Semelhante

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Aeryn

Meus pulsos estavam presos à cadeira, assim como os tornozelos por correntes apertadas e manchadas de sangue. Com o meu sangue.

Um grito dilacerante e cheio de dor, assim como a que foi infligida em minhas costas, foi sufocado pela mordaça de pano amarrada a minha boca, encharcada de suor e lágrimas que queimavam a pele a medida que escorriam pelas minhas bochechas.

As runas de contenção eram desenhadas minuciosamente por ferro em brasa na extensão de minha coluna. Cravadas bem fundo na pele para chegarem a extensão do poder que corria em minhas veias.

Era a única maneira de controlar o inevitável. De controlar as Trevas antes que sucumbissem tudo ao meu redor e a mim mesma.

Outra linha foi traçada, essa bem abaixo de minha coluna, rasgando pele e músculo. Gritei mais uma vez, trincando o maxilar e cravando as unhas já todas quebradas, na madeira gasta da cadeira.

Havia algo quente e úmido em minha testa quando abri os olhos recobrando a consciência.
Estava ofegante e com a respiração entrecortada, tentei me sentar mas um braço tatuado me impediu.

Pisquei com força várias vezes para encontrar o foco na visão. Senti meus cabelos molhados e grudados em meu rosto e pescoço. Olhei primeiro para a esquerda onde vi uma mulher de meia idade Feérica com um braço estendido para cima. Ela estava segurando a compressa de água em minha testa, tentando aliviar a febre que senti logo que abri os olhos.

- O que aconteceu? - minha voz saiu estranhamente rouca, e me preocupei.

- Você estava gritando, querida - a fêmea disse com uma voz tão doce que me causou náusea.

Eu estava sonhando - ou tendo um pesadelo, dependendo da forma como isso poderia ser analisado - e eu havia realmente gritado, não só no sonho constatei.

- Parecia que estava sendo torturada - um arrepio desceu pela minha coluna que ardia enquanto as runas queimavam. Eu conhecia essa voz, ou pelos menos achava que já a tinha ouvido.

Virei a cabeça para a direita, a medida que a mulher tirou o pano de minha testa e o torceu em uma vasilha.
Meus olhos encontram os olhos escuros de um Illyriano alto e forte, parado ao lado da cama. Alguma coisa estalou no fundo da minha mente e despontou em meu peito. Puxei uma respiração pesada, tentando recobrar o foco e controlar o meu poder para minhas runas pararem de arder.

Analisei o Illyriano por um breve instantes. Seus cabelos escuros se confundiam com a penumbra do quarto, mas seu rosto anguloso e perigosamente lindo estava iluminado pela luz fraca do abajur ao lado da cama. Suas asas Illyrianas, maiores que as minhas, pendiam atrás das suas costas com elegância predatória. Seu peito nu deixava a mostra diversas tatuagens num tom de obsidiana que se estendiam pelos ombros e braços musculosos.

Engoli em seco sentindo minhas sombras agitarem. Desci o olhar pelo seu peitoral sem camisa e cheio de tatuagens. Mas foi em seus pulsos que parei. Sombras.

Ele era um Encantador de Sombras.

Era dele que Rhysand estava falando quando disse que eu também era uma Encantadora de Sombras.

Pisquei, me forçando a dizer qualquer coisa - Ah, me desculpe, eu não queria acordar ninguém. Foi apenas um sonho ruim.

- É melhor você voltar a dormir. Precisa descansar - foi o que ele disse com a voz perigosamente aveludada.

Escutei a porta batendo, e nem precisei virar para ver que a Curandeira havia ido embora, me deixando sozinha com o Illyriano misterioso.

- Todos dizem isso - resmunguei, mexendo de leve minha asa para ajeita-la em cima dos travesseiros. Trinquei o maxilar com a fisgada passageira de dor que senti.

Herdeira das Sombras  | Azriel |Where stories live. Discover now