CAPÍTULO 1 - ONDE MORA A FELICIDADE?

4 1 0
                                    

> Uma semana antes do acidente <

De longe, podia ouvir os pássaros assobiando em alguma árvore, também podia sentir uma leve brisa fresca e quente entrando pela minha janela, sempre gostei do calor do verão e dos encantos presentes na natureza, mesmo a mais selvagem criação ainda sim é a mais bela. Assim que me levanto ando em direção a minha janela, inspiro todo ar que posso enchendo meus pulmões ao máximo com aquele ar maravilhoso, assim posso aproveitar ao máximo aquele momento. Depois de alguns minutos imersa naquela sensação, eu olho para o meu celular e percebo que já estou um pouco atrasada, então desço para tomar café.

Meu pai não é o melhor cozinheiro, mas depois que a mamãe morreu ele fez o que pôde para cuidar de mim sozinho. A minha mãe era enfermeira, ela e o meu pai se conheceram no ensino médio e desde então eles começaram a namorar e assim que minha mãe contou que estava grávida, segundo ele, foi a melhor notícia de todas. Nunca pude conhecer minha mãe, ela morreu enquanto dava a luz à mim, durante o parto, mas o meu pai disse que pode perceber a felicidade em seus olhos antes dela morrer. Existem várias fotos dela pela casa, e talvez isso me console um pouco, embora a extrema curiosidade de conhecer a mulher que meu pai nunca pôde esquecer depois de 17 anos, seja maior.

– Viajando na maionese de novo? – Ele diz, com um pouco de sarcasmo na voz. Admito que às vezes, só algumas, meu pai consegue ser extremamente chato com suas piadinhas.

– E você ainda está errando o ponto das panquecas? – Eu digo, e ele revira os olhos. – Eu tenho mesmo que ir hoje? A gente podia só ir caminhar. – Continuo.

– Você tem que ir amor, lembre-se das suas faltas! Você já faltou demais. – Ele rebate, e eu começo a fazer biquinho, eu sei que é jogar baixo, mas o dia tá realmente muito bom.

– Não, não venha com seus biquinhos! Tome seu café e vá se arrumar sua trapaceira. – Ele responde me mostrando a língua.

Decidi obedecer ele e me sento para tomar café, e felizmente o café estava muito bom, embora as panquecas...
Depois do café, subo até o meu quarto e começo a me arrumar. Tenho algumas  inseguranças em relação ao meu corpo, uma delas são minhas pernas grossas e minha falta evidente de peitos. No entanto, ao longo dos anos eu meio que aprendi a não me incomodar muito com isso, e parte disso quem me ensinou foi minha melhor amiga, Alexie. Nos conhecemos ano passado, em uma festinha de aniversário na casa de Damien, a nossa vizinha, depois que eu derramei sem querer um copo de refrigerante em cima dela.

Alexie e eu só nos demos bem porque ela também gosta de coisas felizes e animadas (além de fazer piada com a própria situação), caso contrário, naquele momento ela teria me xingado de todos os insultos possíveis. Teve uma vez na escola, que ela esbarrou em uma garota muito patricinha e popular no corredor e a reação da garota foi a pior, eu tive que fingir que ia chamar a diretora para a garota sair de cima de Alexie. Depois desse dia, a garota sempre fazia alguma coisa pra perturbar a infinita paciência da Alexie.

Depois de alguns minutos, decidi vestir uma saia jeans com uma meia calça arrastão por baixo, e completo o look com uma camisa preta que eu cortei até um pouco depois dos meus seios. Pego a minha bolsa e sigo para a garagem, meu pai provavelmente já está impaciente no nosso fusca antigo. O "charmoso" fusca na nossa garagem é uma herança do meu avô, que morava em alguma fazenda próxima daqui. Meu pai é literalmente apaixonado por carros antigos, e esse fusca não podia ter sido a melhor coisa que ele já ganhou, acho que nenhum presente que eu já dei pra ele foi melhor que esse fusca.

Quando chego na escola percebo que Alexie não veio hoje, a gente sempre se encontra no banco perto da fonte do pátio, e geralmente é ela quem chega primeiro, depois vou mandar uma mensagem perguntando se está tudo bem com ela. Decido entrar na escola e seguir para a minha sala, tenho aula de biologia agora, e sinceramente não estou nem um pouco afim de assistir a senhora Belong falar sobre reprodução dos seres vivos de novo, mas infelizmente tenho que assistir algumas aulas dela. Assim que entro na sala, vejo Benjamin e aceno para ele, eu e Benjamin nós conhecemos desde a infância e às vezes eu acho que ele tem uma queda por mim, mas ele é legal e gosto de conversar com ele.

– Alexie não vem hoje? – Ele diz, assim que me sento ao lado dele.

– Acho que não. – Respondo, balançando a cabeça.

– Você faltou bastante semana passada, aconteceu algo? – Ele pergunta, mas antes que eu possa responder a senhora Belong entra na sala.

Ela dá uma boa olhada pela sala, os alunos ficam em silêncio e eu começo a me sentir desconfortável com aquela situação, e então ela para seus olhos de águia em cima de mim e faz um gesto para que eu me levante da cadeira.

– Lydia Connor, quantas faltas a senhorita teve em minhas aulas! Poderia por favor me explicar o motivo? – Ela pergunta, me encarando profundamente.

– Bom dia senhora Belong, eu estava com um resfriado persistente e não quis passá-lo para ninguém. – Respondo, torcendo firmemente para que ela aceite essa desculpa.

– Um resfriado? Somente nos meus horários? Espera mesmo que eu aceite essa desculpa? – Ela responde, de forma áspera.

"Merda... E agora?"

– E-eu...bem...eu...– Começo a tentar responder várias vezes, mas me perco, estou sem saída.

– Senhora Belong, não acho que seja apropriado duvidar da palavra de uma aluna tão dedicada, acredito que as notas da Lydia já respondem por ela. Se ela diz que estava resfriada, então talvez seja verdade. – Benjamin responde no meu lugar, e por um instante considero me casar com ele.

– Hora...bem... Tudo bem, senhorita Lydia, mas espero que não se repita novamente. Alunos hoje vamos dar continuidade a aula de reprodução dos mamíferos..– Diz a senhora Belong, mas paro de prestar atenção no que ela fala.

Sussurro um "obrigado" para Benjamin, que neste momento está inclinado sobre sua mesa com seus cabelos loiros deslizando pelo seu rosto. Confesso que se eu não considerasse ele quase como um irmão, acho que já teríamos começado um namoro a algum tempo. Benjamin é simplesmente um dos garotos mais bonitos da escola, e um dos mais inteligentes também, ele quer ser médico cirurgião e isso realmente combina com ele. Embora, sua caligrafia, ao invés de ser um garrancho, é na verdade muito bonita e legível, é invejável até pra mim. Ele também é de uma família muito rica aqui da região, seus pais são donos de algumas fazendas e startups, além de promoverem algumas palestras importantes aqui na escola. Talvez seja por isso que a senhora Belong decidiu não descutir com ele agora a pouco.

O dia passa devagar e quase parando, mas quando chega a hora de ir embora, decido passar em uma floricultura perto de casa. Meu pai deixou que eu escolhesse um arranjo de flores bem grande para colocar na sacada do meu quarto, e então eu escolho um arranjo com flores silvestres muito lindo. E quando estava no caixa eu olho um homem, acho que de uns 25 anos no máximo, vestido com uma calça jeans rasgada e uma camisa branca lisa, cabelos escuros e grandes e uma certa semelhança em seu rosto. Não pude deixar de encará-lo por alguns instantes, até que ele percebeu e me devolveu o olhar cheio de curiosidade, seus olhos eram castanhos escuro e pareciam.. tristes?

– Moça? – A caixa chamou minha atenção, acho que ela estava me chamando há algum tempo, pois parecia impaciente.

Paguei e saí da floricultura sem olhar para trás, a sensação que aquele olhar me causou não foi boa, tive uma sensação de angústia e melancolia, espero que aquele homem não me siga. Então acelerei meus passos e assim que cheguei a parada de ônibus, consegui entrar no ônibus sem ser seguida. Acho que foi apenas uma impressão, talvez não fosse pra tanto. Mas, ainda sim, quando eu ia dormir foram aqueles olhos que rodaram meus sonhos durante a noite e me incomodavam durante os dias.

COLD BONES - VOLUME IOnde as histórias ganham vida. Descobre agora