1. LIGHTS FROM ALASKA

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Escrito por Lucas Pinheiro

Anchorage tinha seu charme mas não demoraram muito por ali. Rosalyn pensou o quão interessante seria conhecer o artesanato local e a troca com aquela gente acolhedora e simpática, mas o dever os chamava. Partiram ao amanhecer.

Sabia que 'amanhecer' era uma palavra muito forte para sua realidade naquele lugar, mesmo assim a usou antes de dormir. Aquela região não veria a luz do sol pelo menos nos próximos meses. Foi na constante noite de seis da manhã que começaram a organizar os equipamentos nos jipes. O vento frio cortava como faca quando atingia algum centímetro de pele nua. A noite anterior foi ornada por inúmeros cobertores e aquecedores, mas não teriam mais esse luxo no restante do percurso.

Rosalyn afagou as mãos com as luvas grossas e cobriu a cabeça com capuz felpudo, distraindo-se um pouco com a visão das montanhas congeladas ao longe.

— Está perdida, Barrera? — Karen cruzou à sua frente, carregando com dificuldade o telescópio desmontado, as hastes eram quase do tamanho da loira que chegou a cambalear quando se aproximou do veículo. — Espero que tenha estudado as probabilidades de sobrevivência em uma expedição como essa. Não me parece o tipo de coisa que você suportaria fácil. — Lançou um meio-sorriso provocativo.

Rosalyn sentiu-se menosprezada e não era a primeira vez, mas não a conhecia o suficiente para respondê-la, cruzou com Karen poucas vezes na universidade, seja nos corredores ou nas aulas de física experimental, únicas que fizeram juntas. Karen era mais próxima do professor Hugh, já que seguia seus passos na astronomia. Enquanto Rosalyn era pupila da professora Kenneth, esposa deste, física teórica e ufóloga, sua maior inspiração.

— Não cai na pilha da Karen, ok? — Froy se aproximou com a grande mala a tiracolo e fez questão de olhar seus olhos. Rosalyn admirou seu maxilar e seus olhos que lembravam uma amora madura. — Ela é uma vadia insegura. Acredita que já fomos grandes amigos? Ela mudou muito. — Um sorriso acolhedor se formou em seu rosto. — Você vai se sair bem.

Ele tinha razão. Apesar de todos os gatilhos das valentonas de ensino médio que Karen despertava, Rosalyn sentia-se preparada para aquilo. Foram meses de estudos, leituras, testes e simulações para finalmente estar apta para a grande expedição da década da comunidade científica independente do sul da Califórnia. Poucos chegaram tão longe na exploração daquela região e todo o mistério que a rondava. Seu sucesso ali era um passo mais próximo de ser uma nova Kenneth Anderson.

A professora estava logo à frente, já posicionada no jipe amarelo. Rosalyn não cansava de admirá-la e sempre vê-la de baixo para cima. Tinha naquela mulher um alvo, apesar de todas as polêmicas que a rondavam.

Froy se ofereceu para trazer o resto de sua bagagem. Rosalyn não soube como reagir à gentileza, mas aceitou. Sua conexão com o estudante de física era inegável e crescente. Foi com ele que passou a maior parte da viagem. Sentia-se à vontade para falar sobre qualquer assunto. Froy era leve, gentil e carregava uma aura que jamais viu em homem algum. Não podia descrever o que sentia, mas queria tê-lo por perto.

Ele se aproximava do veículo com a última mala quando David chegou como um meteoro e propositalmente esbarrou em seu ombro. Froy se desequilibrou e deixou a bagagem cair sobre a neve enlameada.

— Tem que olhar por onde anda, assistente. — David bradou com uma forte dose de sarcasmo, culpando-o, e seguiu seu caminho até o segundo jipe.

— Não liga pra ele. — Rosalyn saltou, ajudando Froy com a pesada mala. — Ele só tá com inveja que a professora confiou à você a liderança de coleta de amostras, não à ele.

— Parece que cada um de nós temos nossos valentões particulares. — Uma vez dentro dos veículos, as equipes partiram. — Nunca imaginei que teria tanta picuinha e infantilidade no meio científico até embarcar nele. — O rapaz virou o rosto e se permitiu contemplar a paisagem que corria rapidamente. — Mas com David é diferente... sinto que tem algo a mais. Vocês tiveram algo no passado, não foi?

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