A Escolhida

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Aeryn

Sentia meu peito apertando cada vez mais, sufocando o ar em meus pulmões e condensando as minhas Sombras quase que incontroláveis a medida que tentava, sem sucesso, acalmar a respiração.
Era como se garras invisíveis e afiadas perfurassem meu crânio e penetrassem em minha mente.

Eu não devia ter ficado abalada ao ponto de como estava agora, com as mãos tremendo, não conseguindo estabilizar a respiração e ter total controle sobre minhas próprias Sombras, depois de ter assimilando a possibilidade de Azriel ser meu parceiro. Não, isso era impossível.

Eu havia nascido para morrer, e um laço de parceria exigia o contrário.

Nós nunca seríamos parceiros, não quando eu sentia vontade de perfurar Azriel com uma adaga e fazê-lo se afogar no próprio sangue. Muito menos quando ele estava deixando cada vez mais claro que não hesitaria em me matar se eu cometesse qualquer ato contra a sua Corte ou de natureza duvidosa.

Em algum momento minhas pernas se estabilizaram e eu consegui andar, mas os pensamentos eram como facadas contínuas em minha mente, me lembrando a cada segundo que meu destino era a morte. Sangrenta e profetizada.

"Aquela que nascera na noite mais escura, onde mesmo a lua temeu aparecer, será a maldição e a salvação do Reino.
Aquela a quem o poder escondido nas Trevas revindicar e as Sombras adorar será a escolhida.
Filha da noite, destinada a matar e a morrer em troca da salvação.
Aquela que nascera para quebrar a maldição e se tornar a de seu semelhante.
Aquela que vai reduzir em cinzas o rei perverso para ascender na morte"

A profecia martelava em minha cabeça, me fazendo sentir uma dor agonizante, sentia como se minhas próprias Sombras estivessem me sufocando, mas em um momento de lucidez parei.
Por um maldito momento tudo fez sentido "Aquela que nascera para quebrar a maldição e se tornar a de seu semelhante", a profecia se repetia involuntariamente em minha mente, pressionando os meus sentidos e acelerando minha pulsação.

Como não havia percebido antes? Como pude deixar isso passar?
A parceria era parte da maldita profecia, sempre fora. Minhas Sombras sussurraram isso e eu não enxerguei o óbvio.

Seu semelhante...seu semelhante...

Lembrei de quando ele e Rhysand me encontraram nos limites da cidade, da voz dizendo ... irmão as suas sombras estão...
As Sombras dele já haviam sentido algo naquela noite. Rhysand havia percebido algo, e eu não fui capaz de assimilar isso.

Ele era meu parceiro, meu maldito parceiro, e não havia nada que eu pudesse fazer para mudar isso. Estava profetizado pelo caldeirão, e eu podia simplesmente ignorar esse fato, mas isso já nem seria necessário, não quando morreria de qualquer jeito.

Porque mesmo que tivesse jurado a mim mesma que moveria céus e infernos para continuar viva depois de cumprir meu dever, o maldito veneno ainda corria em minhas veias e estava me matando, ao que parecia.

A morte, agora parecia estar se escondendo em minhas Sombras, junto a uma agonia desesperadora que se provinha do fundo do peito e naquele ponto da mente onde o estalo surgira pela primeira vez.

Eu estava morrendo - sussurei para mim mesma, uma gargalhada tenebrosa aos meus próprios ouvidos ressoou em meu peito e ecoou ao bater nas rochas lisas e úmidas da montanha.

Não precisava escolher a dádiva da morte, ela já havia me escolhido. A séculos atrás.

Parei quando cheguei a beirada da montanha, olhando para o aranha céu que se estendia a milhares de metros abaixo, onde a escuridão o engolia.
Por várias vezes, quando era apenas uma criança, a escuridão me dava medo, as minhas próprias Sombras me faziam temer a mim mesma. E agora, depois de séculos a fio, depois de fugir, matar, torturar e espionar, eu podia sentir o seu chamado.

Herdeira das Sombras  | Azriel |Where stories live. Discover now