Capítulo 27 | Sofrimento

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Pai: es-escute...Suy...Suyen. ― ele faz mais um esforço, para que a sua voz não soasse tão baixa, como um sussurro. ― a-a...a minha hora...che-chegou, minha fi...filha. ― tenta manter as suas pálpebras abertas, para que me olhasse durante essa sua declaração repleta de sofrimento. ― por-por isso...quero que...que tome o meu lugar...no comando...do Reino. Si-sim? ― ele solta a minha mão e a leva ao meu rosto, enxugando algumas de minhas lágrimas enquanto acariciava aquela região vagarosamente. ― es-está...na hora de você...se tornar...a-a...a Rainha deles, me-meu...meu tesouro. ― eu fecho os olhos, inclinando levemente a minha cabeça na direção de seu toque suave. ― hon-honre...o meu...legado e-e...e faça...o seu, tudo...tudo bem? Vo-você...você será uma...uma ótima Rainha. Nun...nunca deixe que...que lhe...lhe digam o...o contrário...ouviu-me?

Suyen: si-sim, pai. Ma-mas...-

Pai: e-eu...sempre estarei...contigo, mi...minha filha. Ma-mas...em espírito. E...em físico...dei...deixarei o...o Toya...para cuidar de ti...minha filha. ― afirma, deixando o meu estômago ainda mais embrulhado com tais palavras. ― se-sei que...que não gosta...dele, mas...mas, eu lhe...lhe confiei à ele, Suy...Suyen.

Suyen: eu...eu lhe entendo, pai. Mas...-

Pai: saiba que... ― sua respiração cessa e logo as suas pálpebras se fecham, definindo o pior que poderia vir a acontecer. ― ...eu te amo, minha filha.

Com um último suspiro, o meu pai proclamou aquelas palavras, as quais não tinha o hábito de proferir à minha pessoa.

Embora eu torcesse para ser mentira, a sua mão escorregou pela minha bochecha e, sem qualquer força existente, desabou-se sobre o colchão daquela cama e seus lençóis macios. Paralisada, lágrimas voltaram a escorrer pelo meu rosto, enquanto eu ainda me via desacreditada perante a tragédia que acabara de acontecer.

Suyen: pai...? ― sussurro, chamando-o ainda sem uma reação certa. ― pai? Pai, por favor! Por favor, fala comigo! Pai?! ― levo as minhas mãos até o seu rosto, movimentando-o desesperadamente para que ele abrisse mais uma vez os seus olhos e eu pudesse reconhecer aquele brilho castanho lindíssimo. ― não, não, não, não, não! Pai! PAI ACORDA! FALA COMIGO! ACORDA, PAI! ACORDA! ― escuto as portas atrás de mim serem abertas e logo alguém me cerca com os seus braços, retirando-me à força de perto do meu pai. ― ME SOLTA! PAI! PAI FALA COMIGO! ACORDA! ACORDA E FICA AQUI COMIGO! PAI! NÃO, PAI! ― grito desesperada, lutando contra os braços que me mantinham imobilizada. ― EU QUERO O MEU PAI! QUERO O MEU PAI DE VOLTA! PAI! PAI, VOLTA! PAI! ― os médicos voltam para aquele quarto às pressas e, com uma toalha, cobrem o rosto de meu pai. ― NÃO! NÃO FAÇAM ISSO! SAIAM DE PERTO DO MEU PAI! PAI! PAI, ACORDA! POR FAVOR! PAAAIIII!

Médico: melhor tirá-la daqui, Rei Toya. E, por favor, tente acalmá-la. ― aconselha, como se eu precisasse me acalmar.

Suyen: NÃO! NÃO! NÃO! ― arranho os braços que me seguravam, tentando de todas as formas não ser levada dali, mas havia sido tudo em vão. ― pai, não...o senhor não. ― digo mais calma, desistindo de resistir à toda aquela força que o Toya utilizava para me manter em seus braços, imóvel. ― por quê?! por quê?! POR QUÊ?! ― sinto o meu corpo ser trazido até outro, em um abraço mais do que necessitado. ― não...NÃO, NÃO! ― o meu tronco é cercado pelos braços do Toya e eu, sem qualquer força restante, me apoiei nele. ― pa-paaiii...nã-não! Meu pai...meu pai, não! Nã...não! E-eu...eu não mereço isso, não mereço.

Toya: shhh... ― os seus lábios um tanto frios selam a minha testa, enquanto os seus dedos desembaraçavam delicadamente os meus cabelos cacheados, em uma carícia relaxante. ― vai ficar tudo bem, 'tá? Eu estou aqui, minha princesa. Eu estou aqui, ouviu? ― eu respiro fundo, tentando me acalmar, embora o choque tenha sido grande demais para ser digerido tão facilmente. ― o seu pai te amou, e vai continuar lhe amando, não importa onde ele esteja. ― beija a minha testa mais uma vez, acalmando-me de pouco em pouco.

A Princesa e o GuerreiroWhere stories live. Discover now