Past

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Acordei no meio da noite em desespero, chutando as cobertas pra longe para me livrar da sensação de estar sufocando.

Estava ofegante, meu rosto estava úmido de lágrimas e meu coração disparava como nunca.

Mais um pesadelo com aquela missão, com aquela noite.

Desta vez vi meu esquadrão pedindo por socorro, me acusando de tê-los abandonado, minha irmã com metade do rosto esmagado apontando o dedo para mim jogando na minha cara que eu não fiz nada para vingar sua morte.

Era a minha mente pregando uma peça em mim mesma sobre tudo o que eu pensava.

Apesar de me sentir tudo isso que eles falaram para mim, eu sei que minha irmã nunca falaria essas coisas.

Ela tinha o coração puro demais para isso.

Me levantei, pegando o copo de água que fica em minha escrivaninha e bebi em um só gole.

Estava suada e nervosa, as paredes brancas pareciam me sufocar ainda mais.

Então caminhei até o banheiro, joguei uma água no rosto, respirando fundo com o alívio momentâneo de frescor.
Deus, Washington, parecia estar tão quente quanto Cancún.
Saudades das missões em lugares a graus negativos.
Precisava de um ar, pensei.

Mas meu estômago falou mais alto com um ronco dolorido.

- Preciso mesmo é de comida. - Resmunguei para mim mesma.

Eu sabia que Price tinha uma caixa de alimento embaixo da sua cama. Descobri isso com Beatrice quando tínhamos quatorze e doze anos, mas nunca contamos para ele. É bem provável que ele tenha percebido, pois roubavámos seus doces com frequência.

Porém, não queria acordá-lo para isso e ter o risco de levar um sermão por não ter jantado.

Teria que descer e verificar se a cozinha estava trancada, ou sair para comer alguma coisa.

Desci até o pavilhão do refeitório na ponta dos pés, tentando não fazer o barulho dos meus passos ecoar muito alto.

Estava vazio e parcialmente escuro.
Caminhei tateando as mesas até a porta da cozinha que ficava do outro lado do lugar.

Forcei a maçaneta e como esperado, estava trancada. Suspirei, derrotada, e tomei coragem para ir ao estacionamento.

Deve ter alguma lanchonete aberta nessa hora, nem que seja um carrinho de cachorro quente de esquina.

Quando dou o primeiro passo, sinto que tem outra pessoa no refeitório, perto da escada que leva ao dormitório.

Ele estava com uma camiseta preta e calça moletom, sua balaclava e máscara ainda estavam ali.

Estava tão oculto nas sombras que conseguia ver só de relance.

O fato dele estar sempre atrás de mim estava começando a me irritar profundamente.

Mas não iria demonstrar, não ainda.

Precisava me manter calma e centrada na missão, se surtasse por qualquer coisa assim não iria durar muito tempo ali.

- Não sei se está aí esperando algo ou se ia na cozinha também, mas já aviso que está fechada. - Falei, dando as costas e caminhando em direção ao pátio.

- Eu já jantei.

Não respondi, apenas continuei me afastando por entre as mesas e consequentemente, dele.

Quando cheguei ao final, sinto que ele estava se aproximando também.

- Precisa de alguma coisa, Tenente? - Perguntei, sem olhar para trás e fixa na direção do estacionamento.

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⏰ Last updated: Jul 21, 2023 ⏰

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FarleyWhere stories live. Discover now