Capítulo 23: 2º Round - Memórias

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Não pude acreditar quando corri para a porta e encontrei Lauren ao abri-la. Estava parada no corredor com seu sorriso arrebatador, não me contive e a abracei forte, envolvendo meus braços em seu pescoço.

- Não acredito que você está aqui...

- Passei o dia procurando um médico para me substituir na comunidade e peguei o primeiro vôo pra cá...

- Vamos sair daqui...

Levei Lauren para minha casa, julguei que seria deselegante de minha parte levá-la para um hotel quando ela me acolheu em sua casa no Rio. Mas eu não estava à vontade e lutei para disfarçar. Lauren passeou por minha casa, olhou com certo desconforto as fotos minhas e de Natalie espalhadas pela sala.

- Vou acomodar suas coisas no meu quarto... Depois pedimos alguma coisa para jantar, meu talento para cozinha continua o mesmo...

- Hurrum...

No quarto, inevitavelmente Natalie estava presente, em fotos, na decoração, e o olhar de Lauren denunciava sua insatisfação com isso.

- Você quer tomar um banho antes de jantarmos?

- Sim, eu gostaria.

Nosso constrangimento era tão óbvio que não ousamos nem aproximação física. Mantive-me na postura de uma educada anfitriã enquanto Lauren parecia uma tímida hóspede.

- Alguma preferência para o jantar?

- Qualquer coisa estará perfeita...

Lauren meio sem graça caminhou em minha direção e involuntariamente me esquivei, derrubando um porta retratos de Natalie.

- Ai, que desastrada que sou...

Recolhi o porta retratos do chão sob o olhar atento de Lauren, o nervosismo inexplicavelmente tomou de conta de mim, sentia como se estivesse sendo acompanhada de perto por Natalie. Lauren me abraçou e me beijou suavemente, um beijo morno, cheio de receio. Nervosa, tentei desviar dos carinhos de Lauren:

- Vou ligar para o restaurante chinês, Natalie.

Minha reação só não foi mais rápida do que a de Lauren que bruscamente se afastou e recolheu sua bolsa.

- Lo...  desculpa... por favor, eu sei que não há perdão... Espera, aonde você vai?

Lauren saiu do quarto sem me escutar.

- Lauren espera!

- Não Camila, eu não devia ter vindo pra sua casa. Nessa casa não há espaço para mim.

- Lauren eu sei que você tem motivos pra estar chateada, foi um vacilo meu, a foto que caiu...

- Camila quer saber? Não me admiro de você chamar o nome dela, ela está em toda parte dessa casa, ela ainda está em você... Já faz quase dois anos da morte dela e você a mantém viva nesse santuário que é sua casa.

- Era minha casa com Natalie, o que você esperava? Que eu jogasse fora todas as lembranças que tenho de minha mulher? Não tenho motivos para isso Lauren, Natalie nunca me magoou, só me fez feliz, não quero me desfazer de nada dela.

- Ao contrário do que fez comigo não é? Jogou no lixo nossas fotos, os presentes que te dei...

- Você não está querendo se comparar a Natalie, não é?

- Se estivesse o que teria de errado nisso?

- Ah Lauren, por favor... Não faça isso... Não é justo comigo.

- Não é justo comigo você colocar Natalie em um altar, enquanto me equipara a uma sedutora inveterada.

- Lauren não é bem assim... Mas uma coisa é fato: Natalie nunca me magoou e nunca faria o que você fez comigo.

- Isso você nunca vai saber... Ela não está mais aqui para ter a oportunidade de magoar você, decepcionar você... Será para sempre a santa mulher perfeita, e eu serei para sempre a vaca traidora.

- Lauren para com isso... Nunca te comparei a Natalie, desde que nos reencontramos mal falei dela com você, apesar de sentir que a traio quando estou com você. Você não imagina a confusão interior que enfrentei e enfrento pensando o que Natalie pensaria se pudesse me ver hoje com você...

Lauren me olhava furiosa, e eu me sentia indignada por ter que me justificar com ela pelo respeito que tinha a memória de Natalie.

- Certamente ela pensaria que estou me aproveitando de sua vulnerabilidade, de sua ingenuidade com minha sedução e me assombraria o resto da vida até eu te deixar...

- Para Lauren! Essa discussão está tomando uma proporção ridícula! Depois de tudo que ouvi de Harry hoje não preciso de uma crise de ciúmes infundada de sua parte.

- Crise de ciúmes? Você está minimizando tudo a ciúmes? O que foi que o presidente do fã clube de Natalie te falou? Pelo jeito Natalie já arranjou um jeito de me assombrar, não é?

- Chega Lauren! Natalie não tem nada com nossa história, não toque no nome dela. Foi um incidente lamentável eu te chamar pelo nome dela, mas não tem sentido você se ofender com isso e fazer essa tempestade.

Lauren caminhou até a porta balançando a cabeça e com os olhos marejados me olhou e disse:

- Não tenho direito de me ofender... Não posso tocar no nome de Natalie... Não posso me comparar a ela... O que mais? Não posso também profanar o templo dela... Nem ter crise de ciúmes... O que posso fazer com a minha namorada?

- Lo... Você pode fazer comigo o que as namoradas fazem quando estão com saudade...

Aproximei-me de Lauren segurando sua cintura.

- Estou morrendo de saudades de você... Não vamos perder tempo com discussões bobas... Fica...

Insisti procurando sua boca.

- Eu fico com uma condição.

- Eu faço... Qual condição?

- Guarde as fotos de Natalie...

Eu me afastei, franzi as sombrancelhas e perguntei:

- Você só pode estar brincando, não é?

- Não, claro que não.

- Lauren isso não tem graça...

- Então... Não posso ficar.

Lauren saiu da minha casa pisando forte, com um olhar magoado, mas não a segui. Estava chateada pelo pedido que ela fez, não julgava que ela tivesse o direito de expulsar Natalie da minha casa, da minha vida.

Aquela discussão acentuou minhas dúvidas acerca do meu futuro com Lauren, a reação dela à presença de Natalie na minha vida seria mais um obstáculo em nosso relacionamento. Depois da saída de Lauren fui tomada por um dilema de pensamentos: as lembranças de meu casamento com Natalie e vontade de correr atrás de Lauren e me entender com ela, matando a saudade precoce. Mas, conclui pela experiência que adquiri no meu convívio com Lauren, o mais sensato era deixá-la refletir sozinha, entretanto, a angústia pela falta de notícias dela tirou minha paz, meu sono.

Era quase madrugada quando meu celular tocou, era o número de Lauren:

- Li... onde você está, meu bem? – perguntei angustiada.

- Oi Camila, sou eu, Megan, estou ligando do celular da Lauren.

- Megan?! O que você está fazendo com o celular da Lauren?

- Bem... Ela chegou aqui no Colors, bebeu muito, e passou mal... Peguei o celular dela na intenção de procurar o número de algum parente sei lá... E a última chamada que vi foi a sua... Reconheci o número e resolvi ligar para avisar, ela não está bem.

- Ai caraca... Ela não pode beber muito, ela toma medicações muito fortes...

- Vou levá-la para o loft, você pode pegá-la?

- Sim chego aí em poucos minutos, obrigada Megan.

Sei que é amor - Ainda sei, é amor.Where stories live. Discover now