PRIMEIRO DIA

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Assim que nós descemos do táxi, me deparo com o prédio enorme de dormitórios feminino. O prédio que fica logo atrás é o dormitório masculino, distante o suficiente para manter os possíveis casais separados.

As paredes enormes de tijolinhos vermelhos, me deixam tonta apenas de olhar por alguns segundos. Ajudo minha mãe a tirar as duas malas que trouxe, já que não tenho quase nada.

- Preparada? - Mamãe me perguntou, assim que fechou o porta mala.

- Acho que sim! - digo, lançando para o mundo o meu maior sorriso de esperança.

Seguimos pelos corredores, procurando pelo quarto de número 458. Minha mãe observa tudo detalhadamente, como a mãe protetora que é.

Assim que achamos, bato na porta delicadamente. Ouço uma movimentação lá dentro, então sei que tem alguém aqui.

- Pode entrar! - alguém gritou. Obedecendo, entrei no quarto. O quarto tem paredes cinzas, duas camas de solteiro, duas cômodas, uma escrivaninha e um banheiro.

- Melanie? - Kira pergunta, apontando para mim.

- É, sou eu. - digo, animada.

- Sou a Kira. - ela diz, me puxando para um abraço. Minha mãe não percebeu porque nunca sentiu o cheiro, mas o fedor de maconha é reconhecível a metros de distância.

- Oi, meu nome é Kira. Vou dividir o quarto com a Melanie. - Kira cumprimenta minha mãe, segurando a mão dela.

- Olá, sou a mãe da Mel. - respondeu.

Enquanto minha mãe pergunta mais algumas coisas sobre a faculdade e a vida da minha colega de quarto, começo a colocar minhas malas em cima da cama onde vou ficar.

Ouço minha mãe pedir para que Kira cuide de mim, e reviro os olhos ao ouvir isso. Até parece que sou uma criança de sete anos.

- Mãe, já chega. - digo, puxando-a até a porta.

- Vai ficar bem sem mim, Mel? - perguntou. - Tem meu número, pode me ligar a qualquer hora, a mamãe vem te buscar se sentir falta de casa.

- Está tudo bem, mãe. Não vou fugir daqui. Estou a poucas horas de casa. - digo, segurando e acariciando suas mãos.

- Tudo bem. Se cuida, filha. - ela diz, saindo ali.

- Te amo, mãe. - digo, mas ela só me manda um beijo e some do meu campo de vista.

Volto meu foco para as malas que preciso desfazer e organizar minhas coisas em apenas quatro gavetas. Agora que estou esvaziando as malas, vejo que trouxe mais livros que roupas, mas me perdoem, sou uma romântica incurável.

- Se suas coisas não couberem aí, pode pegar uma das minhas gavetas. - Kira ofereceu.

- Mas e as suas coisas? - pergunto, confusa. Ela não parece essas meninas que tem pouca coisa.

- Eu deixo algumas coisas na república dos meninos. - o que ela diz, me dá a entender que tem um namorado. Fico tentada a perguntar, mas acho que seria falta de educação, já que a gente mal se conhece.

- Agora eu vou sair, Mel. - ela diz, pegando suas chaves. - Mel, posso te chamar assim, né?

- Claro, meus amigos me chamam assim. - respondo, contente por estarmos trocando apelidos.

- Ok, Mel. Eu vou demorar, talvez nem volte hoje. Então, boa noite. - disse, enquanto passava pela porta e me mandava um beijo.

Fico contente por ter me dado bem com Kira logo de primeira, já que quatro anos de faculdade serão ao lado dela. Assim que acabo de organizar minhas coisas, percebo que quase não tenho nada, já que uma das gavetas está vazia.

Deixei meus livros na parte mais alta, expondo toda a minha coleção literária, facilitando na hora de achar algum. Pego um lençol cor de rosa, que trouxe para colocar em minha cama e até me sinto em casa, lembrando do quarto minúsculo onde passei todos esses anos.

Consegui ir buscar meus horários na secretaria, já que a faculdade de literatura tem aulas de diversas áreas. Assim que cheguei, senti a necessidade de ir tomar banho. Aproveito a água quente que sai do chuveiro, molhando meu cabelo curto. Ouço um barulho na porta do banheiro e acho que deve ser Kira que veio buscar alguma coisa.

- Caralho, Kiri. Nem me chamou. - é a última coisa que escuto, antes que um garoto abra a cortina que nos separava.

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAH! - é a única coisa que consigo fazer.

- Porra, desculpa. Desculpa, desculpa. - o garoto diz, fechando novamente a cortina.

- Eu não sabia que a Kiri tinha uma nova colega de quarto. Foi mal. - ele diz, do lado de fora do banheiro.

Pego minha toalha rapidamente, envolvendo o meu corpo pequeno nela. Assim que saio do banheiro, ele está lá, parado. Deve ter quase um metro e noventa, tranças, cabelos pretos e um piercing no canto da boca. Meu Deus, que garoto lindo!!

- Pode parar de babar agora. - ele diz, me tirando de meus pensamentos.

- Você acabou de invadir o meu quarto! - digo, furiosa.

- Não invadi nada. - ele diz, balançando um molho de chaves. Ele deve ser o namorado de Kira, penso.

Antes que eu possa perguntar, somos interrompidos por um garoto ainda maior que ele, de cabelos espetados e corpo franzino.

- Ou, Kira tá na república. - o garoto diz.

- Todo mundo tem a chave desse quarto? - pergunto, tímida.

- Todo mundo não, só quem pode. - o tarado falou.

- Bill. - o mais alto se apresentou, esticando suas mãos. - Esse é o meu irmão, Tom.

Tom revira os olhos, como se não quisesse se apresentar. Aperto a mão de Bill, retribuindo seu cumprimento.

- Mel. Quer dizer, Melanie, mas os meus amigos me chamam de Mel. - respondo, lançando meu sorriso para ele.

- Relaxa, só a gente tem a chave. - Bill explicou. - A Kira fica com o Tom.

Imediatamente olho para ele, que ergue a mão como quem diz: Sou eu mesmo.

- Ah, tudo bem. -respondo. - Se não se importam, eu queria me vestir. - digo.

- Tá bom. - ele respondeu, dando risada. - Foi bom te conhecer. Vamos, Tom.

- Até mais, Melzinho. - Tom diz, assim que sai atrás do irmão. Melzinho?

Longe de mim...Where stories live. Discover now