Capítulo 29

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      Lumiar

De repente, como previsto pelo meu pai, o tempo em Lumiar mudou drasticamente. Uma chuva intensa caiu do céu, trazendo consigo uma tempestade furiosa, repleta de relâmpagos, trovões e rajadas de vento poderosas. A temperatura despencou consideravelmente, aumentando ainda mais a sensação de desconforto. A medida que a chuva forte persistia, fomos privados da luz e de qualquer forma de comunicação, o que agravou ainda mais a situação. Estávamos completamente isolados, vulneráveis à força da natureza e ao desconhecido que se desenrolava ao nosso redor.
Enquanto olhava pela janela, eu observava a intensa chuva caindo lá fora, e em silêncio, fazia uma prece mental para que nada de grave acontecesse. Ao mesmo tempo, não conseguia parar de pensar na importante audiência que estava acontecendo no Rio de Janeiro. Considerando o horário, ela provavelmente já teria terminado. O nervosismo me invadia ao pensar se tudo tinha corrido bem. Esperava, sinceramente, que o Théo não tivesse causado em mais confusões.
Com um sentimento de angústia que não me deixava em paz, eu me movimentava inquietamente pelo meu quarto. Além disso, a medida que o tempo passava, as dores se intensificavam e se tornavam cada vez mais incômodas. Minhas mãos instintivamente acariciavam minha barriga, enquanto eu suplicava mentalmente para que nada de errado estivesse acontecendo com meu precioso filho. A aflição e a preocupação se entrelaçavam, formando uma tempestade de emoções dentro de mim.
Naquele momento em que um raio cruzou o céu, uma intensa dor percorreu meu corpo. Com certo esforço, consegui me dirigir até a cama e me sentei, acariciando delicadamente minha barriga. Era difícil de acreditar que meu filho havia escolhido justamente aquele dia para vir ao mundo. Tentei afastar aquele pensamento, convencendo-me de que não era o momento certo, mas novamente a dor se fez presente e involuntariamente soltei um gemido.

- Lumiar, está tudo bem?

Assim que a voz suave da Jade alcança meus ouvidos, percebo sua aproximação repleta de preocupação. Com cuidado, ela deposita a vela em uma pequena mesinha e se aproxima ainda mais, captando de imediato a atmosfera estranha que pairava no ar. Tento assegurar-lhe que tudo está sob controle, mas antes que eu possa pronunciar qualquer palavra, uma nova onda de dor percorre meu corpo. Uma expressão de angústia se desenha em meu rosto, revelando que algo está fora do lugar, contrariando as palavras tranquilizadoras que eu gostaria de compartilhar.

- Está tudo bem! - Respiro fundo - Eu... Só estou sentindo um pouco de dor.

- Tem certeza, Lumiar? - questiona Jade, com um olhar preocupado.

- Tenho. -Digo com dificuldade.

- Então tá bom!

- Onde está meu pai?

- Ele está tentando estabelecer alguma comunicação, mas sem sucesso. -informa Jade, com uma expressão de preocupação - Parece que houve um deslizamento na estrada.

- Eu vou lá ajudar.

Faço uma tentativa de me erguer, mas ao ficar de pé, a intensidade da dor se intensifica de forma avassaladora. Se não fosse pela presença vigilante da Jade, provavelmente teria desabado no chão. Para minha aflição, sinto um líquido escorrendo pela minha perna, provocando um pavor imediato - minha bolsa havia estourado. Joaquim não poderia nascer naquele momento; estávamos confinados no Refúgio e, além disso, Benjamin não estava presente. Com o auxílio precioso da Jade, deito-me na cama, incapaz de conter as lágrimas de angústia que afloram em meu rosto.

- Jade, o Joaquim não pode nascer aqui. -afirmo com urgência.

- Calma, Lumiar! Vamos encontrar uma solução. - responde Jade, transmitindo confiança.

- Lumiar? Minha filha... -meu pai entra no quarto-
O que está acontecendo?

- Acho que ela está entrando em trabalho de parto, Fábio. -responde Jade, revelando a gravidade da situação.

RecomeçoWhere stories live. Discover now