O Laboratório

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Ainda não eram seis horas da manhã quando Leonardo Machado se encaminhou ao prédio do Laboratório de Biologia da Universidade, descendo as escadas para a sala no porão onde a equipe do Dr. Eugênio Vilela conduzia suas experiências.

Esperava encontrá-la vazia, mas ao se aproximar, a primeira coisa que chamou sua atenção foi a porta entreaberta. A trava era automática, e sua abertura só era possível com um código de acesso numérico e a leitura biométrica de digitais e retinas de uma das seis pessoas autorizadas. Mas esta manhã havia algo impedindo que a porta se fechasse.

Foi com grande horror que Leonardo descobriu uma cabeça morena bloqueando a porta. Uma poça de sangue não deixava dúvida de que a pessoa estava morta.

Como não podia alcançar o interruptor dentro do laboratório sem passar pela vítima caída, ele acendeu a lanterna do celular. O foco de luz caiu sobre o rosto pálido da Dra. Helena Sampaio, médica neurologista, e uma das chefes da equipe de pesquisa deste departamento.

Leonardo conferiu rapidamente a ausência de pulsação, sem deixar de notar o corte na jugular, por onde o sangue escapara.

Já começara a discar o número da polícia, quando seus olhos encontraram a tela acesa do computador principal, onde o sinal do sintetizador de voz do Dr. Eugênio piscava ininterruptamente, indicando que ele tentava se comunicar.

Sem saber como teve presença de espírito para pensar nas precauções – talvez memória muscular da rotina diária naquele laboratório –, Leonardo enfiou a mão no bolso externo da bolsa estilo carteiro, puxou um par de luvas cirúrgicas e calçou-as, antes de empurrar cuidadosamente a porta do laboratório para entrar, sem tocar no corpo da médica.

Com as luzes acesas, ele percebeu que nada no laboratório havia sido mexido – ao menos, aparentemente –, exceto o computador, cujos autofalantes haviam sido silenciados. Ele entrou devagar, tendo o cuidado de não pisar em nada que prejudicasse o exame pericial, e se aproximou do computador, afastando delicadamente a cadeira para um lado. Ao reativar os autofalantes, a voz mecânica, porém trovejante do Doutor ecoou pelo laboratório, através do sintetizador de voz do computador.

– ... alguém aí?

– Doutor! – exclamou o rapaz. – Estou aqui.

– Finalmente! – disse o Doutor. – O que aconteceu?

– Uma coisa horrível, Doutor. A Dra. Helena está morta.

– Como?

– Aparentemente, um corte na jugular. – Leonardo contou resumidamente as circunstâncias em que ele descobrira o corpo da médica. – Preciso avisar à polícia. Sinto muito, mas é necessário.

– Eu compreendo, meu filho – disse o Doutor. – Esta é uma situação que não temos como contornar. Faça isso, mas fique aqui, e me conte o que houve.

Leonardo fez a chamada, ali mesmo, diante do computador, e em seguida dirigiu-se novamente ao Doutor, sem se atrever a tocar em nada.

– Conte-me agora, o que aconteceu? – indagou Eugênio. – Mexeram em alguma coisa? Nas nossas pesquisas?

– Tudo está aparentemente no mesmo lugar em que foi deixado ontem à noite – respondeu Leonardo. – Não abri os arquivos para checar se levaram algum relatório, mas superficialmente, o laboratório parece intacto.

– Está usando luvas?

– Sim.

– Então abra os arquivos e confira se falta alguma coisa.

O rapaz obedeceu, tendo ao caminhar até o arquivo o mesmo cuidado que tivera ao se aproximar do computador. Não estava totalmente familiarizado com o andamento de todas as pesquisas, mas pelo que pôde verificar, não parecia haver qualquer pasta faltando.

O LaboratórioWhere stories live. Discover now