trinity // billie eilish

out of place

Minhas esperanças para esse ano caíram tanto que se não fosse meu último, eu largaria a mão.

Mentira. Óbvio que nunca largaria a mão.

Mas a vontade era grande.

— ...vocês tem um hora para organizar as matérias, e quando as alunas chegarem para tirar dúvida considerem mais pelo menos uma hora também — professora Kaling explica enquanto organizava umas pastas — Não se esqueçam de ter paciência. As meninas não são tão bem dotadas quanto vocês, ok? Tentem me manter avisada sobre alguma aluna que pode estar com alguma dificuldade fora do normal...

Balançava a cabeça, concordando e no canto de olho via Billie fazendo o mesmo. Achei engraçado que automaticamente estávamos cada uma em um canto da sala, se evitando a todo custo.

Por sorte a professora não notou, e continuou sua explicação.

Eu queria muito ser monitora. Muito. Mas se eu soubesse que era com ela, talvez teria desistido.

Eu sei que Billie era só mais uma garota, e que não deveria deixar isso me abalar. Eu deveria seguir em frente e tratá-la como uma colega de classe qualquer, mas era impossível conseguir ter paz e calma perto dela.

Agora seriam duas horas inteiras.
Cinco dias da semana.

— Se quiserem adiantar um pouco, meninas. Eu vou estar dando aula três salas para o lado, qualquer coisa me chame, tudo bem?

Assenti, chegando perto das papeladas que a professora tanto tentou organizar na mesa.

— Se eu soubesse que seria com você, não teria aceitado — Billie diz, sentando na cadeira.

— Que maravilha ouvir isso — ironizo — Vai ter que me aguentar, Eilish...Não está acostumada a não ter o que quer, né?

Me responde com uma risada sarcástica, e mostra o dedo do meio.

A loira fica em silêncio por um tempo, mas ficou claro que estava prestes a falar alguma merda nos próximos minutos.

Então me adiantei.
— Você acha que eu gostaria de ficar olhando para sua cara de tonta por duas horas? — provoquei, vendo seu rosto ficar vermelho pelo meu comentário — Óbvio que não. Então fica na sua que eu fico na minha, pode ser?

— Eu faço o que eu quiser — provoca — Talvez eu deva infernizar sua vida até você desistir dessa monitoria...

Abre um sorriso metido, testando minha paciência.

— Boa sorte — digo — Pior que o Coraline você não consegue.

— Ah, é? — questiona, curiosa — Cora está te dado trabalho, Melinha?

Revirei os olhos pelo apelido ridículo.
— Você não imagina, Barbie — Reviro os olhos.

Me arrependi do comentário, vendo o sorriso de Billie triplicar de tamanho. Acabei sem querer colocando algum plano na cabeça dessa idiota, e agora vou dormir com um olho aberto caso tente me matar no meio da noite.

— Bom saber...

A ignorei e o silêncio se instaurou, e começamos a de fato nos atualizar com a matéria.

Literatura era simples, sempre tive facilidade.

— Que merda — ouço a loira murmurar do outro canto da sala — Bem que podiam estar lendo Dorian Grey...

— Acho bem mais fácil ler Jane Austen — disse, a esse ponto só querendo contraria-la.

— Não gosto de romance de época — responde, sem sequer olhar para mim.