A faca

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Combino com Ethan de na manhã seguinte nos encontrarmos para treinarmos mais surfe.  Combinamos às 9 horas, mas gostei tanto de surfar que levanto 5 horas e 30 minutos, antes de qualquer um na minha casa. Como um sanduíche e deixo um bilhete na mesa da cozinha dizendo que iria na praia treinar surfe.
Repito todos os passos que fizemos ontem e depois tento reproduzir algumas manobras simples que vi o pessoal fazendo. Tomo muito cuidado para não estragar nada da Sasha, ela me emprestou e provavelmente me mataria se eu quebrasse a prancha ou rasgasse a roupa de surfe dela. Algumas manobras são complicadas e não consigo fazer, mas depois de tentar várias vezes às executo com perfeição. Não sou tão ruim nisso afinal.
Saio um pouco da água e olho o celular, são 8 horas e 30 minutos, Ethan chegará logo. Também vejo que tem cinco ligações perdidas de João. Depois que nos tornamos amigos, Ethan me incluiu no grupo de mensagens deles. As ligações foram feitas há alguns minutos atrás. Decido ligar de volta, pois para ter tantas ligações pode ser algo grave.

Ligação entre João e Isla

Isla: Oi?
João: Caralho, Isla. Por que você não me contou o que o André fez?
Naquele momento me lembro que não contei para ele. Mas vou inventar alguma desculpa.
Isla: Não é tão importante. Você parece ter vários problemas pra resolver...
João: Como assim não é importante? Eu vou matar ele. Vou bater nele até ele chorar e gritar por perdão.
Isla: Você não precisa fazer isso, João. Ethan já fez. E olha só, por quê eu deveria contar meus problemas pra você se você nem me conta os seus?
João: Eu não quero te meter com a máfia, Isla. Não é brincadeira.
Isla: E eu não quero te meter em encrenca desnecessária.
João: Porra, não é desnecessária!
Olho para a entrada da praia e vejo que Ethan chegou.
Isla: João, para de ser chato. Agora vou treinar surfe. A gente se fala depois. Tchau.
João: Espera...
Desligo. Que metido. Aquela situação já foi resolvida, ele não precisa ficar mexendo na ferida assim.

- Oi - fala Ethan.
- Oi - falo seca.
- O que foi?
- João me ligou ameaçando que ia acabar com André e me xingando porque não contei pra ele o que aconteceu.
- Que saco. Eu contei pensando que você já tinha contado. Me desculpa.
- Não tem problema. Tá tudo bem. Vamos treinar.
Pego a prancha e tento parar de pensar em João. É eu e Ethan agora. Eu e o surfe. Só a gente.
Ethan fica surpreso com o quanto eu melhorei. Falo que já estava treinando desde cedo. Ele bate palmas e eu sorrio.

 Ele bate palmas e eu sorrio

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11 horas e 30 minutos

Saímos da praia e convido Ethan para almoçar comigo em casa. Meg não gosta muito da ideia mas aceita, pois digo que ele está me ensinando a surfar. Quando acabamos de almoçar, Ethan agradece pela comida e atende uma ligação. Vai até lá fora e começa a falar com alguém. Percebo que está nervoso. Passa a mão diversas vezes no cabelo. Por fim, chuta uma lixeira e senta na calçada da rua. Corro até lá para ver o que aconteceu. Ele olha para mim com olhos marejados e me diz apenas duas palavras:
- Pegaram João.
O mundo cai ao me redor. Ele tinha pedido para eu esperar e eu desliguei o celular na cara dele. Engulo em seco.
- Quem pegou ele? - pergunto.
- A Sasha disse que os caras da máfia o sequestraram e estão pedindo dinheiro em troca de João e o pai dele.
- Puta que pariu - cubro a boca.
- Eu tenho certeza - diz Ethan olhando e apontando para o chão. - Que tem dedo da gangue vermelha nisso. - Ele aperta as mãos com raiva, levanta do chão e soca um poste. As mãos que bateram em André e ainda nem se curaram.
- Se acalma. O que podemos fazer? - pergunto.
O celular dele toca de novo, mas dessa vez é um número desconhecido.

Ligação entre Ethan e desconhecido

Desconhecido: Oi, parça.
Reconheço a voz. Vicenzo.
Ethan: O que você quer, Vicenzo?
Vicenzo: Pensamos melhor e ao invés de dinheiro, queremos uma aposta. Um racha hoje à noite entre você e eu. Se você ganhar, devolvemos João e o pai dele. Se não, a sua gangue pede pra sair da competição de surfe.
Ethan respira fundo.
Ethan: Fechado.
Vicenzo: Ótimo. Hoje à noite. Meia noite. Sem polícia, ou a gente mata os dois.
Ethan: Combinado.

Ethan olha para mim. Não sei o que falar.
- Vamos nos preparar - digo.
- Você não vai - ele fala, ríspido.
- Ah, mas eu vou sim. A vida inteira me disseram o que eu deveria fazer e agora eu mesma tô tomando uma decisão. Eu vou com você. Vamos salvar eles juntos.
Estendo a mão. Ethan a pega. Nos abraçamos. A noite vai ser longa.

 A noite vai ser longa

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23 horas e 40 minutos

Aviso Meg que vou dormir na casa de Sasha. Sasha e Mari vão também no racha, mas vão ficar escondidas caso for preciso ligar para a polícia.
- Senhor - fala o mordomo. - O seu carro está pronto. Foi lavado e o que estava escrito saiu.
- Obrigado.
Seguro as duas mãos de Ethan e o olho nos olhos. Ele desvia o olhar.
- Ei - digo. - Olha pra mim - ele olha. - Vai dar tudo certo. Eu vou ficar com você. Vamos ganhar e levar o João e o pai dele pra casa.
Ethan assente.
Saímos da casa de Ethan em direção à praia. Agora são 23 horas e 55 minutos. Vicenzo já está em posição dentro de seu carro vermelho.
Vou participar da corrida junto com Ethan. Ele não é tão bom quanto João no racha, mas tenho quase certeza que é melhor do que Vicenzo.
Uma garota da gangue vermelha aparece entre os dois carros e pede se os competidores estão prontos. Aponta um revólver para o céu e atira.
Ethan vai ganhar, tenho certeza. Porque se ele perder... Não penso nisso. Só sinto a adrenalina. Ele é firme, assim como é no surfe, tem equilíbrio e familiaridade com o carro. O carro é parte dele. Ele não dirige, ele dança com o carro. É diversão sob pressão.
Olho para o lado. Vicenzo parece estar preocupado. Acelera mais um pouco e fumaça começa a sair do capô do carro. Eu sorrio. Maravilha!
Falta pouco. Ethan não perde velocidade, continua constante, sempre na frente. 1, 2, 3... Chegamos.
Vejo João e o pai dele ajoelhados na areia e com um pano amarrado na boca. As mãos amarradas nas costas. Saímos rapidamente de dentro do carro.
- Ganhamos. Devolvam eles agora - fala Ethan.
- Hummm... Acho que não - diz um homem vestido todo de preto com uma faca na mão. - Infelizmente, eles têm muitas dívidas e se não têm dinheiro pra pagar, eles pagam com a vida.
- Quanto eles devem? - pergunta Ethan desesperadamente.
- Que pena! O tempo deles acabou - diz o homem rindo.
Um carro vem em alta velocidade pela rua na beira da praia. Sasha e Mari. Elas devem ter ligado para a polícia. Mas quando viro em direção ao João e ao pai dele novamente... Escuto um som agonizante. O homem enfiou a faca no peito do pai de João. João grita e arregala os olhos, que começam a ficar marejados. Não sei o que fazer, só fico parada. Penso que não tem como ficar pior, só que... O homem também enfia a faca no peito de João. Ethan corre na direção do homem e tenta tirar dele a faca, fico com mais medo a cada segundo. E se o homem machucar Ethan também? A faca cai no chão e o homem sai correndo para dentro do carro de Vicenzo. Este, está com cara de assombração.
- Esse... Esse não era o combinado - diz.
Vicenzo se aproxima para tentar ajudar, mas Ethan grita para ele ir embora e então ele vai.
Ethan tira o pano da boca de João e do pai dele. Sasha e Mari estão correndo em nossa direção. O pai de João está inconsciente. Sangue sai da boca de João. Ele pega a minha mão e a aperta.
- Vocês vão ficar bem - digo segurando as mãos dos dois.
A ambulância chega e os leva para o hospital. Vão direto para a sala de emergência fazer cirurgia. Todos estão em choque. Eu não consigo pensar em nada, só chorar. Lágrimas escorrem dos meus olhos, mas o meu rosto continua como pedra, nenhuma expressão aparece nele. No hospital, olho para as minhas mãos cheias de sangue e tudo que penso e que desejo é que João e seu pai fiquem bem.

Ethan e IslaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora