22. Meu garoto

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De fato, uma parte minha ficou naquele altar. Eu já sentia que o casamento me mataria por dentro e tentei avisar isso a todos, mas ninguém quis me ouvir. Nem mesmo meu anjo da guarda. Deveríamos ter fugido quando ainda era tempo. Deveríamos ter fugido naquela noite.

Pelo visto, a Igreja não se importa se o casal de pé no altar é falso ou não. E isso me traz desgosto. Naquela mesma igreja, já ouvi o padre dizendo que relação com alguém do mesmo sexo é pecado. No entanto, um casamento imposto por motivos políticos e financeiros é sagrado? Quanta contradição.

A Igreja não se importa se o noivo repete os votos de casamento da boca para fora e promete ser fiel à noiva sendo que na primeira oportunidade após a lua de mel irá correndo para a colina Bihaeng ter uma noite com o verdadeiro amor de tua vida.

Que mal faz aos Céus o nosso amor? Por qual razão não podemos ter o que muitos têm: a liberdade de amar?

Se é mesmo pecado, dane-se. Meu coração sempre foi mais forte do que as insubmissas leis religiosas.

Embora tudo da cerimônia tenha sido, para mim, um grande teatro, a tristeza em meu peito é real. Além de real, é agressiva e consome cada partícula de felicidade um dia existente aqui.

Detestei precisar beijar Mayumi na frente de todos. Principalmente na frente de Taehyung. Odiei cada pormenor do casamento. No entanto, ainda tentava mascarar todo meu desgosto. Tentava sorrir e fingir estar tudo bem.

Mas não consegui manter a encenação ao ver Taehyung se levantar de repente e correr para o jardim. A cerimônia já havia acabado e o banquete estava sendo servido. Meu corpo inteiro vibrou e não hesitei em desfazer do entrelaço de Mayumi ao meu braço e correr na direção do meu garoto.

Encontrei-o ofegante, curvado enquanto se apoiava no joelho. Ele também sofria. Estar ali era insuportável, me ver casando com outra pessoa devia ser a pior imagem do mundo para ele.

Nossas almas sangravam pela mesma dor.

Taehyung levantou o olhar e me surpreendi pelo excesso de melancolia em tuas íris. Não havia mais o brilho usual, o qual ilumina minha vida. Assim como eu, uma parte dele pareceu se perder. As imposições da sociedade nos adoeceram.

Abracei-o com força, numa tentativa urgente de buscar abrigo em teu aroma e calor. Eu precisava sentir tua presença. Precisava entrar em contato com o que sou de fato. Precisava me sentir em casa.

Então, os rios surgiram. Era uma água contida por séculos e não cabia mais aqui. Senti meu corpo inteiro tremer e manter o silêncio não foi possível. Eu soluçava, fungava e gemia.

"Este é o pior dia da minha vida", tentei limpar o rosto. "P-Por que não fugiste comigo, Taehyung? Por quê?"

Ele se sentiria culpado e admito que queria causar esse sentimento nele. Queria que ele sentisse a dor em meu peito, o rombo em minha alma. Poxa, só queria que fôssemos felizes. Bem longe dali.

"Desculpe-me."

Não era o suficiente. Palavra nenhuma seria o suficiente. Eu o queria ao meu lado como meu verdadeiro companheiro, mas me tiraram isso. Arrancaram minhas asas e me jogaram dentro de uma gaiola gélida e suja.

O ouro mata mais que uma faca afiada. Ele é o verdadeiro veneno desse mundo terrível. Quanto mais penso que isso é aceitável enquanto o meu amor é considerado pecado, mais sinto o ódio preencher minhas veias.

Desejo que, numa outra vida, eu possa amar Taehyung como eu bem quiser.

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06 de setembro de 1790.

Diário,

Quando meu anjo surgiu na minha realidade e não apenas em meus sonhos, ele me trouxe diferentes experiências de vida e me mostrou que há felicidade aqui na Terra.

Em uma outra vida, eu serei o teu garoto | taekook [🕊️]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora