- Não, não. - ele riu. - Acho que inteligência não é a maior qualidade dessa...hum...

- Nenci? - completei para ele que fez uma cara de irritação.

- Nenci - repetiu com nojo. - Ela saiu da cadeia há dois anos. A polícia sem saber quem era que estava por trás do seqüestro, foi direto checar essa Nenci. Procurou em sua casa, mas ela não estava. Viu a ficha dela e constatou que ela era casada.

- Casada? - repeti sem acreditar.

- Só que os dois moravam em casas separadas. Ela e o marido.

- O que isso tem a ver?

- Tem a ver que ela escolheu a casa do marido, que estava viajando, como cativeiro.

Eu sorri incrédula. - Quanta genialidade!

- Graça a genialidade dela que você está aqui. - ele concluiu.

Com a fome que eu estava, nem percebi que já tinha comido todo o sanduíche, o iogurte com biscoitos, a taça de saldas de frutas e bebido metade da vitamina que estavam na bandeja.

Empurrei o copo.

- Cansei. - disse.

- Vou levar lá para baixo. Tem mais gente na fila para ver você. - disse depositando um beijo em minha testa. Estava deixando o quarto quando eu o chamei.

- Pai?

- Sim. - ele se virou e veio até mim.

- Você e Alessandra... - comecei incerta - ainda vão se separar?

Ele voltou a se sentar na cama.

- Não. - ele balançou a cabeça. - Não se preocupe, não vou sair de casa, você continuará...

- Pai, eu não quero que fiquem juntos só por mim. Se tiver que acontecer eu não quero atrapalhar. Só quero vocês sejam felizes. - disse curta.

- Não é só por você, que ideia. - ele riu. - Eu estava sendo um pouco precipitado. Alessandra é minha vida, acho que não suportaria ficar sem ela.

- Mesmo com uma idiota feito eu atrapalhando?

- Ainda mais uma garota maravilhosa como você, ao nosso lado. - disse.

Meu pai saiu e instantes depois, a porta foi aberta novamente. Era Alessandra.

- Olá. - falou cautelosa. Sentou-se a cama de frente para mim. Olhou-me ansiosa.

- Estou ótima. - lhe disse. Ela parecia tão cansada... Notei algumas rugas em sua testa que antes pareciam não existir.

- Feliz aniversário, Eliza. Parece que foi ontem que você fez quatorze anos. - Ela tocara no assunto. Sabíamos que não tinha mais como adiar aquela conversa, então ela prosseguiu.

- Eu tive tanto medo de não poder, depois de tanto tempo, dizer que eu a amo, Eliza. - Agora, seus olhos estavam cheios de lágrima. - De não poder dizer o quanto eu lamento por não ter sido a melhor mãe do mundo, que lamento pelas coisas que fiz, que disse, pelas coisas que não fiz.

- Eu sei que também não fui a filha perfeita. Tenho a maior parcela de culpa nisso; eu era tão criança quando nós brigamos, mas ainda sim deixei isso se prolongar. - E com um nó na garganta, completei - Me desculpe Alessandra.

- Estou com saudades, Liza, de antes.

- Então, porque não voltamos? Esquecemos tudo que aconteceu, deixamos para lá. Acabou. Fazemos como se aquela noite nunca existisse, como se esses três anos tivessem sidos pulados. - Quando parei de falar percebi o quanto minha voz estava embargada, o aperto na garganta ainda maior.

O irmão de minha irmãWhere stories live. Discover now