Byron Bay

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Quatro semanas em um novo paraíso, mas agora não parece importar tanto. Me jogo no declive de areia de uma praia deserta na incrível baía de Byron Bay. Estou impaciente, um pouco triste e, mesmo que não quisesse pensar nisso, sentia falta do retiro Casa de Buda.

Tinha conseguido um emprego de meio-período como garçonete e daqui a menos de 24 horas, irei participar de uma entrevista de emprego em uma empresa de engenharia local. Pelo menos assim conseguiria ganhar um pouco mais e continuar morando neste lugar incrível. Mas porque isso não me animava como pensei que iria?

Minha perspectiva de vida tinha mudado tanto assim depois desse retiro? Na última semana, meus colegas de trabalho me convidaram para uma festa na praia e fiquei muito animada para o evento. Mas chegando lá, sentei na areia, bebi sozinha e lembrei das festas inesquecíveis de que participei na Tailândia.

Já havia um mês que eu tinha deixado o lugar e, provavelmente, Taehyung há alguns dias. Como será que ele estava? Não havia procurado nada dele na internet desde que deixei o retiro. Ele não pareceu querer manter contato e eu não seria inconveniente de pedir isso. Mesmo que ele não fosse um cara assertivo para quase nada.

Um vento forte atinge minha saia e faz com que me sente, para que ela não suba mais. Sacudo as mãos sujas com os grãos de areia quente e, de longe, avisto um homem forte, alto e muito loiro, brincando com duas crianças na beira da água. Uma mulher, que provavelmente era a mãe das crianças, se aproximou do homem com um bebê no colo e juntos se agacharam para molhar o pequeno pé da criança no mar. Era tão nítido a sinergia que eles pareciam ter, que me emocionei ao ver a cena.

Deveria ser incrível ter uma família. Nunca havia pensado nisso antes. Acho que nunca nem tive o desejo, mas sentada ali me sentindo vazia, percebi o quanto queria aquilo. Talvez meu objetivo de vida não fosse encontrar um emprego dos sonhos. E, se ao invés disso, fosse querer ter uma vida simples apenas com uma família? Acho que isso me deixaria muito feliz.

Deixei lágrimas caírem do meu rosto e dei risada com minha própria melancolia. Era engraçado que, finalmente, no meu último destino descobri algo que realmente queria ter em meu futuro. Uma família. Queria ter um casal de gêmeos e poder ver um pouco da minha face neles. Eu queria morar em uma casa grande e poder criar meus filhos à beira da natureza para que seus primeiros machucados viessem de escaladas em árvores.

Eu queria... viver aquela cena que tinha acabado de presenciar com Kim Taehyung.

Entendo que é uma loucura, fruto das minhas lindas e fortes vivências, mas nunca havia sido tão feliz. Nunca tinha me sentido tão completa. Nunca tinha aprendido tanto em um curto período de tempo. Nunca tinha... amado alguém. Porque sim, eu amei e amo Kim Taehyung do fundo da minha alma. Acho que sempre será assim. Porque ninguém nunca me fez e fará sentir o que ele me fez sentir. Posso conhecer mil homens depois dele, mas nenhum nunca vai se comparar ao que ele me proporcionou.

Pego meu celular desesperadamente e escrevo seu nome na internet. Entraria em contato com a empresa dele, procuraria os assessores dele, sei lá. Seria uma sasaeng se fosse necessário para poder falar com ele outra vez e dizer que quero ele perto de mim para compartilhar novos momentos juntos.

Mas o primeiro link que aparece para mim envolvendo o seu nome, não é relacionado a nenhuma notícia boa.

"Onde está Kim Taehyung? Astro que sumiu após uma série de escândalos contra os fãs"

Franzi a testa e senti meu corpo arrepiar de nervoso. Cliquei na matéria, só para me certificar que aquilo era uma notícia falsa. Mas, infelizmente, não se tratava de um tabloide que inventava mentiras. Porque a cada tópico que surgia em tela, continha imagens e vídeos para comprovar o ocorrido.

Então, sem querer, acabei descobrindo o real motivo dele ter ido parar em um retiro espiritual e o porquê dele, provavelmente, não querer manter contato comigo depois que saísse de lá. Ele teria vergonha. Porque eu estava tendo, lendo tudo aquilo.

O primeiro escândalo foi há cinco meses, quando o BTS estava saindo de uma premiação em Nova York e uma menina pediu para tirar uma foto com ele. Ela colocou o celular perto dele e ele arrancou das mãos dela jogando no chão, depois seguiu sem nem olhar para trás e entrou no carro da sua equipe. Ao fundo, os paparazzi conseguiram captar o olhar preocupado de Park Jimin, vendo o comportamento hostil do amigo.

O segundo escândalo também foi nos Estados Unidos, dias depois do incidente anterior. Ele estava saindo com uma atriz asiática-americana e ao deixarem o restaurante, um grupo de meninas veio abordar o rapaz. Ele atendeu as garotas, mas em seguida seu humor mudou em questão de segundos, empurrou uma das meninas e deu as costas para todos.

Meus olhos estavam enchendo de lágrimas outra vez, mas agora era de desgosto. Aquele cara rude dos vídeos não tinha nada a ver com o homem paciente, tolerante e amigável que conheci há alguns dias. 

Continuei procurando mais informações, mas a última que encontrei foi quando ele havia deixado o palco repentinamente, falando que não aguentava mais os armys não deixarem ele viver sua vida em paz.

"Vocês sempre estão tentando se intrometer nos meus relacionamentos, na minha privacidade. Porque não podem entender que sou apenas um artista? Quero dividir meu trabalho com vocês e não minhas intimidade. Queiram apenas as minhas músicas, não de mim como homem."

Então foi por isso que ele foi parar no retiro? O grande motivo dele ter ido parar no mesmo lugar que eu foi porque ele se revoltou com suas fãs? Eu bloqueio a tela e jogo meus cabelos para trás. Me levanto do banco de areia, cato minha mochila e sigo caminho de volta para o hostel em que eu estava há alguns dias. 

Sabia perfeitamente que aquilo era um antigo Taehyung, mas por que aqueles vídeos não saiam da minha cabeça? Eu sei que muitas pessoas são chatas e inconvenientes, mas o que levava ele a agir como um delinquente? Quando ele se tornou famoso, sabia das infelizes consequências disso.

Por outro lado, eu tentava me por no lugar dele. Mas em nenhum momento conseguia entender o que levaria ele a agredir uma pessoa. Não sabia o que achar daquilo, mas de uma coisa eu tinha certeza: nunca conhecemos ninguém de verdade.

Quando chego no meu hostel, meus colegas de quarto estão conversando e passo direto para minha cama. Queria deitar e esquecer completamente do desejo genuíno que surgiu em meu coração naquela tarde. 

Agora o que mais queria era o abraço de minha mãe, porque meu coração doía e eu sentia falta da minha verdadeira casa. 



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