Capítulo 39: Explicações

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- Bom, não sei se a amizade com ela está abalada, mas com a Dinah com certeza, você tinha obrigação moral de ter contado a sua amiga o que houve entre vocês. Ela está apaixonada, enquanto você e Virginia se perdiam numa DR na cozinha, ela me confessava que já havia desistido de se entender com uma mulher até conhecer Virginia.

A análise de Lauren me destroçou. Magoei minhas duas melhores amigas e a decepção de minha noiva era óbvia.

- E quanto a nossa relação? Também ficará abalada com minha omissão?

- Camila eu poderia usar isso contra você um dia sabia? – Lauren sorriu sarcástica andando em minha direção. – Poderia fazer um discurso moralista sobre sua perfeição maculada, ou ainda sobre o quanto todos nós somos vulneráveis a tropeços, a erros, a deslizes...

- Poderia? E já não está fazendo?

- Ah não... Se eu fizesse isso, estaria agindo como uma pessoa rancorosa e hipócrita, e felizmente isso não sou.

- E então, como você vai agir comigo? Vai me deixar de castigo?

Envolvi meus braços em sua cintura, procurando decifrar seu olhar.

- Acho que o castigo não é necessário, você já está se martirizando o suficiente... Você não me traiu, não me enganou, mas, não foi honesta, ao contrário do que você afirma, o que aconteceu entre você e Virginia foi importante sim. Mas, isso serviu para te mostrar que você é humana e que pode ser capaz de mentir, de trair, como qualquer pessoa, por isso seja mais tolerante com as fraquezas dos outros.

- Está me dizendo que se você fizer algo parecido comigo tenho que te perdoar porque eu já fiz o mesmo?

- Não, estou dizendo que você precisa ser menos orgulhosa e assumir suas fraquezas, assim como todas as pessoas fazem, porque todos nós somos feitos da mesma essência. Você se ofendeu quando eu escondi fatos que eu julguei sem importância, puniu Harry pelo mesmo motivo, e quando caiu no mesmo erro preferiu manter escondido a perder sua tradição de mulher perfeita.

- Nossa... E isso não é discurso moralista?

- Não, esse é meu jeito de dizer que eu não vou te punir, não vou deixar que isso abale nossa relação, porque eu te amo demais, e não vou deixar que uma pirralha aprendiz de Natalie me roube você!

Gargalhei e colei meus lábios no lábios de Lauren e sussurrei:

- Ninguém me rouba de você, sou sua para sempre.

Beijei Lauren com paixão, jogando seu corpo na cama. Ela sorria maliciosa observando eu me despir, num movimento hábil ficou sobre mim quando caí sobre ela, me segurou pelos punhos acima da minha cabeça...

- Quer dizer então que minha mulher é pegadora? Não posso te deixar uns diaszinhos solteira e você vira até papa-anjo, né?

- Melhor você dar conta da pegadora aqui, antes que eu procure a energia das menininhas...

- Ah é? Você vai ver do que a coroa aqui é capaz!

Adorava desafiar Lauren. Instigar seu espírito competitivo. Naquela noite como se fosse possível ela se superou, me arrasou na cama, me deixando sem forças até para retribuir os orgasmos que ela me deu, mas não foi necessário, ela gozou com meu gozo, na matemática incrível do amor uma mais uma era igual a uma. Fomos uma só naquela cama.

***

O domingo me reservava um desafio: enfrentar um programa familiar com Vitoria. Até tentei dissuadir Lauren a desistir da idéia de enfrentar a praia em pleno domingo, mas foi inútil. Vitoria adorava praia, a pirralha precoce era alucinada por esportes, justamente naquele domingo, acontecia a etapa final do mundial de vôlei de praia feminino.

Tensa, segui para praia da Barra com Lauren, encontraríamos Vitória e seu pai na entrada da arena.

- Camz, relaxa... A Vivi nem lembra mais do que aconteceu.

- Com a peste da Pietra enchendo a cabeça dela? Duvido!

- No dia da apresentação do colégio dela eu conversei com minha sobrinha, disse que você era muito divertida, gostava de brincar, de contar historinhas, que cuidava do dodói de criancinhas, enfim enchi sua bola, trate de não se descontrolar.

Se o intuito de minha noiva era me tranquilizar, ela conseguiu exatamente o contrário. Agora eu precisava me comportar como animadora de festa infantil diante de uma criança que para mim tomava ares dos protagonistas do programa Super Nanny.

No portão da arena, Vitória nos avistou e correu em direção aos braços da tia.

- Oi meu amorzinho, lembra da Camila?

A menina tímida só acenou em acordo com a cabeça.

- Fala oi pra ela então Vivi.

- Oi.

A vozinha aguda da menina soou acanhada.

-- Oi Vivi, então, já sabe por quem você vai torcer hoje?

- Claro que sei! Pelo “Basil”.

- Ah então ótimo vou torcer com você então!

Não obtive o melhor sorriso do mundo, mas pelo menos não levei um chute na canela. Chris tratou de ficar perto de mim, acho que a pedido de Lauren, para que a filha confiasse mais em mim. Eu que já enfrentara platéias com milhares de pessoas, médicos renomados me sabatinando, bancas científicas rigorosas nunca me senti tão intimidada com alguém como ficava diante dos olhos atentos de uma menina de cinco anos. Mas, estava me saindo bem, fui a única a topar pintar o rosto de verde e amarelo, depois de muita insistência da Vivi, isso nos fez companheiras de torcida me deixando mais confiante na tentativa de conquistar Vitoria. Mas a pedra estava lá para sabotar qualquer aproximação minha de Vitoria.

- Vivi!

A megera recebeu um abraço apertado da menina. Minha expressão de decepção e mais que isso irritada, voltou-se para Lauren que levantou as mãos como um zagueiro de futebol que comete uma falta grave se eximindo da culpa.

- Mas que diabos essa mulher está fazendo aqui Lauren?

- Eu não sei, eu não sabia que ela viria!

Sem cerimônia Pietra sentou em um pequeno espaço ao lado de Chris que por acaso estava sentado ao meu lado. Colocou Vitoria no colo e logo perguntou:

- Você está linda! E essa pintura quem fez? Eu também quero!

Amassei a garrafa de água que segurava tamanha era minha raiva daquela mulherzinha.

- Camz se controla... Se você demonstrar animosidade com a Pietra vai acabar afastando a Vitoria de você...

Lauren cochichou prevendo o que poderia acontecer dada minha irritação. Fez sinal para Chris...

- Filha vamos comprar picolé?

Vitor colocou a menina nos braços e saiu pela arquibancada, era a deixa para expulsar Pietra dali:

- Qual é seu problema Pietra? Eu te disse pra ficar longe da Vitoria! – Lauren exortou.

- Meu problema se chama Camila, e Lauren minha querida, você só manda em mim na cama, não manda na minha vida.

- Pietra essa arquibancada é imensa, você vai sair de perto de nós, não quero sua influência na vida da minha sobrinha, nem eu quero, nem o pai dela quer. Camila será minha mulher em pouco tempo, e Vitoria também será a família dela, não faça esse papel deplorável de usar uma criança nos seus propósitos, porque não vai funcionar, nada vai me separar da Camila.

- Isso mesmo, dá o fora daqui! – Cruzei os braços com ar orgulhoso pela defesa de minha noiva.

- Eu não vou dar o fora daqui, paguei ingresso como vocês. Eu vim assistir ao jogo de uma amiga e não arredo o pé até vê-la arrasando nessa quadra.

- Amiga? Conta outra Pietra! – Lauren bufou.

- Amiga e ex-namorada. Você não sabe quem vai jogar hoje?

- Uma dupla brasileira de vôlei de praia contra uma brasileira...

- A dupla brasileira: Laila e Sheila.

Sei que é amor - Ainda sei, é amor.Where stories live. Discover now