No banheiro, colocou-o sentado na tampa da privada e deu início a limpeza. Não escovou seus dentes de verdade, apenas esfregou a escova umedecida superficialmente nas fileiras de dentes enquanto relatava como passariam o dia.

Seria monótono e tedioso, como sempre, mas, pelo jeito que disse, Harry quase se animou. Quase esqueceu o infortúnio que o acometia.

No entanto, o amigo confidenciou que tinha uma enorme adoração por ele, mas gostaria que fosse mais ativo, que falasse mais, que era um pecado esconder do mundo uma voz tão linda quanto a sua, pensamentos tão maravilhosos quanto os seus.

Enquanto penteava seus cabelos com os dedos, elogiava suas curvas, sua cor, sua maciez como se fossem raridades. Também deslizava carícias na testa e planejou o que fariam quando saíssem dali; primeiro iriam ao cinema, noutro dia iriam a um parque.

- Claro que não vamos naqueles brinquedos que nos colocam de cabeça pra baixo, sei que você não gosta.

Depois Louis o levaria para conhecer a família dele. Depois passariam meses viajando de carro. E sempre que encontrassem uma praia ou lago, Louis o levaria para nadar.

- Não se preocupe, não vou deixar você se afogar. Não vou tirar minhas mãos de você nunca.

Comeriam em restaurantes e lanchonetes. Iriam parar em shows no meio do caminho, principalmente se não conhecessem o artista. Dormiriam em hotéis. Comeriam hambúrgueres e batatas enquanto, sentados no capô do carro, assistiriam as estrelas pontilharem o negro da noite no alto de uma colina

- E se isso não te ajudar a sair dessa - murmurou com uma voz de chá quente com mel, deslizando o dedo por sua têmpora -, vamos procurar um médico pra saber o que há de errado com você. O que acha?

Um beijo é depositado em sua testa.

Harry não pôde responder, nem abraçá-lo, nem nada.

Sentiu-se imensamente triste ao constatar que já estava naquela situação há muito, muito tempo. Os outros haviam se habituado em vê-lo desse jeito, tanto que quando Louis o levou para a sala de jantar, ninguém estranhou.

Ele ficou sentado entre Isaac e Louis. Os outros comiam e Harry só conseguia assistir. Um prato e uma xícara até haviam sido postos diante de si, mas estavam vazios. A barriga protestava cada vez mais alto.

Em dado momento, o Diretor entrou para pegá-lo, pendurando-o nos ombros. Ninguém o impediu nem o interrogou por isso. Aquilo já era costume.

Enquanto seguia para o segundo andar, a cabeça pendurada para baixo, Harry desejava desesperadamente conseguir se desvencilhar dele, ou pelo menos se debater e ordenar que o homem não o toque, que pusesse-no no chão e que se afaste para sempre.

Quando foi deitado de bruços na mesa, quis gritar a plenos pulmões. Ruminava que, se já não tinha exercia nenhum domínio sobre o próprio corpo, que se transformasse logo em pó, assim poderia se fragmentar numa ventania, sem poder ser recolhido nem tocado por inteiro.

Mas, para sua lástima, apesar de tudo, seu corpo ainda era uma massa sólida e sensível; que retesava-se ao ter a bunda aberta; que estremecia de dor ao ter o sexo dilacerado; que se desmontava ante às estocadas brutas.

Clamores sofridos repercutiram na mente, mas não conseguiam rasgar a garganta nem se faziam audíveis a ninguém. Restava aps olhos expressarem seu tormento e desaguarem em imensa dor.

Se em toda a vida Harry temia a morte tanto quanto o demônios temiam chuva de água benta, naquele momento, enquanto sua cabeça era pressionada contra o mogno da mesa, sua histeria implorava para que homem a espancasse ali até perder a consciência e a vida.

immaculate sin of the lovers • L.S.Where stories live. Discover now