Capítulo 01

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Steve observava os maiores tesouros da sua vida dormindo um ao lado do outro naquela maca de hospital. Natasha estava em uma posição nada confortável, mas seus braços envolviam o garoto de sete anos com muito cuidado para não danificar nenhum dos acessos que as enfermeiras fizeram na noite passada.

Naquele momento o mundo perfeito e feliz em que viviam havia ruído nas últimas vinte e quatro horas. Ele e a esposa haviam ficado acordados boa parte da noite, sem saber o que fazer ou como lidar com a notícia que tinham recebido.

Leucemia.

James Romanoff-Rogers tinha leucemia.

Isso explicava porque ele vinha se sentindo tão mal nos últimos dias, segundo o oncologista a descoberta havia sido cedo e as chances de sobrevivência eram muito altas. Entretanto, ainda era uma "chance", não uma certeza definitiva.

— Estava torcendo para ser um pesadelo — a voz rouca e baixa de Natasha fez com que Steve saísse de seus pensamentos, ele nem ao menos havia percebido que ela tinha acordado — Me ajuda a descer?

Prontamente Rogers levantou-se e a ajudou a rolar James para o lado, de forma que Natasha pudesse sair da cama sem acordá-lo. Era algo que eles haviam feito tantas vezes em casa, principalmente quando o menino deles era um bebê. Agora a notícia tinha sido jogada no colo deles e não sabiam o que fazer.

— Ele vai ficar bem amor — Steve beijou a testa dela com delicadeza.

Ao ouvir aquelas palavras, Natasha sentiu as lágrimas surgirem em seus olhos. Ela não queria chorar na frente de James, por isso ainda não havia se permitido desabar. Entretanto, ali estava Steve, seu marido a doze anos, pai dos seus filhos, seu melhor amigo e porto seguro. Sentindo os braços dele envolver sua cintura, Romanoff escondeu o rosto no peito dele e permitiu-se finalmente chorar.

Steve apertou a esposa em seu abraço, acolhendo a dor dela com a sua e chorando junto. Deus sabia que não conseguiriam passar por aquilo sozinhos, felizmente sempre teriam um ao outro.

— Um de nós precisa ir olhar a Sara, saímos apressados para o hospital e ela deve estar assustada — Natasha fala após longos minutos chorando — Ela também já deve estar irritada, Nathaniel gosta de encher a paciência dela quando não estamos por perto.

— Eu vou trazer ela, sei que vai querer ficar perto da gente e também sei que por mais que tente não vou conseguir te tirar desse hospital agora.

— Me conhece tão bem — Steve acariciou os cabelos dela antes de beijá-la rapidamente.

— Doze anos de casamento — ele enfatiza com um pequeno sorriso — Vou buscar nossa princesa.

Quando chegou no estacionamento, Rogers travou antes de entrar no carro. Sentando na calçada, escondeu o rosto entre as mãos e voltou a chorar. Não existia nada pior para pais do que ver seu filho sofrendo e não poder fazer nada para ajudar.

No quarto do hospital, Natasha sentou-se na poltrona ao lado da cama do filho e pensamentos muito parecidos com o do marido rondavam sua mente. A verdade é que ela gostaria de ser capaz de pegar toda a dor que James estava sentindo para si.

Os gêmeos sempre disseram que viam o pai e a mãe como super heróis, naquele momento eles desejavam mesmo ser isso, mas só se sentiam inúteis perto da imensidão do que estava acontecendo.

— Mamãe — a voz sonolenta do filho faz com que Natasha enxugue as próprias lágrimas rapidamente.

— Oi meu bebê — ela força um sorriso para tranquiliza-lo — O papai foi buscar a Sara na casa do tio Clint.

— Mãe eu não sou um bebê — ele reclama como sempre.

— Claro que é! Você e sua irmã são meus bebezinhos — Romanoff brinca e aperta a bochecha dele para irritá-lo — Que tal a gente assistir desenho enquanto eles não chegam?

— Pode ser. — James abre espaço na cama para a mãe e se aconchega no abraço dela — Mamãe... eu e a Sara gostamos de ser seus bebês, mesmo que a gente não admita.

Um sorriso surge junto com as lágrimas no rosto de Natasha. Ela aperta o filho contra si e tenta apagar todos os cenários ruins que sua mente colocava em seus pensamentos. Aquilo não era justo. James só tinha sete anos e com certeza não merecia estar passando por tudo isso.

— Não acredito que esqueci! — ele exclama de repente e dá um tapa na própria testa — Hoje é dia das mães! Precisamos ir embora daqui, nós planejamos um dia especial em família. O papai até deixou a gente escolher sozinhos o seu presente.

— Está tudo bem, Jamie — ela tenta acalmá-lo.

— Não está! É seu dia mãe, precisamos comemorar — reclama preocupado — e eu nem desejei feliz dia das mães. Feliz dia das mães, mamãe!

Natasha ri um pouco quando ele grita e depois ao lembrar que está em um hospital sussurra baixinho as mesmas felicitações.

— Para mim já é o suficiente ter você e sua irmã comigo.

Principalmente nas circunstâncias atuais, acrescentou mentalmente. Ter os dois filhos com ela, parecia um pedido tão simples antes e tão complicado agora.

— Acha que podemos celebrar aqui?

— Tenho certeza que vamos conseguir dar um jeito.

Apesar de passar confiança em suas palavras, ela estava extremamente nervosa. Queria colocar seus filhos em uma bolha e proteger de todo o mal do mundo, mas sabia que isso não seria possível e nem adiantaria de muita coisa. Só restava se agarrar a esperança de que no final tudo daria certo.

— Espero que o papai chegue logo, é estranho sem ele e a Sara falando o tempo todo — ele resmunga enquanto presta atenção no desenho.

— Acho que eles também sentem falta do nosso silêncio — ela acariciou os cachos do filho.

— Mamãe eles falam tanto que nem dá tempo ficar em silêncio —  fala e os dois acabam rindo.

Era verdade afinal. James tinha uma personalidade muito mais parecida com a mãe, enquanto que Sara era o pai todinho, mesmo tendo os mesmos cabelos ruivos e olhos verdes de Natasha, assim como seu irmão gêmeo.

Os quatro se amavam e eram uma família feliz. Viviam em uma realidade perfeita que parecia prestes a ruir.

Sad, Beautiful, TragicWhere stories live. Discover now