MAN IN BLACK

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I

Kingsland

Arkansas, 1977.


— O que está feito, está feito — Jebb murmurou. — Quantas pessoas sabem o que o vizinho faz quando entram e fecham a porta?

Os pistoleiros olharam para o homem moribundo no chão. Sco sabia que Jebb estava tentando amenizar a situação, mas não havia desculpas para o que ele tinha feito. Largado na lama cheia de vermes estava o corpo de um dos trabalhadores do Rancho, com um buraco de tiro no meio da testa.

Os olhos claros e sem vida do homem estavam abertos em cólera e fitavam o céu inalcançável e escancarado acima de sua cabeça, como se soubesse que o inferno era a sua porta de entrada. Alguns vermes entravam pela boca entreaberta do cadáver, que já estava em estado de rigidez.

Sco apertou os olhos e se amaldiçoou por ter feito aquilo justamente no dia em que receberia os filhos do patrão; eles iriam passar o verão no Rancho.

— Vamos providenciar o enterro, depois justificamos — Jebb sugeriu.

— Não podemos enterrá-lo aqui, o solo é sagrado, servimos ao Senhor.

O corpo foi levado até o cemitério da cidade. Eles decidiram deixar que o patrão fizesse o julgamento, então não registraram o ocorrido na delegacia. O finado trabalhava e morava no Rancho com a família; naquela manhã, tentou abusar das filhas, mas Sco foi alertado pelos gritos e entrou em luta corporal com o homem, que não se rendeu até que levou um tiro na testa. "Mais um para a cota, mas por ele eu não fico de luto", Sco pensou, se referindo às vidas que tirou enquanto lutava no Vietnã. Os nós dos seus dedos estavam feridos devido aos golpes duros, mas ele não tentou escondê-los da família do homem.

As mulheres estavam bem. Ele deu a elas o dia de folga e partiu montado em seu garanhão na mesma manhã para esperar os filhos do patrão na estação ferroviária. Sco não sabia ao certo como reagir diante de Nina St. James, pois fazia muito tempo que ele não a via. Ela parecia confortável dentro da locomotiva que acabara de chegar na estação ferroviária.

As ondas dos cabelos ruivos batiam nos ombros e pareciam desalinhadas por causa do cochilo durante a viagem. As nuvens de vapor escapavam de sua boca e se chocavam contra o vidro ainda coberto pela metade com a cortina vermelha. Ela bocejou e olhou para fora, encontrando o olhar acastanhado do rapaz que a esperava do outro lado, segurando uma placa com o seu nome. Recordava-se vagamente dele.

As pessoas começaram a descer, seguindo pelo corredor estreito da locomotiva, que parecia ser o único lugar aquecido comparado àquela cidade. O verão de 1977 chegou junto com as pesadas nuvens que desciam dos vales ressecados das montanhas suntuosas ao redor de Kingsland. A estação do algodão voltou com a esperança de uma safra tão pomposa quanto os campos abertos, mas não foi por conta do calor que Nina decidiu passar uma temporada no antigo Rancho St. James, uma das inúmeras propriedades da família, grandes produtores de algodão e café.

Ela observou o rapaz por mais alguns instantes e logo notou que se tratava de um dos funcionários do Rancho que costumava brincar com o seu irmão; parecia jovem, mas com aspectos envelhecidos por conta das exaustivas horas de trabalho nos campos.

A mulher notou os dedos machucados do pistoleiro, assim como algumas marcas arroxeadas em seu rosto. Aquele se tratava do rapaz que a sua família acolheu. Foi encontrado definhando dentro de um vagão de trem que carregava sacas de carvão, não tinha onde cair morto, estava desnutrido e não tinha instrução. Era trabalhador desde os cinco anos, o pai era um ex-presidiário que há muito pagou pelo crime, mas não recebeu outra oportunidade. Eram pessoas que viviam do lado faminto da cidade, analfabetos que nunca leram a palavra de Jesus sobre a estrada para a felicidade através do amor e da caridade.

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