CAPÍTULO QUATORZE

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O homem bebeu devagar, devolvendo a ela em seguida.

— Vais mesmo fazer este pobre velho sofrer em indagações?

— Terá que esperar até a noite. — Riu, divertida. — Eu soube que o senhor aproveitou muito este domingo e até atreveu-se a dar alguns passos de dança na pista!

— De fato! Foi uma tarde agradável na companhia dos amigos e da menina Maribel, neta de Carlota. Uma menina excepcional!

Andressa o fitava carinhosamente. Estava feliz em saber que esteve divertindo ao invés de se isolar, como de costume. Se sentiu impulsionada em revelar algo, antes de continuar sua rotina.

— Tenho uma coisa importante para contar ao senhor.

— Pois sinta-se à vontade, minha querida.

— Eu fiquei motivada depois de ouvir suas memórias com a amiga Lili e, acompanhada de Eleonor, fomos procurar saber onde morava a família Barcelos de Almeida. Não sabíamos se ainda havia descendentes, mas mesmo assim nos aventuramos.

Ele escutava a narrativa, com uma interrogação no olhar.

— Ao chegar lá, conhecemos um bisneto dela, Seu Balthazar. E posso garantir que ele tem os mesmos olhos dela. Ao menos, foi o que constatei e Eleonor confirmou.

Ele a olhava com lágrimas nos olhos, visivelmente emocionado, porém curioso com as últimas revelações.

— Eleonor é a sobrinha de Jeremias, se não me falha a memória, certo? E como ela poderia ter tanta certeza, já que não conhecia... Não entendo.

— Ela mesma, Seu Balthazar! Sua memória está impecável! Mas continuando, depois que conversamos, ela me falou que teve um sonho, onde via Lili em uma outra dimensão, entristecida por ter ido embora, deixando-o saudoso e que ela também sentia sua falta. Foi por esta razão também que me acompanhou. Ela é sensitiva e me ajudou muito durante estes dias. — Sorriu, com um leve rubor na face.

Balthazar segurou as mãos da jovem, com a emoção aflorada no olhar.

— Minha querida... És uma moça abençoada! E este rapaz tratou vocês bem? Foram bem vindas?

— Um homem muito educado e solícito! Fez questão de nos acompanhar até o local, onde está o último repouso dela. E antes de voltar, ele me alcançou algo muito especial, que vou entregar ao senhor. — Sorriu de um jeito enigmático.

— E o que seria, senhorita Andressa?

Ela apenas sorriu, com as mãos nos bolsos do jaleco e antes de se afastar, ainda disse:

— Mais tarde, levarei para o senhor em seu dormitório. Não se preocupe que é uma surpresa boa.

Ele retribuiu o sorriso, voltando sua atenção para o jardim, onde borboletas bailavam entre as margaridas. Aquele dia amanheceu ensolarado, trazendo para o jardim um brilho especial nas folhas das árvores, que por sua vez, soprava uma leve brisa preguiçosa aos olhos, ao mesmo tempo que fazia os pardais se ouriçarem de galho em galho.

Balthazar admirava a tudo como uma obra de arte inigualável. Seus olhos percorriam cada voo das abelhas, cheias de pólen em suas frágeis patas, o movimento suave das flores e o perfume que exalavam. Era como voltar no tempo, onde podia ficar horas olhando e respirando aquela poesia viva.

Ao chegar a noite, Balthazar encontrava-se já em seu quarto, lendo o livro que ganhara da jovem enfermeira, quando ouviu as tão conhecidas batidas na porta. Desta vez, não se conteve em curiosidade e foi abrir a porta para Andressa entrar, que carregava um pacote embrulhado para presente e um enorme sorriso no rosto.

LILI: JUNTOS ATÉ DEPOIS DO FIMWhere stories live. Discover now