Capítulo Especial

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— Filha. — me chama, mas eu não consigo olhar pra ele. Minha visão está turva pelas lágrimas, minha respiração é falha e o desespero já tinha tomado conta do meu organismo. — Ana Flávia, olha pra mim, filha, por favor!

Ao contrário do cenário caótico em que nos encontrávamos, a voz do meu pai era calma, firme, mas calma. Levantei a cabeça ao mesmo tempo em que estendi a mão pro lado em busca do contato da Bruna e fiz um esforço até conseguir enxergar nitidamente meu pai a minha frente.

— Eu tô aqui com você, respira fundo. — ele me incentiva, mas eu só consigo focar no avião chacoalhando a gente. — Ana Flávia, por favor!

— Ana, você tá me escutando? — a voz da Bruna soa finalmente depois de várias tentativas falhas do meu pai de tentar me acalmar.

— Eu quero chegar em casa, quero abraçar minha mãe e minha irmã. — digo aos prantos.

— Eu sei que sim, Ana, aposto que elas também querem. Mas agora, eu preciso que você se acalme, consegue? — eu tentei me concentrar neles, no que realmente importava, mas era quase impossível quando tudo à nossa frente era o caos e o desespero. — Respira fundo e foca na minha voz, esquece um pouco o que tá acontecendo.

Ao contrário do que me diziam o avião não diminuía o chacoalhar, eu via as coisas indo ao chão e isso me apavorava ainda mais. Eu clamava por socorro e pra que Deus me ouvisse. Eu só preciso que o avião pousasse em segurança, pra que eu desça pra terra firme.

— Eu não quero morrer... — falei o pensamento que me afligia a todo momento.

— Ninguém vai morrer, Ana Flávia, para de falar besteira. — meu pai elevou o tom da voz. — Filha, se acalma por favor, daqui a pouco o avião volta pro eixo.

As vozes que antes eu ouvia perfeitamente começaram a ficar longe, um zumbido insuportável no meu ouvido se fez presente, um aperto e sufoco enormes no peito, um nó na garganta e um medo descomunal. Um misto de sensações e nenhuma sendo boa. Um filme da minha vida passou pela cabeça e o desejo de poder abraçar cada pessoa que eu amo e dizer o quanto eu as amo também. Meu pai conseguiu prender a minha atenção e me fez respirar junto a ele várias vezes, enquanto ao lado a Bruna segurava minha mão e me dizia o tempo inteiro que estava ali comigo, que o momento de desespero iria passar. E realmente passou.

Aos poucos o avião foi voltando ao eixo e em menos de 20 minutos estávamos pousando em terra firme. Abracei meu pai e chorei mais um pouco — lê-se: muito — depois abracei a Bruna e a agradeci sem parar, por ter me ajudado a me acalmar minimamente antes de surtar, ou desmaiar. Quando descemos do avião, pude avistar de longe duas das pessoas mais importantes da minha vida. Exatamente quem eu precisava nesse exato momento. Minha irmãzinha solta a mão da minha mãe e corre em minha direção, eu me abaixo e espero até que ela venha de encontro a mim e quando ele finalmente está nos meus braços, posso sentir que finalmente voltei pra realidade. Beijei o topo da sua cabeça e senti o seu cheirinho enquanto a abraçava carinhosamente. Me afastei apenas o suficiente pra ter seu rosto entre minhas mãos e antes de olhar em seus olhos e dizer o que queria, admirei cada detalhe do seu rostinho e guardei na memória.

— A mana te ama, Antonella, sabia disso? — eu ainda chorava, mas agora era de alívio. Quando ela passou a mãozinha em meu rosto limpando minhas lágrimas, fechei os olhos e agradeci a Deus por poder senti-la mais uma vez.

— Aham, você me fala todo dia isso. — ela coloca as mãozinhas no meu rosto também, uma de cada lado. — Não precisa mais chorar, maninha, a gente já tá aqui com você e eu também te amo. — dou um último abraço apertado nela antes de me levantar e ir pros braços da minha mãe.

— Filha... — ela se distancia do meu pai a medida em que eu me aproximo dela, já com os braços abertos, quando estamos próximas o suficiente, me encaixo no melhor abraço do mundo e descarrego mais um turbilhão de sentimentos. — Graças a Deus, vocês estão bem!

Turnê Vida | MiotelaWhere stories live. Discover now