As Coisas Que Não Controlamos

Quem?

Segui minhas amigas ainda sem dizer uma palavra, apenas sentia o alivio de me livrar de uma situação desconfortável, e o desespero de estar prestes a entrar em outra, meu primeiro pensamento foi correr o mais rápido que pudesse, mas conclui que era inútil e que eu sentiria vergonha disso depois, então me arrastei até a cabine com a cabeça baixa, sem coragem para olhar na cara de ninguém. Quando enfim fecharam a porta, eu finalmente tomei coragem para falar, mas a única coisa que saiu da minha boca foi: "Como vocês sabiam onde eu estava?" - "Eu te vi entrando na cabine, quando voltava do banheiro, não achou que ia se esconder da gente fácil assim, né." - respondeu Emily - "Ah" - disse, me culpando por não ter demorado mais a sair do meu esconderijo.
Um silêncio se fez na sala, como se todas esperassem que eu dissesse algo primeiro, mas eu simplesmente não consegui, quando pensava em tudo o que havia acontecido nos últimos meses, toda a tristeza que eu achava que havia conseguido deixar para trás, voltava à tona, a perda mais dificil da minha vida, o momento em que eu descobri que meu pai, meu melhor amigo, estava desaparecido, e que ninguém esperava mais encontrá-lo. Só percebi que estava chorando quando minhas amigas me abraçaram. Eu respirei fundo e finalmente disse: "Sei que não tenho sido uma boa amiga nesses últimos meses, mas eu realmente precisava de um tempo pra mim, estava tão cansada de tudo, até falar me cansava, eu só precisava ficar sozinha, desculpa." - "Não precisa se desculpar" - disse Claire - " A gente só tava preocupada com você" - realçou Alisson - "É, nós somos suas amigas, só queríamos que você soubesse que sempre estaremos aqui" - completou Emily. Não fiz mais esforços para segurar as lágrimas, abracei todas elas, uma por uma, e as agradeci por estarem ali por mim, depois, contei sobre como haviam sido os últimos 4 meses, e como eu não podia esperar pra sair de casa e fingir que aquela vida não era real, pelo máximo de tempo possível.
Após isso, foi como se nada tivesse mudado, elas me fizeram rir, contaram sobre o verão delas, sobre as fofocas da escola e tudo mais o que eu queria saber, eu entendi que aquelas conversas aleatórias eram pra me distrair e fiquei muito feliz por ter elas como amigas, e me senti culpada por ter temido esse reencontro por tanto tempo.
O resto do caminho até Hogwarts e o jantar, foram como todos os outros, recebemos os alunos do primeiro ano da Sonserina com muitas palmas e sorrisos, e foi como nada realmente tivesse mudado.
No caminho às masmorras eu e minhas amigas conversamos sobre as aulas que estavam por vir e as nossas futuras profissões. No meio da conversa pensei ter ouvido alguma coisa, mas não era nada, até que me afastei do grupo para ir até o banheiro, quando já estava de saída ouvi novamente um som, dessa vez pude concluir que eram palavras que soavam como: "Ele está perto", um frio percorreu a minha espinha e eu disse a mim mesma "É apenas a sua imaginação, não foi real.". Então eu ouvi de novo, dessa vez mais alto, seguido de uma risada desanimada, e pude concluir que a voz era nitidamente masculina, e com tudo que havia acontecido no Ministério da Magia, alguns meses atrás, dei ouvido aos meus instintos e sai dali correndo o mais rápido possível, sem nem olhar para trás, só parei quando colidi com outra pessoa e nós dois caímos no chão. Eu tremia com a adrenalina e o medo, sentia meu coração pulsar tão forte que temia ser possível ver ao olho nu, quando finalmente olhei para a pessoa na qual eu havia "esbarrado" me preparei para levar uma bronca com a cabeça baixa, mais ao invés disso, a pessoa, que não era ninguém mais,  ninguém menos que Ronald Weasley, me olhou com um olhar de pena e me perguntou: "Você está bem?" - "Não" - respondi, "Acho que estou ficando maluca" - completei. - "Você precisa de ajuda?" - perguntou Ron - "Não, mas eu vou ficar, obrigada" - respondi. Ele assentiu com a cabeça, se levantou e estendeu a mão para me ajudar, eu dei um sorriso e aceitei a ajuda, depois cada um seguiu o seu caminho, e eu não pude deixar de pensar no que havia acabado de acontecer, será que o que eu pensava ter escutado foi real? Será que aquilo tinha alguma coisa a ver com a presença de Ron Weasley (o melhor amigo do Harry Potter) naquele lugar e naquela hora? Ou será que aquilo tem alguma coisa a ver com o desaparecimento do meu pai?
Esse último pensamento eu afastei o mais rápido possível, se o que eu ouvi foi real, com certeza não estava relacionado ao meu pai, 'Ele', infelizmente não era o 'Ele' que eu queria que fosse, provavelmente era a última pessoa que eu gostaria de ver na minha vida.