DBM (Don't blame me)

1

- O que você quer? _ disse ela num tom de voz rude. A voz era bonita e boa de ouvir. Senti borboletas no meu corpo ao ouvir a voz dela.

- Quem és tu? _ perguntei esperando uma resposta dela. Porém ela se limitou a olhar para mim. Eu vi os olhos dela percorrendo o meu corpo, provavelmente me julgando pelas minhas vestes.

- Espero que entenda que eu não preciso te explicar nada do que aconteceu aqui, daqui a uns momentos tu irás te esquecer de tudo isso. Não te irás lembrar de tudo o que viste desde que eu cheguei. A tua mente e as de todas as pessoas criará um cenário imaginário sobre o que se passou. _ foi muita coisa para eu absorver naquele momento. Eu tirei um lenço do meu bolso e dei-lo para ela limpar a cara. Devo dizer que eu me vi a ficar com ela para a vida toda naquele momento.

- Obrigada por me teres salvado. Acho que te devo um favor. _ essas foram as únicas palavras que me saíram da boca naquele momento. Vi a expressão dela a mudar de raiva para um pequeno sorriso.

- Você poderia retribuir-me esse favor agora? _ eu tinha achado que era cedo demais. Na maior parte das vezes que nós dizemos que devemos um favor, mas nunca o chegamos a fazer.

- O que seria? _ Perguntei sem pensar no que ela iria pedir.

- Eu tenho fome, me dê algo para eu comer. _ confesso que esperava que ela fosse pedir outra coisa. Olhei para os meus bolsos e vi que não tinha dinheiro comigo.

- Eu não tenho dinheiro aqui, mas eu posso te levar para minha casa e te dar algo para comer. _ disse olhando para as sapatilhas da minha irmã e ajeitando a caixa.

- Tu achas mesmo que eu iria para casa de um homem desconhecido a meio da noite? _ lembro-me de na altura tampar a cara com as mãos por conta de vergonha.

- Não precisas de entrar, basta ficares na porta que eu mesmo vou lá dentro e entrego-te algo.

- Então vamos.

Eu e ela saímos do armazém e fomos dar ao parque de estacionamento. Tinham várias ambulâncias e pessoas as descreverem o que se passou de uma forma totalmente diferente, mas que parecia muito real. Nunca senti um silêncio tão constrangedor como aquele que estava se ali a passar no caminho para minha casa. Estava escuro e era de noite, começou a chuviscar. Eu vi ela tirando um guarda chuva da mochila que ele tinha. Lembro-me bem da mochila dela era preta e tinha um chaveiro da Hello Kitty e tinha outra que era uma boneca pequena que se parecia com ela. Ela se aproximou de mim e me entregou o guarda chuva.

- Você é mais alto, deve ser você a segurá-lo. _ e eu assim fiz, indo o caminho todo a segurar o seu guarda chuva. Reparei no cheiro dela, ela cheirava a um campo de flores cheirosas. Os olhos dela reluziam quando passávamos na frente de algum candeeiro de rua. Coloquei o braço em cima do ombro dela para que ela não se molhasse, mas lembro-me de ela não gostar então retirei a minha mão respeitando o espaço dela. Como estava a chover ela decidiu entrar na minha casa, a minha mãe que estava mal nesse dia levantou-se do sofá e veio andando lentamente até ela.

- É um prazer conhecê-la, o meu nome é Agnes. _ e foi esse o momento que eu ouvi o nome dela pela primeira vez. Eu senti minhas bochechas queimando enquanto eu olhava para ela.

Minha irmã desceu as escadas, em passos lentos e se deparou com a Agnes. Acho que ela ficou impressionada com a Agnes, ela tinha uma aparência bonita, que seria muito desejada por as garotas da idade da minha irmã.

- Que bonita! Ela é sua namorada, Eros. _ Agnes olhou atentamente para ela e pegou a saca com as sapatilhas das minhas mãos.

- Seu irmão comprou elas para você. _ disse Agnes entregando as sapatilhas para ela. Agnes e a minha irmã Lili subiram para o andar de cima juntas.
Eu fiz o jantar enquanto conversava com a minha mãe. Acho que desde aquele momento eu sabia que era a Agnes quem eu queria ao meu lado.

Agnes e a minha irmã desceram quando eu chamei elas. Eu queria perguntar tantas coisas á Agnes sobre ela naquele momento, mas eu sabia que eu não devia falar o que ela fez na frente da minha família. Foi um jantar sossegado, ela falava como se me conhecesse á muito tempo. A fala dela era delicada e bem-educada. A minha mãe e irmã pareciam fascinadas com ela.

No final do jantar eu pedi á Agnes que se dirigisse ao terraço para eu falar com ela. Eu tinha que lhe perguntar se ela iria apagar a minha memória e modificá-la.

- Eu vou. _ foi as palavras que ela me disse. Naquele momento senti o meu coração a ser partido em pedaços.

- Não pode fazer isso, eu não me quero esquecer de você. _ às vezes eu queria ter me esquecido de tudo e nunca ter passado nada disso. A minha relação com ela teve os seus momentos bons e maus.

- E se você contar a alguém? _ perguntou ela, fazendo com que eu se atira palavras para lhe dar uma resposta rápida.

- Eu prometo nunca contar. Eu quero ser seu amigo Agnes, eu preciso de alguém para me apoiar.

- Está bom, eu deixarei. Porém se você contar eu terei que te matar. _ tive medo naquela altura, porém o meu coração estava a bater muito rápido por conta da paixão que eu tinha nela.

- Você tem poderes? Eu vi o que você fez e isso foi incrível. _ ela sorriu. Senti que ia desmaiar, uma mulher bonita sorrindo para mim.

- É eu tenho. Aquilo não foi nada demais. _ disse ela.

-Bem eu tenho que ir. Obrigada por o jantar. Nós vemos por aí. _ disse ela sorrindo para mim e desaparecendo.
Não me lembro muito de bem de quanto tempo se passou para a ver novamente, mas eu lembro-me de olhar para todos os cantos para ver se a via, mas nada dela. Era como se ela tivesse desaparecido.

Dei por mim a ficar louco a esperar que aquela mulher se aparece do nada e ilumina-se a minha vida, mas nem sinal dela. Era como se ela tivesse evaporado. Cheguei a ir ao shopping várias vezes para ver se a encontrava. Sentia-me entre duas paredes que estavam cada vez a ficar mais juntas comigo ali no meio.

Não desisti de a procurar, mas comecei a perder a esperança de a voltar a ver. Comecei a desejar que ela tivesse apagado a minha memória para que eu não sentisse falta de a ver.

Continua....