O passado

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Airon fitava a fogueira há horas, atormentado por um semblante de tristeza e ira. Em dias frios e de céu nublado, gatilhos instintivos o forçavam a recordar a morte trágica de sua família. A cena assombrosa ainda ecoava em sua mente, cada detalhe fresco como uma ferida aberta. As lágrimas escorriam por seu rosto sem que percebesse, enquanto ele recordava o momento em que tudo desmoronou.

Era uma noite escura e fria, a lua brilhava timidamente no céu. Airon, junto com seus pais, irmãos e Lira (filha do melhor amigo falecido de seu pai), desfrutava de um jantar escasso, porém tranquilo, em sua modesta casa. De repente, um estrondo ensurdecedor ecoou pela vizinhança, seguido por gritos de terror. A porta foi brutalmente arrombada e um grupo de homens encapuzados invadiu a residência.

"Seus malditos porcos traidores! Vocês não merecem viver!", gritou um dos invasores com ódio, segurando uma espada.

Airon, apenas um jovem na época, estava paralisado pelo medo enquanto testemunhava a violência que se desenrolava diante de seus olhos. Seu pai tentou lutar bravamente, quase que em paralelo com a cena do intruso enraivecido. Herium, pai de Airon, se levantou e derrubou a mesa no chão, chutando-a logo em seguida, fazendo com que o objeto deslizasse e derrubasse o bárbaro.

"Fujam, crianças! Corram sem olhar para trás...", gritava Herium, mas foi interrompido quando um dos agressores disparou uma rajada de luz azul, que por milímetros não acertou sua cabeça. O velho móvel de guardar as louças não teve a mesma sorte e instantaneamente se tornou uma fogueira carbonizada, propagando um incêndio avassalador.

Herium, recuperado do susto do ataque, partiu novamente para atacar os invasores que claramente eram Arcanistas. Não apenas pelas vestes extravagantes, finas e coloridas, mas pelo claro abuso de magia. Infelizmente, Herium, em seu novo ataque, foi rapidamente dominado e agredido com crueldade por três dos invasores. Sua mãe, desesperada, tentou proteger os filhos, mas sua resistência foi inútil. Um dos homens a arrastou pelos calcanhares, ignorando seus gritos de angústia e cortando sua cabeça sem hesitar, com um grande sorriso no rosto.

Airon, agarrando-se a um último fio de coragem, tentou proteger seus irmãos menores, mas também foi em vão. O mesmo agressor de seu pai e mãe agora cortava, em um único golpe, a cabeça de seus dois irmãos mais jovens. Foi então que ele viu um homem se aproximando de Lira, sua amiga de infância e irmã de espírito, com um sorriso malicioso e diabólico. Com lágrimas nos olhos e raiva fervendo em suas veias, ele correu em direção ao maldito Arcanista e, com uma pequena ripa de madeira da porta quebrada, pulou e cravou o pedaço pontudo de madeira na jugular do homem, enquanto arrancava sua amiga dos braços do agressor.

"Lira, corra! Vá para fora! Eu vou proteger você, mesmo que para isso eu precise morrer!" Airon gritou, seu coração pulsando de adrenalina, com o rosto e as mãos sujas de sangue.

Lira, aterrorizada, agarrou-se a Airon sem dar ouvidos aos gritos do jovem, e ambos fugiram pela porta dos fundos sem olhar para trás, enquanto a casa continuava a arder em chamas e o restante dos invasores os perseguia. Airon sentiu-se impotente, incapaz de fazer mais por sua família. Ele e Lira se esconderam na escuridão de um pequeno buraco em um barranco próximo, onde costumavam brincar de se esconder. De dentro do apertado espaço, ambos testemunhavam com tristeza e dor a sua casa e tudo o que conheciam ser consumidos pelas chamas.

Enquanto se abraçavam naquele esconderijo improvisado, Airon sentia a respiração ofegante de Lira e tentava acalmar seu próprio coração acelerado. O medo e a angústia permeavam o ar, e eles sabiam que não estavam em segurança. Lira segurava a mão de Airon com força, encontrando conforto na presença um do outro.

O som dos passos dos invasores ecoava à distância, cada vez mais fraco, mas a tensão permanecia. Airon sussurrou palavras de coragem para Lira, prometendo protegê-la, mesmo que fosse a última coisa que fizesse. Ambos sabiam que precisavam encontrar um refúgio seguro, longe daquele pesadelo que se desdobrava diante deles.

Arcanums: O Renascimento Dos GuardiõesWhere stories live. Discover now