Capítulo 2

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Colie
***

- Saiam rápido!!! - gritou alguém no lado de fora.

- Vamos - o guarda saiu primeiro.

Ao nos levantarmos e as correntes ficaram soltas no ar, o metal tilintou junto com minhas mãos que não conseguiam conter a raiva pelo que tinha acontecido há poucas horas. O guarda pulou, Zia, então Kadna e eu.

Será que eu conseguia derrubar a Kadna de novo? Pobrezinha. É tão idiota que consegue cair, mesmo com dez pernas. Dez!!!

É! A gente se ferrou...

O novo orfanato era colossal. As trepadeiras espinhosas sem flores ou folhas, subiam pelos três andares e se estendiam por centenas de metros para os lados cobrindo as paredes de pedra cinza. A grama no chão e as árvores ao redor tinham um tom ressacado e contorcido, mesmo ainda sendo primavera. Pedregulhos se espalhavam pelo que deveria ser o quintal, vários com marcas que diziam ter sido quebrados há poucos dias. Abutres rodavam o céu, ansiosos por uma refeição, abaixo das nuvens pesadas fechando o céu, que soltavam uma garoa carregada pelo vento.

Que lugar bonito!! Se eu tivesse um pesadelo num lugar sem luz, de uma guerra de homens sem cabeça seria mais agradável. Seria sim. Tão indubitável quanto um besouro é glorioso.

À nossa frente havia um grupo de cinquenta bandidos, alguns montados a cavalo apontando suas longas armas para nós, e outros a pé. Nenhum Cavaleiro da Morte à vista.

O diretor desceu de sua carruagem e vagarosamente caminhou em direção aos cavalos. O sobretudo sendo arrastado pelo vento.

- Parado aí, velhote! - gritou um dos bandidos apontando a arma pra ele.

- Não seja estúpido! - respondeu o diretor ainda andando. - Abaixe as armas. Se eu quisesse um tiroteio, não acha que já teria mandado meus homens agirem? - ele apontou para os guardas perto de nós, que sequer haviam levantado suas armas. - Quem mandou vocês?

- Nós somos da guilda do Lewis - disse o líder.

- Sério? Leeeeeewiiiiis? Como um cara com esse nome pode ser chefe de uma guilda? - zombou o diretor. Seu tom se mantinha calmo e ele sequer olhava para as outras pessoas do bando. Apenas pro líder. Este, ao ouvir a ironia do diretor, firmou ainda mais as mãos nas armas e acertou o cavalo com o tornozelo pra que se aproximasse. A essa distância a cabeça do diretor, no mínimo, explodiria. Seria uma bela cena. Linda que nem um traseiro sem pélvis.

O diretor não deu sinal nenhum com a ameaça do líder do bando.

- Temos um grande grupo aqui, talvez consigamos um dinheiro extra pelo trabalho galera - falou o bandido rindo.

- E umas insetas mais humanas também - disse um dos bandidos provocando risos entre o bando.

Houve praticamente um rosnado coletivo entre as meninas do orfanato, o diretor nada respondeu. Alguns segundos de silêncio se passaram e o bandido começou a se ajeitar sobre o cavalo e arrumar os dedos sobre a arma.

- Cara... - disse o diretor finalmente. - Está ficando frio aqui. Quer virar homem e resolver logo isso?

- Claro - respondeu o líder tentando forçar um sorriso, mas a única coisa que pude ver, foi sua raiva. Não sei quanto tempo levaria, mas o bandido explodiria em breve. E eu gostaria de não estar acorrentada quando isso acontecesse. - Nosso chefe desconfia que esse não é um orfanato comum. Na verdade, agora ficou bem claro - passou os olhos pelo grupo de meninas. - Afinal, quem raios, transporta órfãs, acorrentadas?!

- Meus métodos de educação não são da tua conta, amigo - respondeu o diretor já parecendo entediado, enquanto coçava a barba por fazer com a luva de couro.

Dama De Ferro (EM EDIÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora