Capítulo 5 - Parte 2

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Um homem todo sujo nos perguntou, se ainda tinha bastante trabalho, resmungando se afastou quando dissermos que não sabíamos de nada. Essa foi nossa recepção na terceira zona, os olhares daquelas pessoas eram iguais aos nossos, sendo como um sufocante gemido de boas vindas.

Passamos o dia todo à procura de alguma casa para ficarmos, mas não conseguimos sequer um local para passar a noite. Já que tudo estava ocupado por trabalhadores, que vinham de toda a região da zona com esperança de conseguir uma vaga de emprego.

Continuamos caminhando para tentar espantar o sono de nossas cabeças. Tínhamos medo de dormir e sermos roubados, até que uma fraca garoa começou e as ruas foram se esvaziando. Até que só restava nós duas, em meio as gotas e a lama lisa que se formava.

Mamãe nos guiou ao local mais longe das casas, praticamente um lixão cheio de pedaços de móveis quebrados por todos os lados, papéis velhos e outras coisas fedidas. Sem muita escolha construímos um telhado de madeiras azedas e mofadas e revestimos com papéis velhos para passar a noite.

O calor de mamãe, era colhedor e suas mãos limpavam as minhas lágrimas, seus olhos tinham apenas uma fina camada de brilho, mas isso me dava segurança para fechar os olhos.

Uma sensação estranha passava pelo meu corpo, de ser chacoalhada e ouvir alguns murmúrios, ainda assim não me importei em abrir os olhos para conferir. Acordei. não sabia onde estava. Já havia começado a gritar, quando mamãe apareceu e me abraçou.

- Vamos ficar aqui alguns dias, até conseguirmos alguma coisa melhor - Seu sorriso era forçado e seu respirar ofegante.

As paredes eram de uma madeira escura e com muitas frestas de onde escorria uma água misturada ao sebo das paredes, que descia até o encontro com o chão já muito remendado. Os pregos velhos e enferrujados que uniam as ripas, estavam saltando, como se a madeira tivesse secado por muito tempo. Nesses mesmos pregos agora nas paredes, nossas coisas acharam um apoio para não tocarem no chão, por onde muitos insetos camuflados passeavam, naquele tom de preto oleoso.

- Vamos ficar, bem - Exclamou ela com seus lábios trêmulos, procurando alento nos meus olhos.

- O que vamos fazer? - Questionei em um tom morto, quando o prego cedeu derrubando nossas poucas coisas, que se espalharam pelo chão.

- Vou arrumar um trabalho, devem precisar de gente por aqui também, carregando as carroças ou algo assim. Eu sou bem resistente - Sua expressão de sorriso, era mais como uma careta.

Ela olhava para mim, travava e começava a chorar, eu queria ser forte, queria resolver tudo, mas eu me sentia como se fosse o menor inseto rastejante.

***

Conforme as moedas iam sumindo do saco, mamãe começava a sumir de casa. Ela chegava cada vez mais suja e com muitos cortes pelo corpo. Corria até ela, mas o que eu podia fazer? Apenas assoprava as feridas na esperança de trazer algum alívio.

- Achei um trabalho, eu disse que iria conseguir. Vamos sair daqui! - Ela tentou sorrir, mas seus lábios não acompanharam.

Não passamos muito tempo juntas, ela precisa voltar ao trabalho. Mal chegava para comer e já saia de novo, sorrindo dizendo que iríamos sair dali, ela se agarrava nessa ideia, era a única coisa que nós tínhamos.

Aquela casa velha já estava me dando pesadelos, o chão frio coberto por um pano velho. Pensei em sair e dar uma respirada, qualquer coisa que pudesse me distrair ou assim eu pensei, mas ao tocar na trinca da porta, a lembrança da porta batendo vinha como um trovão na minha cabeça.

Recuei, me jogando novamente no canto da casa. Solucei até conseguir me acalmar. Olhei por entre as frestas nas palafitas, ali estava a terceira zona por uma cortina de lágrimas.

Dama De Ferro (EM EDIÇÃO)Where stories live. Discover now