capítulo 3 - não me lembro

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S/n

Eu estava terminando de preparar o café das meninas, que estavam cabisbaixas. Nem tocavam nos celulares.

⎯  quando a mamãe volta? - Sky perguntou, apoiando seus ombros no balcão.

⎯  logo, meu amor - eu estava tentando manter o astral diário, mas estava sendo difícil.

⎯  vamos desmarcar a nossa sexta de filmes? - foi a vez de Mia fazer uma pergunta, com semblante triste como o de sua irmã.

⎯  por que vocês não ficam com a Dallas? - vi Sky fazer bico, como o Demi de costume.  ⎯  preciso ficar no restaurante hoje

⎯  já perdemos a mamãe, agora você também? - a olho incrédula por levantar a voz para mim. ⎯  sempre coloca o seu trabalho em primeiro lugar, tá pouco se fodendo!

⎯  Amelia! - a repreende.

Ela nada disse, pude ver seus olhos vermelhos, a mesma se colocou de pé e correu subindo as escadas.

⎯  ela chorou a noite toda ontem, tive que levar o Beck pra ficar com ela - Sky disse levando sua torrada até a boca.

Beck é um dos muitos, mas favoritos, bochinhos de pelúcia de Sky. Demi e eu o ganhamos no tiro ao alvo, foi o nosso primeiro encontro depois da lua de mel.

⎯  termina de comer, vou conversar com a sua irmã

⎯  tá bom, mama - deixei um beijo em sua testa.

Quando cheguei no quarto da Mia, vi que a mesma estava toda enrolada em uma de suas mantas, é tão antiga, onde ela a achou?

⎯  não gostei do seu tom de voz lá em baixo - tiro a manta que cobria boa parte de seu rosto, avisto seus olhos castanhos claros, como os da mãe, tão vernelhos e cheios de lágrimas.

⎯  eu tive a quem puxar - debochou. ⎯  me desculpa

⎯  Sky me disse que você chorou a noite inteira - vejo ela se ajeitar na cama, me acomodei ao seu lado.

⎯  dedo duro - cerro os olhos para ela. ⎯  eu fiquei com medo

⎯  suas crises voltaram? - ela nada disse. ⎯  sim, elas voltaram

⎯  só foi uma noite

Mia já passou por muita coisa, com apenas onze anos ela foi diagnosticada com borderline, as idas a psicólogos eram insuportáveis. Houve uma época em que as crises de Pânico dela a impediam de ir ao colégio, o bullying só piorou tudo. Demi sofria ao saber que não podia tirar aquela dor da nossa menina, tão frágil, e eu também. Continuamos firmes, a levando pra terapia e admito que isso a ajudou muito. Mas aos treze anos a Amelia teve uma recaída, foi encontrada com os pulsos sangrando no banheiro da escola, eu e a Demi ficamos sabendo que algumas garotas fizeram a cabeça da Mia, tocaram em feridas internas, e falaram sobre o passado de Demi e isso afetou a Mia. Isso foi a um ano, depois disso tiramos ela do colégio particular, que era pra ser um lugar seguro, era pra isso que pagavamos a mensalidade, ao em vez disso a minha filha foi perseguida por meses, em banheiros, salas de aulas e até em suas atividades extracurriculares. Encontramos uma escola pública, que a acolheu muito bem, estávamos felizes por nossa filha, ela está fazendo amizades e conhecendo pessoas, interagindo e socializando. Amelia finalmente estava melhorando.

⎯  coxas ou braços?

⎯  braços - ela suspendeu as mangas do moletom, revelando seus cortes, os antigos ainda estavam ali, marcando a sua pele. ⎯  não conta pra mamãe - pediu se debulhando em lágrimas.

⎯  por que não me procurou?

⎯  estava ocupada demais, eu não queria ser mais um problema  - Mia levou a mão até o peito, o arranhando sem nenhum pudor, percebi que ela não estava conseguindo respirar.

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⏰ Last updated: Dec 26, 2023 ⏰

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Remember me - Demi & YouWhere stories live. Discover now