02. O renascimento

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Vocês erraram nisso: em ver a morte à frente, como um acontecimento futuro, enquanto grande parte dela já ficou para trás. Cada hora do nosso passado pertence à morte.

A voz fazia parte de Dolunay desde o segundo que seus olhos foram reabertos, e que ela teve a real consciência que havia voltado à vida.

Voltado a vida... talvez isto fosse demais. Todos tinham o conhecimento de que isto não era real, nem mesmo a jovem conseguia acreditar. Por tanto, a presença de Anúbis em sua frente a fez repensar sobre isto, sabia muito bem que ele tinha o poder de fazê-la voltar a respirar.

A única coisa que ela queria saber era: por que ela foi escolhida?. E isto foi respondido pelo deus, em um tom de voz tão poderoso que a fez se encolher e observá-lo caminhar pelas escadarias do templo que estavam se encontrando. Era fenomenal, pois Dolunay acreditava que ele estaria em um local com pouca luz, com uma energia pesada por causa de seus deveres.

Mas não, o ambiente era completamente belo. O templo era imensamente alto, nem mesmo conseguia ver o fim dele que era escondido pelas poucas nuvens presentes. A luz que vinha das paredes repletas pelo ouro a fazia desviar a atenção diversas vezes, focando seu olhar em Anúbis ou atrás de si, que se encontrava um lago tão brilhante que parecia mágico.

Humanos, sempre tão curiosos com o que ocorre em volta, que esquecem do presente.

Ela se volta para Anúbis que estava a poucos passos dela, a observando com olhos firmes, totalmente escuros que a encaravam como se estivesse esperando algo dela.

— Eu... morri?

Se você estivesse viva não estaria aqui.

— Mas eu consigo sentir... tudo.

Parece que todas as cerimônias que participasse foram em vão. Acreditas mesmo em mim? Ou isto ocorreu para se sentir incluída neste grupo?

Dolunay abaixa a cabeça, envergonhada. Ela nasceu naquele território e acreditava firmemente nos deuses, mas de certa forma, ele estava certo. As cerimônias fizeram que ela se sentisse uma cidadã normal, pois desde pequena pensava e agia de forma contrária de todos que viviam próximos dela.

Mas através dos encontros foi apresentada ao seu noivo, sendo o braço direito do faraó, foi difícil se aproximar dele, mas através das cerimônias conseguiu encontrá-lo e descobrir os planos do faraó. De início ela tinha tentando entendê-lo, mas rapidamente soube que todos correriam perigo caso o faraó continuasse no poder. E mesmo estando apaixonada, fez de tudo para acabar com o controle deles. Sendo o motivo de tentar matar a fera, isto a faria ser respeitada como respeitavam o faraó.

Ele odiaria saber que o usou para ter o controle de tudo. Você acha que fez isto para salvar a todos, mas não, tivesse está escolha para ter o poder para si.

Hórus te guiava enquanto estava viva, agora sou eu. Por este motivo que estais aqui, precisarei de você, pois sei que vais mudar absolutamente tudo.

— Como farei isso?

Ele desce um pouco mais os degraus, materializando uma estaca em sua mão, Dolunay logo percebe que era a mesma que havia tentado matar o faraó.

Estarei ao seu lado, Dolunay. Todos se curvarão para a senhorita.

Estendendo o cetro Was, bate ele no chão, formando aos poucos uma escuridão no piso daquela escadaria. Dolunay fica rapidamente assustada, sendo o motivo dela tentar fugir, mas o seu corpo parece ser segurado firmemente para que não desse mais nenhum passo.

Só precisarei ocupar um pouco mais a sua mente. Sem isto, não conseguirei dar o que tanto deseja.

Um segundo depois, Dolunay é novamente levada para a escuridão.

𓂀

— Meu amigo, você precisa se animar. — O faraó dizia, levantando os braços ao lado do corpo. — Tens infinitas de coisas. Entre eles, mulheres bem melhores que aquela...

Ele não finaliza a fala por perceber que Kaan o olhava com raiva, sendo o motivo de levantar os ombros, como se tivesse deixando o assunto ser finalizado sem que ligasse. Porém, não conseguia deixar a raiva de lado, especialmente por estar ao lado de quem sempre amou, que amava uma das mulheres mais desprezíveis em seu ponto de vista.

Especialmente por ela ter tentado matá-lo em seu próprio templo.

— Podemos ir atrás de algumas meretrizes, festejar...

— Eu não vou festejar, minha mulher foi morta pela fera que vive nessas terras. Quero logo acabar com este monstro.

O faraó assente, fingindo não ter o conhecimento de absolutamente nada. Era difícil manter segredo por tantos anos, ninguém tinha o conhecimento do que poderia fazer após a lua chegar ao topo mais alto.

Sendo filho da deusa Sekhmet, não conseguia conter a sua sede de sangue. Nem mesmo oferendas eram o bastante ao faraó, mesmo sendo tão aclamado se maravilhava durante todas as noites, especialmente nas de lua cheia.

— Hoje é noite de lua cheia. Podemos fazer uma cerimônia pela morte de sua noiva, ela adoraria. Pode ser no rio Nilo.

Kaan aceita o seu pedido, com um sorriso fraco no rosto que estava com pouca maquiagem. Seus olhos que sempre estavam escuros, apresentavam uma coloração pálida. Seus cabelos loiros estavam amarrados, algo extremamente raro.

— Não sei o que seria de mim sem você. Nem mesmo os deuses ouviram os meus pedidos para tê-la de volta. Aceitaria qualquer coisa vindo deles.

— Eu sei. Por este motivo estou aqui, para te levantar quando precisar.

Finalizando a fala, o faraó chama os sacerdotes para iniciarem a cerimônia naquela noite.

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Mestre dos segredos | ✓Where stories live. Discover now