Por causa desses convites fiquei bastante amiga das senhoras de Aurélia, muito mais simpáticas e receptivas que suas filhas. Eu até tentava fazer amizade com as poucas jovens de nossa vila, já que a maioria das que estudaram comigo seguiram caminhos para longe de Aurélia, porém não tinha sucesso já que me olhavam de nariz torto sempre que puxava alguma conversa. Depois de virar querida entre algumas irmãs solteiras da igreja, senhoras um pouco mais velhas, e ajudá-las a achar um par, fiquei conhecida como Anjo Casamenteiro pela vila. Apesar da maioria achar esse apelido engraçado, para as meninas eu era apenas uma intrometida na vida alheia. Por isso, meu ciclo de amizades mais jovens sempre se restringiu ao Filippo e, agora, a Hanna.

Depois de tirar o restante do dia de ontem para descansar (vulgo dormir) e assistir Dorama com o papai, eu estava renovada. Não deixaria me abalar pelo passado, afinal, se olharmos para a bondade de Deus em nossa natureza caída, veremos que temos mais coisas para agradecer do que reclamar. Então, decidi ir para a varanda e pintar novos quadros, enquanto observava as árvores repletas de flores que envolviam minha propriedade. Isso sempre me animava.

— Oi, Emma! — Enquanto coloria os lírios com uma mistura de tintas, fazendo uma cor única, ouvi a voz acolhedora do meu amigo.

Levantei a cabeça e ele caminhava apreensivo em minha direção. Seu olhar ia de mim a natureza que nos rodeava. Suas roupas eram as de sempre, camisa básica por baixo de outra de manga 3/4 por cima e aberta; calça jeans e botas surradas e, claro, sempre com seu boné inseparável. Embora simples, meu amigo normalmente chamava atenção por onde passava, sua presença não era algo que dava para ignorar e penso que ele era o outro motivo das jovens daqui não se aproximarem de mim, já que era um dos pretendentes mais requisitados da região.

— Olá, Filippo. Tá tudo bem? — perguntei, para o ver franzindo a testa em seguida.

— Você não está chateada comigo? — perguntou revezando entre olhar pra mim e para o chão, com o semblante confuso.

— Por que estaria?

— Você foi embora sem se despedir ontem e, não sei, o silêncio que ficamos depois de sair no galpão... Enfim, você não é assim, Emma. Em seu estado normal, no mínimo, teria ido encher meus ouvidos com perguntas, enquanto me cutucava até eu responder todas elas. Aconteceu alguma coisa? — Se aproximou mais de mim e pude notar sua sincera preocupação.

— Está tudo bem, Filippo. Você sabe que as crises me deixam um pouco confusa depois que se vão! — contei parcialmente a verdade, dando um leve sorriso.

— Tem certeza? — Cruzou os braços e sentou na cadeira que compunha a mesa da varanda, ficando de frente pra mim.

— Sim! Só estava cansada. — Não menti, só não queria prolongar aquele assunto. Queria olhar para o presente.

— Tudo bem! — expressou me olhando de lado. — Você viu a Jane ontem? — indagou esperando minha reação, me vendo assentir ele continuou: — Falamos pouco mas, como sua avó disse, ela não me pareceu muito saudável.

Filippo fixou seus olhos no Alfredo, meu pequeno coelho que andava livre pelos pequenos arbustos ao pé da varanda, e ficou pensativo. Olhando para o mesmo que ele eu também fiquei imersa em pensamentos. A Jane não parecia a mesma de antes, realmente. Seu semblante estava um pouco pálido e seus modos, outrora decididos, estavam cambaleantes igual seu olhar. Será que aconteceu algo lá e por isso voltou? Mas, o que seria? Jane sempre foi uma das melhores alunas da escola, com certeza não foi por alguma reprovação que voltou.

Enquanto minha mente projetava um monte de teorias, entrei em estado de estupor, até ser trazida de volta a realidade pela voz do Filippo me chamando e, pelo visto estava muito distraída mesmo, já que não o vi se levantar e chegar tão perto de mim.

Até Te Encontrar (Uma releitura de Emma)Where stories live. Discover now