Capítulo 04

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dois anos depois

Natasha esfregava as costas de James enquanto ele vomitava. Os cabelos antes ruivos e cacheados não existiam mais, ele havia perdido bastante peso também ao longo desses anos e apesar da quimioterapia ter diminuído a intensidade, sempre que tinha sessão o garoto ficava sentindo aquele mal estar. Acabava em uma cena muito semelhante, com ele curvado sobre o vaso sanitário enquanto a mãe fazia o possível para ajudá-lo e acalmá-lo. 

— Sara, eu já vou meu bem, me espere aí fora ok? — Natasha fala ao perceber que a filha observava a cena no banheiro. 

James levantou o rosto cansado para encarar a irmã gêmea, odiando que ela tivesse que o ver daquele jeito. Odiava que apesar de estar com nove anos após as sessões de quimio ele voltava a parecer um simples bebê. 

— Sai fora, Sara — ele balbucia e recebe uma careta dela como resposta, mas mesmo assim ela some de seu campo de visão. 

— Não fale assim com sua irmã — Romanoff reclama, mas James não tem tempo de responder já que volta a vomitar. 

Demorou um pouco, mas depois o cansaço atingiu o jovem e ele acabou dormindo enquanto a mãe o observava da poltrona que tinha no quarto dos gêmeos. Ela sempre ficava ali velando o sono dele após as crises de mal estar, como se James pudesse ter uma parada cardiorrespiratória a qualquer momento. Natasha ainda se sentia uma completa inútil quando via o filho naquele estado e não podia fazer nada, por isso se contentava em observá-lo e monitorar como as enfermeiras tinham lhe ensinado. 

Romanoff não sabia quanto tempo levou ou que horas exatamente eram, mas em algum momento a porta do quarto se abriu e Steve apareceu. Aproximando-se da esposa, ele deixou um pequeno beijo na cabeça dela, percebia-se como ela estava exausta e apesar de fazer de tudo para ajudar, Natasha também era muito teimosa. Em diversos momentos recusava-se a descansar para ficar ali tomando conta dos filhos. 

— Vá comer alguma coisa e tomar um banho — Steve sussurrou para que a conversa deles não acordasse o filho — Eu fico com ele.

— Não precisa, estou bem.

Steve suspirou apesar de já saber que aquela provavelmente seria a resposta dela. Mesmo assim, ele se abaixou diante da ruiva para fazer com que ela prestasse atenção nele.

— Sério, Nat, vá. Sara também estava querendo falar com você. Ela está sozinha na sala fazendo a lição de casa.

Ouvir o nome da filha faz com que Natasha morda o lábio inferior enquanto processava o que Steve lhe dizia. Até saber que não adiantaria discutir, ele acabaria convencendo-a e também precisava ouvir o que a filha tinha para dizer.

Ela levantou e com uma última olhada na direção do filho, deixou que Steve assumisse a antiga posição em que a ruiva estava. Natasha fechou os olhos por alguns segundos, tentando evitar que o cansaço ficasse muito evidente em seu rosto.

Chegando na sala, viu Sara sentada no chão com os livros da escola espalhados pela mesa de centro. Natasha ficou preocupada ao perceber o olhar vazio da filha, encarando o nada como se seus pensamentos não estivessem ali.

— Sara? — ela chamou — Tudo bem?

— Sim — a menina falou e voltou a olhar para sua atividade. Batia o lápis freneticamente contra a página, mas parou depois de um tempo — Não exatamente, não estou conseguindo fazer essa questão de matemática e o papai também não é dos melhores na matéria...

— Mas eu sou e posso ajudar, abre um espacinho aí para mim.

Ela dá um sorriso antes de se afastar para que a mãe possa sentar ao lado dela. As duas começam a trabalhar na atividade e quando terminam Natasha sente que tem mais alguma coisa para ser falada, mas Sara está evitando entrar no assunto. Romanoff ia perguntar o que estava incomodando ela, mas a menina é mais rápida e simplesmente levanta dizendo que vai tomar água.

Natasha fica sem entender e começa a fechar os livros que tinham terminado de usar, até ver o panfleto embaixo de um deles. Era um convite, aparentemente teria um baile mãe e filhos na escola semana que vem. Sara amava essas coisas e agora Romanoff tentava entender porque ela não tinha comentado nada sobre.

— Ei, isso parece que vai ser legal — ela chegou na cozinha e encontrou a filha sentada em uma das cadeiras do balcão — Por que não me mostrou?

— Porque eu não quero ir.

— Sara, o que está acontecendo?

Se tinha uma coisa que Natasha Romanoff sabia identificar era quando estavam mentindo para ela e era exatamente o que sua filha fazia naquele momento.

— Sara.

A ruiva insistiu e se arrependeu do tom usado quando viu as lágrimas nos olhos da menina. Ela estava tão cansada que nem ao menos conseguia medir o jeito de falar com a filha que, até onde Natasha sabia, não tinha feito nada de errado.

— Só fale comigo — ela pediu com mais gentileza — Por que não quer ir?

— É no mesmo dia que a quimio do James.

— Ah... Bem... — de repente ela se viu sem palavras para aquela frase.

— Está tudo bem mãe, a gente pode ir no ano que vem. Não tem problema.

Sara vai dá um abraço na mãe e volta para a sala. Natasha sente mais uma vez aquele aperto no peito sem saber o que fazer. Sua filha estava magoada, conseguia ver aquilo em seus olhos, e a culpa era inteiramente dela.

"Talvez não magoada... Mas com certeza decepcionada.", ela pensa.

Mordendo o canto da unha, começa a repensar como foram esses últimos dois anos. Não tinha abandonado a filha, jamais faria isso, mas com certeza também não tinha dedicado a mesma atenção que vinha dando para James, e Sara sempre deixou claro que entendia isso, as duas costumavam falar sobre o assunto.

Entretanto, agora sua filha estava indo para a escola enquanto James tinha aula em casa. A maior parte das reuniões era Steve quem ia, Natasha sempre dava um jeito de ir nas apresentações. Entretanto, se desdobrar com um trabalho, duas crianças e um deles doente era desgastante. Ela estava exausta, mesmo que Steve sempre tivesse ali para ampara-la quando sentisse que poderia cair.

Sua garotinha queria ir em um baile da escola e nem ao menos teve coragem de convidá-la por saber que a primeira reação da mãe seria dizer não. Sara realmente entendia o porquê, ela era uma criança compreensiva, amava o irmão e por mais que houvessem brigas às vezes, ainda eram melhores amigos. Só que em alguns momentos ela queria um tempo maior só com a mãe também e imediatamente se sentia egoísta por pensar assim. James estava doente e precisava de mais cuidados agora do que ela.

— Ei — a voz da mãe faz com que ela pare de arrumar o restante do material — Como funciona isso, precisamos usar roupas combinando, fantasia, ou o que?

A garota travou por alguns segundos. Tentando entender o que a mãe estava sugerindo e sentindo toda aquela agitação de felicidade dominá-la.

— Mãe, nós não precisamos ir. Sério.

— Quem você puxou para ser teimosa assim. Não responda.

Sara abafa uma risadinha com as mãos, mas corre para abraçar a mulher. A apertando em seus braços sem acreditar em quão sortuda era por tê-la ali.

— Sinto muito se estou te deixando de lado em alguns momentos, não era minha intenção e se você acha que isso está acontecendo precisa falar comigo.

— Eu amo você, mamãe.

— Eu te amo muito mais, minha princesa.

Sad, Beautiful, TragicWhere stories live. Discover now