Capítulo 1

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Isso não me parece bem. Eu não estou bem nisso. Um vestido preto, comprido, com mangas largas e uma cintura bem definida. Talvez o problema seja só a manga... ignore isso. Coloco uma jaqueta jeans para disfarçar as mangas.

- Filha, já está terminando? Lembrando que se atrasarmos para a formatura da sua irmã ela te mata! - gritava a mamãe. - E aí de você se você vestir de novo aquele moletom imundo e aquela calça horrorosa.

- É só uma roupa! - grito. Por que ela simplesmente não me deixou ir do meu jeito? Por que tudo ela quer do jeito dela? É só um moletom preto escrito New York e uma calça larga! Isso me irrita.

Ouço os passos dela a caminho do meu quarto. Estou calçando ( ou tentando calçar ) meu All Star azul marinho de cano alto. Minha mãe abre a porta.

- COMO ASSIM VOCÊ AINDA NÃO SE MAQUIOU?! - eu sinto que vai ser ela que vai me matar, não a Alice.- VAI SE MAQUIAR.

Entro no banheiro do meu quarto e lá avalio aquela desgraça de roupa enquanto passo uma sombra e um delineador. Pelo menos ela não viu o All Star. Meu cabelo está curtinho como sempre. Foi a última coisa que papai me deixou fazer, acho que por isso aquela mulher deixa eu cortar dessa maneira. OK, definitivamente não combina comigo, mas quem sou eu para contrariar Luciana de Albuquerque Pimentel?

Mesmo me sentindo estranho e desconfortável, vou até o carro e entro, esperando minha mãe. Quando ela chega, ela não questiona nada, apenas com aquela cara de estressada. Resumindo: a gente não falou nada até chegarmos na escola da Alice.

- Se você fizer qualquer burrada você...

- Tá mãe, eu já sei.

A gente vai até a quadra, onde seria realizada a cerimônia de formatura do terceiro ano. Daqui dois anos será a minha vez. Se ao menos eu não fosse tão burro e não tivesse repetido o nono ano... Talvez seja por isso que aquela mulher me odeie tanto.

Eu fico sentada na arquibancada por um bom tempo, quando de lá avisto a minha irmã, lá no auge dos seus dezessete anos. Ela está usando um vestido azul marinho, com detalhes em dourado. Lice também tem está usando sapatos de salto alto e uma jaqueta, ambos branco. E eu não sei como ela está impecável com aquele delineado.

- Oi Marina! - fala a mesma. Marina... ela sabe que eu odeio que me chamem por esse nome. - A mamãe te obrigou a ir com esse vestido? Porque se não você finalmente tem bom gosto... - Mostro-lhe o dedo do meio- mas ainda continua com atitude de ralé... isso é repugnante.

- Você - digo entoando bem a voz- é a repugnante aqui. E esse me dá licença eu vou ao banheiro. Muito obrigado.

Eu saio bem calmo de lá, andando como um modelo. Entro no banheiro e me deparo com Guilherme Cunha, mais conhecido como o meu melhor amigo extremamente apocalíptico, me encarando.

- Pierre, Pierre...você tá horrível nesse vestido.

-Obrigado e eu sei disso. Trouxe roupas? - Parece estranho, mas eu geralmente pego as roupas dele "emprestadas" e uso-as no dia. A gente fazia isso desde o meu segundo nono ano e quando a minha mãe descobriu isso ela me matou. Ou melhor dizendo, quase.

- Óbvio. Eu não ia furar com o meu melhor amigo. - Ele tira umas roupas de uma mochila dele.

Pego as roupas e vou me trocar. Uma camiseta preta e uma jeans reta... e esse moletom cinza... ele é simplesmente o melhor amigo que alguém pode ter. Saio da cabine.

- Eae, como eu tô?

- O cara mais gato de Higienópolis. Então... eu e umas pessoas vamos pro terraço agora. Quer ir com a gente?

Tem tudo certo para dar erradoWhere stories live. Discover now