Quando Jonathan foi corajoso e inconsequente

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Vicente engoliu em seco, ele estava aliviado que o pai o tinha aceitado, no entanto, não sabia como ele iria reagir ao descobrir que ele estava namorando o filho de seu grande amigo. E se também ficasse contra?

Enquanto isso, Jonathan tinha entrado em casa, porém sentia como se estivesse em um lugar totalmente diferente. Seus pais ainda estavam no trabalho, então ele andou pela sala, largou a mochila no tapete e ficou olhando para os porta-retratos em cima da lareira. Havia algumas fotos dele quando criança, uma de seu pai e o vizinho na época da universidade, uma do casamento de seus pais. E no canto, uma que antes nunca tinha significado nada, mas que agora atraiu sua atenção. Era um piquenique de verão, provavelmente em 96 ou 97, ele devia ter uns seis anos ali. Seus pais tinham se juntado aos Castello para um almoço em família como geralmente faziam e enquanto Vicente aparecia sorridente na foto, ele estava com uma expressão fechada. Aquilo foi bem na época em que seus pais estavam insistentes para que os dois se tornassem amigos, então ficavam inventando esses programas em família para juntá-los. No entanto, isso nunca deu certo, ele passava o tempo todo incomodado com qualquer coisa que Vicente fazia e Vicente não lhe dava a menor atenção, estava por todo canto como uma borboletinha social conversando com todo mundo. Ao se lembrar disso, ele riu sozinho na sala escura.

Como a vida era irônica...

— Eu realmente te odiava Vicente, como pode ser que agora eu vá arriscar a minha vida porque eu amo você? — ele balançou a cabeça e colocou o porta-retratos no lugar — Vê pai? — ele perguntou enquanto olhava para a imagem do homem na foto — Eu estou próximo de Vicente como você queria, por que você odeia isso agora?

Dito isso, ele deu as costas, pegou sua mochila e subiu para se jogar na cama se sentindo como um derrotado. E ele ficou tanto tempo deitado ali na mesma posição que viu o sol ir sumindo aos poucos da parede até o quarto ficar gelado e escuro. Algumas horas depois, ouviu o barulho do carro de seu pai estacionando na garagem. Aquilo o acordou para vida e então levantou, pegou uma muda de roupas e foi tomar um banho.

O jantar tinha sido servido perto das sete horas. Assim como em todos os dias, o pai de Jonathan estava lendo o jornal enquanto aguardava na mesa. Ele se aproximou e sentou em seu lugar enquanto ouvia o ruído da televisão ligada e abandonada na sala. Sua mãe veio logo depois com uma tigela de salada e o jantar. Todos se serviram e o homem largou o jornal para comer. As mãos de Jonathan estavam tremendo tanto que ele mal conseguiu segurar o garfo, também estava enjoado e nervoso demais para conseguir comer. Ele olhou para a mãe e depois para o pai e decidiu colocar aquilo logo para fora:

— Pai, eu preciso te falar uma coisa — começou.

Sua mãe ergueu o rosto e arregalou os olhos no mesmo instante, pressentindo o que estava prestes a vir.

— O que foi? Precisa de ajuda com algum trabalho de novo? Sério, você precisa ter mais responsabilidade — seu pai respondeu de boca cheia.

— Não — sua mãe o estava freando com o olhar, porém ele a ignorou e prosseguiu — É algo sobre mim.

— Jonathan — ela pousou o garfo com mais força que o normal no prato — Podemos jantar em silêncio? Você pode falar com o seu pai depois.

Ele olhou para a mãe, porém não iria voltar atrás. Assim, se virou novamente para o pai:

— Precisa ser agora.

— Fala então — o homem não estava dando muita atenção.

— Jonathan — sua mãe o chamou de novo, ela estava a ponto de ter um colapso.

— O que é isso? Deixa o garoto falar, até parece que ele vai falar algum absurdo — o homem o encarou — Desembucha.

Jonathan respirou fundo e criou coragem para se abrir, já estava longe demais para recuar agora. Aquilo era por Vicente, para não ter que vê-lo continuar naquele sofrimento. Também era por ele mesmo, não queria mais viver naquela mentira.

Primeiro amor na casa ao ladoWhere stories live. Discover now