ENTRE O PARAÍSO E O INFERNO | l.s

6. Um convite digno de rei

Estou há muitos minutos boiando de costas na piscina, com os braços estendidos, absolutamente relaxado e absorto em pensamentos. O sol forte aquece a minha pele enquanto a água fria lambe as laterais do meu corpo e de olhos fechados aproveito a brisa que sopra carregando com ela o cheiro exótico do Reino das Sombras; Camélias, sândalo e canela, tão diferente do aroma calmante de lavanda, com o qual estou habituado.

Por um momento me pergunto como seria viver aqui. Será que os angels se acostumariam com o clima destemperado que traz frio intenso, calor escaldante, chuva e sol tudo em menos de vinte e quatro horas? Ou com a energia pulsante dos sombrios que tem pouca moral e educação? E o mais importante, será que é realmente saudável para os nossos jovens influenciáveis conviverem com pessoas que tem princípios tão contrários aos nossos?

Certamente não tenho respostas para esses questionamentos, afinal, estou hospedado nesse reino por apenas uma semana, então creio que é muito cedo para chegar a uma conclusão final.

Depois do dia em que o almoço, que tinha como objetivo discutir um acordo benéfico para os dois reinos, ter se transformado em uma discussão que acabou em morte, nada de extraordinário aconteceu. Meus conselheiros e eu passamos os dias dentro dos limites do palácio, visto que meus amigos ficaram um tanto amedrontados com o que poderia acontecer se saíssemos para explorar os arredores sem estar na companhia de Louis ou de alguém de sua confiança.

Aproveitamos esse tempo para observar a rotina dos empregados e conversar com a maior quantidade de pessoas possível para obter informações sobre seus costumes, seus ideais e suas impressões sobre nós. Posso então afirmar que a grande maioria está ansiosa para conhecer nosso reino e conviver pacificamente com os angels, salvo é claro, pelos conservadores que pelo que ouvimos falar continuam resistentes a essa ideia.

Alguns sombrios pensam que a nossa generosidade e atos de boa ação seria como uma influência positiva para os jovens que estão a cada dia se deixando levar pelos instintos primitivos do reino.

"Veja bem, eles não são estúpidos. No entanto, fomos acostumados à não levar em consideração as necessidades do outro e isso nos deixou presos ao individualismo por muitos anos até o egoísmo ganhar força em nossos corações.
Aqui no Reino das Sombras, apesar de nos defendermos bem, sermos treinados para qualquer tipo de confronto e termos liberdade para viver da maneira que quisermos, acredito que falhamos muito quando se trata de altruísmo. Os nossos jovens estão acomodados, não possuem ambições, talvez se interagirem com mais frequência com os angels possam ser mais civilizados."

Essas foram as palavras da jardineira do palácio, Krystle. Krys tem 155 anos de idade e, mesmo sendo totalmente feliz vivendo como uma típica sombria, acha que o rei Louis deveria considerar o acordo. Por outro lado, quando Niall e eu abordamos Joshua Halling, – o empregado mais conhecido do Reino das Sombras por seus longos cabelos castanhos –, sua resposta foi mais atravessada.