Capítulo 48: Aliada surpresa - Tia Dulce!

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- Cale-se Virginia!

Virginia tocou em um assunto delicado, segredo de família que deixou a senhora ainda mais nervosa. E quando a situação parecia suficientemente tensa, uma jovem entra na sala indagando:

- Por que Virginia precisa se calar madrinha? Até quando a senhora vai me esconder a identidade da minha verdadeira mãe?

A moça franzina de cabelos escorridos, de rosto delicado escondido por um par de óculos, nitidamente tímida, se apresentou.

- Volte para seu quarto Ana, essa conversa não tem nada com você, Virginia e as amigas dela já estão de saída.

- Madrinha, eu ouvi tudo. Nunca entendi o esforço de vocês para me manter longe da filha de vocês, mas agora entendo. Ela é minha mãe!

- Anna não fale besteira!

- Virginia, o que está acontecendo com minha mãe, a Pietra?

O clima tenso estava instalado. Mas, Anna, não parecia nervosa. A timidez aparente deu lugar a uma segurança tranquila e a moça ignorou os insistentes apelos de dona Dulce para deixar a sala.

- Vou chamar meu marido aqui, vocês estão todas loucas!

A senhora saiu apressada, enquanto Virginia se apressava em contar mais uma vez o motivo de estarmos ali. Anna escutou tudo atentamente.

- Onde ela está nesse momento? – Perguntou depois de escutar nosso relato.

- No Rio. – Respondi.

- Ela acha que Megan mantém Camila longe, foi uma condição que impôs para não delatar Lauren e seu irmão. – Virginia completou.

- Ela está doente, precisa de tratamento, a melhor alternativa é de fato obrigá-la a se tratar, a interdição pode demorar, mas diante da urgência, podemos solicitar uma liminar, baseada no laudo da médica que a acompanha, isso será mais fácil não?

Anna parecia segura do que estava dizendo.

- Ana cursa direito. – Virginia explicou. – Acho que podemos descobrir a médica que a acompanha sim Ana.

Os pais de Pietra entraram na sala afobados. O senhor calvo berrou:

- Anna já para seu quarto, e vocês todas fora da minha casa, agora!

- Padrinho ninguém vai sair daqui até resolvermos a situação da Pietra, minha mãe! Ela precisa de tratamento e vai receber nem que eu seja obrigada a fazer isso judicialmente, só vocês podem pedir a interdição, e vocês vão pedir isso, de outra forma, solicitarei uma ação de investigação de maternidade, e como filha dela, eu mesma poderei pedir a interdição, é isso que vocês querem? Demorará mais tempo, mas o escândalo será bem maior também.

A altivez e segurança da jovem pareceram surpreender não só a nós, mas aos seus avôs também.

Um silêncio incômodo se instalou, a troca de olhares entre Anna e seus supostos pais adotivos falava mais do que qualquer discussão, como se os desafiasse, a filha de Pietra não desviou os olhos como se afirmasse categoricamente, que nada a faria dissuadir de sua decisão.

- Vamos para o Rio, entraremos com a ação lá, o endereço da minha mãe é de lá, não? Acho que vocês podem entrar em contato com a médica que a acompanha para que a gente possa incluir seu laudo no pedido de interdição, não podem?

Megan acenou em acordo, os pais de Pietra pareciam chocados com a nova face daquela frágil menina.

- Padrinho, madrinha? Vocês não vão dizer nada?

- Virginia, você pode levar suas amigas para dar uma volta? Precisamos conversar a sós com a Ana.

Nossa espera pareceu uma eternidade, cada minuto que se passava aumentava minha angústia e minha dor por estar longe da mulher que eu amava, e pior, fazendo ela sofrer.

Cerca de uma hora depois, Anna surgiu na calçada da casa, solicitando que entrássemos.

- Muito bem, nós faremos o que vocês querem, vamos interditar a Pietra, para tratá-la.

Um suspiro de alívio ecoou na sala. Anna tomou a frente da situação, determinando nossos próximos passos. Parecia determinada a curar a mãe, e enfim, iniciar uma relação de mãe e filha, que obviamente ela sentia falta.

Partimos para o Rio, seguidas de Anna e seu avô. Pietra parecia me monitorar, ligando para Megan várias vezes, pedindo para falar comigo a fim de assegurar que eu continuava em sua vigilância. Virginia ficou responsável por descobrir o nome do psiquiatra que acompanhava Pietra, planejava pegar o celular da prima, certamente encontraria ali o nome de algum médico.

- Vou ligar para Dinah, é melhor que vocês fiquem na casa dela. – Comentou Virginia.

- Virginia, por enquanto, não é prudente que Lauren saiba o que está acontecendo. Pietra está acampada na casa dela, desconfiaria de qualquer mudança em seu comportamento.

Megan disse, quase sem perceber o que revelara: Pietra estava com Lauren. Sabendo da vulnerabilidade de minha noiva, imaginei que Pietra estava se aproveitando disso para impor sua presença sob o pretexto de ser sua amiga.

- Megan, não aguento mais, foram três dias horrorosos imaginando o que Lauren está passando, preciso falar com ela, ao menos deixe que Virginia lhe explique tudo...

- Mila, você sabe os riscos, Lauren ficaria possessa de raiva...

- Lauren não é criança, ela saberia como agir! – Defendi.

- Calma, vamos com calma. Primeiro vocês se instalam na casa da DJ, eu encontro o contato do psiquiatra da Pietra, sondo como estão as coisas com Lauren, e dependendo da situação, converso com ela, ok?

Virginia segurou minha mão, não muito convencida, aceitei a sugestão. Dinah praticamente teve uma síncope quando me viu com Megan na sua casa.

- Camila! Meu Deus você está viva! Inteira!

Ela me abraçou eufórica.

- Ei! – Estapeou-me. – Como ousa estragar a festa que eu estreei um vestido deslumbrante de madrinha?!

- DJ, tudo tem uma explicação.

Pacientemente explicamos o que aconteceu, e aí, minha amiga parecia se preparar para síncopes seguidas. E quando eu era consolada por DJ, ouvi a voz familiar da mulher que eu amava:

- Eu precisava ver com meus olhos, não podia acreditar quando me falaram que a mulher que se casaria comigo, me abandonou no altar para fugir com outra!

- Lauren!

Virginia entrou em seguida se defendendo...

- Não tive culpa, ela me seguiu...

Eu me aproximei de Lauren, ansiosa por abraçá-la e explicar tudo para nos entendermos.

- Lauren...

Não esperava o que se seguiu. Lauren não me deixou falar. Minha face sentiu todo o peso de sua mágoa, a mão que me acariciava encontrou meu rosto com violência. Aquele tapa não marcou só minha pele, me arrancou também a voz, me despedaçou.

- Como não vi antes, a vagabunda que você é Camila?

Sei que é amor - Ainda sei, é amor.Where stories live. Discover now