. o vento gelado lá fora anunciava crisalidas petrificantes e eu já imaginava seus cílios cobertos de neve.

atravessei o cercado que dividia nosso pequeno mundo mágico do resto do universo e adentrei a floresta. meus pés descalços congelavam e escorregavam no musgo e no líquen, mas eu conseguia ver indícios das suas pegadas pelo caminho.

soube durante aquela madrugada de lua cheia algo que neguei ao meu coração desde que te conhecia: que te perderia para a selvageria do mundo lá fora, porque ela se parecia muito mais com as mordidas que você dava na lua do que com as das folhas da estufa, cheias de predadores minúsculos.

quando te avistei, agachada atrás dos arbustos, sua camisola prateada brilhava à luz da lua. havia flores e folhas mortas espalhadas por seus cabelos negros e uma fome insaciável tomando conta dos lábios arroxeados pelo frio. você também estava descalça, hipnotizada pelo buraco de coelho na toca da árvore, cheio de musgo e líquen.

"yves"!

eu te perdi antes que meus dedos pálidos se estendessem por completo através da neblina, e só aquele medo de virar para trás e ver o céu apagado de estrelas me fez ficar plantada fitando o vazio até os primeiros raios da manhã.

𓆣

missing baby.Donde viven las historias. Descúbrelo ahora