Capítulo 01

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Início - 05/04/2005

Daniel

Eu olhava minha mãe chorar do meu lado, com um dos olhos roxo e tão inchado ao ponto de nem se abrir.

Era foda! Ver isso diariamente e não conseguir fazer absolutamente nada para impedir que aquele filho da puta encoste o dedo nela.

É um canalha, um puro canalha! Meu pai é um cuzão, um filho da puta que não merece o prazer de viver.

E eu, eu sou um covarde, apenas um covarde! Que vê a própria mãe apanhar todos os dias e nunca faz nada, talvez eu mereça morrer assim como ele.

Daniel: Melhor a senhora tomar um banho e tentar dormir um pouco.. - falei baixo, sem nem conseguir olhar pra ela.

Marta: Eu vou esquentar a comida pra você primeiro. - senti que ela me olhava, e neguei.

Daniel: Tô sem fome, mas valeu. - sorri fraco. - aí, pode dormir no meu quarto essa noite, tá bom, coroa? - olhei pra ela e suspirei alto. - não quero a senhora perto daquele filho de uma.. - ela me interrompeu.

Marta: Não fala assim, ele é seu pai.. e ele nunca te machucou. - disse a última parte mais baixo.

Daniel: Ele te machuca, e isso é pior do que se ele me machucasse.. - senti minha bochecha molhada de lágrimas.

Marta: O choro dura uma noite, mas a alegria vem pela manhã. - Sorriu fraco. - eu vou sair dessa, vai chegar o meu momento! Deus não falha, filho.

Daniel: Eu sei que não, eu só quero que esse sofrimento passe..

•••

02/05/2005

Duas da madrugada, e quem disse que eu tinha sono? Tinha nada, cara.

Já fazia quase um mês que eu tava dormindo menos de três horas por noite e isso tava fudendo comigo.

As horas se passaram devagar, mas finalmente a manhã chegou e eu pude me levantar da cama sem a sensação de estar atrapalhando minha coroa dormir.

Depois de me levantar e fazer minha higiene, eu fui pra cozinha, onde tava minha mãe e o cara que diz ser meu pai.

Marta: Bom dia, Daniel. - sorriu.

Daniel: Bom dia, dona Marta. - sorri, mas fechei meu sorriso quando senti o Paulo me olhar.

Paulo: Bom dia, filhão. - passou a mão na minha cabeça. - pra quem vai ter um irmão tu tá bem desanimado. - brincou, com a notícia que me deram semana passada. - se anima, cara.

Marta: Ele está se acostumando com a notícia, Paulo. - sorriu sem graça. - logo ele vai estar feliz só de lembrar disso.

Daniel: É, é isso mermo. - sorri fraco.

Fingi estar tranquilo com isso, mas pra mim isso estava sendo a pior besteira que poderia ter acontecido.

Um bebê não merece passar nem por a metade do que eu já passei, vendo a mãe sofrer na mão daquele otário.

Paulo: Vai na aula hoje? - me olhou, e eu suspirei alto e confirmei com a cabeça. - Te deixo lá. - eu ri.

Daniel: Não, não. Já é normal eu subir com os moleques todos os dias, e hoje não vai ser diferente. - encarei ele.

Paulo: Tu que sabe! - deu de ombros. - tô indo agora. - disse saindo da cozinha.

Marta: Ele te acompanhar até a escola pode fazer o relacionamento de vocês melhorar. - disse baixo, me olhando.

Daniel: Eu não tô afim, desculpa, mãe. Não consigo ver uma pessoa boa nele, esse cara tem muita maldade no coração.

Marta: Todo mundo tem a capacidade de melhorar... Você sabe.

Daniel: Sim, melhoram até o próximo gole de cachaça. Depois que bebem voltam a ser a mesma pessoa ruim de antes. - suspirei. - não devemos confiar em pessoas que já nos decepcionaram várias vezes.

Marta: Vou orar pelas mudanças de atitudes do teu pai, e pela tua mudança de pensamento... - disse firme, me olhando e eu neguei com a cabeça.

Daniel: Tá dando minha hora, coroa. Se cuida. - beijei a testa dela. - te amo.

Marta: Te amo. Deus te proteja. - sorriu, me abraçando e depois eu fui saindo dali.

•••

A volta da escola era o melhor momento do meu dia, era zoação pra caralho, tá ligado? Eu e os moleque rindo atoa, momento de paz de alegria mermo.

Bruno: Aí mano, vou passar na 15 pra pegar um bagulho, bora? - me olhou de lado, e eu encarei ele.

Daniel: Te liga cara, tô ligado na tua ideia já. Eu não mexo com essas paradas não. - falei sério e ele deu risada.

Bruno: Tô ligado, cara. Não tô dizendo pra tu usar, tô te chamando pra ir comigo, pô. Apenas isso.

Gael: Deixa disso, Bruno. Amigo que é amigo não chama pra essas parada aí não. Nossa vida já tá fudida, não fode a do Daniel não. - disse sério. - parte pra tua goma, Dan. - concordei, fazendo toque com ele e depois com o Bruno.

Fui descendo o morro com isso na mente, meus dois amigos com doze anos já são viciado na famosa verdinha. E a vida dos dois tá cada dia pior.

Eu nunca inventei de fumar, oportunidade nunca me faltou, mas eu prefiro manter minha conduta e não dar dor de cabeça pra minha coroa.

Assim que entrei em casa percebi que a mesma tava vazia, então eu só troquei de roupa e caí na cama pra dormir.

Acordei umas três da tarde, minha mãe dormia do meu lado, então eu me levantei em silêncio e antes de sair de casa, deixei um bilhete na mesa pra ela.

"vou na quadra brincar com os moleques, chego antes das nove! Se cuida, te amo".

Chegando na quadra, percebi logo que o fut ia dar mó bom hoje. Só tinha os cria que joga bem, serão.

Gael: Tu veio hoje, aí sim em. - fez toque comigo. - vai dar bom, só tem profissional aqui, maluco. - sorri, concordando.

Daniel: Só os fera. - fiz toque com os outros que estavam mais próximos. - O Bruno não vai brotar não?

Gael: Hoje não, ele tá fazendo as correrias dele pra arrumar grana. - neguei com a cabeça.

Daniel: Ele tá acabando com a própria vida. Puta que pariu.

Gael: Eu tô na mesma. - disse baixo. - bagulho lá em casa tá tenso, tô tendo que ajudar, tá ligado?

Daniel: Aí é tenso. E tu sabe o pq ele tá nessa?

Gael: Pra não depender dos pais dele, pô.

Daniel: Mó bobeira, cara. Olha nossa idade, não tem como ser totalmente independente não. - falei fazendo gestos, e ele concordou.

Era uma vez...Where stories live. Discover now