𝑭𝒂𝒓𝒆𝒘𝒆𝒍𝒍, 𝑵𝒆𝒗𝒆𝒓𝒍𝒂𝒏𝒅

Começar do início
                                    

"Faça de novo até que esteja perfeito."

"Como não consegue fazer algo tão simples?"

"Não me envergonhe, faça de novo."

"Vamos, consegue fazer melhor que isso."

"Nunca vamos atingir o sucesso se continuar preguiçoso."

Palavras tão duras para alguém tão jovem...

Yeonjun passou a ouvir aquelas palavras com frequência. Nunca estava satisfeita. Nunca estava bom. Nunca era o suficiente. Sua própria mãe o afundava cada dia mais e mais no abismo.

Após a noite de apresentação, a mulher mudou da água para o vinho aos olhos de Yeonjun. Passou a acompanhá-lo nas aulas e ajudá-lo nas práticas em casa. E suas palavras sempre tão duras... No início, Yeonjun buscou adaptar-se e fazia o que lhe era mandado. Queria melhorar. Queria ser melhor. Almejava a perfeição. E se precisasse trabalhar cem vezes mais, então assim faria. Mas com o passar dos dias, meses, seu corpo não suportava mais. Sua mente não suportava mais. E todas aquelas palavras duras aos poucos tornavam-se ainda mais cruéis. E doía em seu peito cada uma delas. Doía ainda mais por virem da pessoa que mais admirava no mundo, da pessoa que o inspirou a seguir tais passos. E foi numa noite fria, após todos irem embora e estar finalmente sozinho naquele grande estúdio de dança, que encarou seu reflexo pela primeira vez em muito tempo. Aparentava mais magro, abatido, exausto. Suas olheiras eram fundas, assemelhava-se à um zumbi. E tocou seus pulsos já tão maltratados e sentiu impulso em fazer mais uma vez aquilo que acabou por descobrir ser sua mais nova "fuga". A dança já não mais lhe satisfazia como antes, e havia encontrado da pior maneira uma nova forma de abafar seus conflitos e dores internas. Não desejava morrer, mas sua mente estava tão desgastada que pensava que se fosse o caso, seria apenas uma vantagem. Já não se importava muito mais. Aos poucos perdia-se para seus demônios. Mas ainda desejava que pudesse ser salvo.

E misericordioso como era, o universo o ouviu.

Certa noite após a prática, Yeonjun permaneceu no estúdio. Sozinho. Havia adquirido aquele hábito, pois, era melhor do que voltar para casa e ouvir os absurdos de sua mãe. E estava faminto, mal tivera tempo de comer uma refeição decente. Tudo que havia ingerido foram balas de goma de ursinho trazidos por um de seus colegas. E então acabou por pedir comida em um restaurante de frango frito que não era muito longe dali. E por minutos continuou deitado no chão apenas olhando para o nada, esperando. E quase não viu o entregador chegar.

Era um garoto um pouco mais baixo, cabelos castanhos, e usava um moletom cinza que fazia-o parecer menor. Aparentava ter a mesma idade, e parecia perdido segurando a embalagem em mãos. Yeonjun não percebeu, mas acabou por perder-se na imagem do garoto, esse que não sabia se entrava ou ia embora. E riu achando uma graça a confusão estampada naquele rosto bonito.

"Com licença! Foi daqui que pediram-"

"Sim, eu pedi. Finalmente, estou morrendo de fome." - Proferiu ao aproximar-se e pegar a embalagem das mãos do garoto.

E não estava em clima para cerimônias, portanto simplesmente abriu a embalagem e começou a comer ali mesmo, pouco importando-se com os modos nada educados. O fato era que, Yeonjun nunca havia provado comida tão ruim antes, muito seca e sem sabor. Mas estava mesmo com fome, não reclamaria. Comia como se o mundo fosse explodir no dia seguinte. E não notou como o outro garoto tinha os olhos arregalados lhe observando.

"Senhor, está mesmo passando fome? Coma devagar, vai engasgar." - Tentou alertar estupefato pela cena à sua frente.

"Desculfe, esfou fom fome." - Tentou dizer de boca cheia, e dessa vez observou como o garoto riu de si. Mas não ria como se fosse uma piada, aquela risada era diferente, e quis entender.

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