Mutantes, História Não Contada

capítulo 3

Jhonny acordou assustado, sentia como se o mundo girasse ao seu redor, estava pendurado, sentindo que as pernas e os braços não o obedeciam, logo se lembrou o que realmente aconteceu, o que mais temia, não eram seus braços que não o obedeciam, ele que não os tinha ligados ao corpo, o mundo não girava, na verdade era apenas a corda que o pendurava ao teto que girava, era escuro, não era possível ver um palmo a sua frente, várias vezes ouvia alguns grunhidos, talvez de animais, talvez de outros mutantes.

O medo era visível nos olhos de Jhonny, ele não tinha como escapar dessa vez, mesmo se sua calda crescesse, seria arrancada novamente da mesma maneira cruel e dolorosa que fora da última vez. O que sobrou de seus membros estavam dormentes e não seriam muito úteis pra se locomover mesmo se não estivessem. Não tinha muito o que ser feito nessa situação, o que aconteceria se gritasse? Será que morreria? Sera que teria mais a ser tirado dele? Talvez os dentes? Talvez se cooperasse com Igor ele o deixasse vivo, talvez essa seja a única opção que lhe restava no momento, e se conseguisse pedir ajuda? A polícia o ajudaria? ou só ignoraria ele por não ser humano o suficiente pra viver nesse mundo? Nenhuma pergunta poderia ser respondida naquele momento, e talvez não seria respondida em momento algum.

Derrepente, Jhonny se sente sendo arremessado pra longe, em uma parada brusca, acertando a parede do que parecia ser um container, o barulho fez os grunhidos aumentarem, Jhonny tenta se rastejar com o que sobrou de seus membros mas a dor é forte demais para que consiga se arrastar mais que alguns centímetros. Passos podem ser ouvidos do lado de fora do caminhão indo na direção do container, quando derrepente uma luz repentina surge, o contêiner estava aberto, Jhonny tem a esperança de que seja sua chance de ser salvo mas tudo vai por terra quando vê o rosto sorridente de Igor, um sorriso que com certeza ficaria em sua memória para sempre.

Igor pega Jhonny no colo com facilidade, mesmo com o mesmo tentando se debater, e vai o carregando pra dentro de um prédio abandonado no meio do nada, por fora parecia que iria ceder a qualquer momento em uma chuva mais forte que o normal, mas por dentro Jhonny via um edifício aparentemente novo, estava vazio, mas com câmeras em todos os corredores e detectores de calor em cada canto, parecia que Igor planejava aquilo a algum tempo, talvez dês do dia em que se conheceram no orfanato.

Jhonny prestava atenção em cada câmera, cada porta e cada corredor pelo qual passavam, mesmo ferido ele não desistiria de sua liberdade tão fácil! Mesmo significando sua morte, não via a possibilidade de ficar naquele lugar pelo resto de sua vida miserável.

Jhonny é colocado com delicadeza em um colchão, em uma sala praticamente vazia, havia apenas duas portas, a da saída e uma que levava para um banheiro, aparentemente esta seria a sala onde Jhonny ficaria, já que é a sala com mais câmeras de todo o local.

-Você não sabe o quanto eu esperei por esse dia Jhonny! -Exclamou Igor, em um tom entusiasmado. - Faz tantos anos que eu queria você só pra mim, que eu nem sei por onde começar a me divertir! - Igor se sentou no colchão colocando Jhonny em seu colo, o medo nos olhos do garoto era visível, e isso deixava Igor ainda mais animado, talvez ele sentisse um real prazer com tudo aquilo, com a dor nos olhos de Jhonny. - Eu senti tanto a sua falta quando você foi embora do orfanato! Eu queria tanto que você e eu tivéssemos sido adotados pela mesma família, mas ninguém quer um mutante imundo como você não é Jhonny? - Jhonny não responde, virando o rosto na direção contrária, não encarando seu sequestrador nos olhos, e principalmente, tentando não chorar, não daria aquela satisfação a Igor! - Bom Jhonny... Ninguém quer um mutante como você, além de mim! Você me pertence! Eu finalmente consegui comprar você e você não vai escapar de mim tão fácil! - Igor empurra Jhonny no colchão se levantando e indo pra outra extremidade do quarto, pegando uma corrente que estava presa a parede, e levando ate onde Jhonny se encontrava. - Sabe... Se você tivesse se comportado e não usado seu ferrão você ainda teria suas pernas agora... A culpa é sua de não me obedecer! Você sempre foi uma pessoa difícil de se conviver não me admira que seu chefe tenha vendido você tão facilmente pra mim.

Tentar não fraquejar naquela hora parecia impossível, Igor parecia saber todas as inseguranças de Jhonny, seus medos e seus anseios eram mesmo tão previsíveis? Talvez o próprio Igor os tivesse criado, apenas para fragilizar aquele garoto que já era tão miserável. Antes que Jonny pudesse chegar em qualquer conclusão sobre seus pensamentos foram substituídos pela realidade que o tirou de seus devaneios, estava sendo acorrentado pelo pescoço, como um animal, sinceramente nenhum ser vivo deveria ser tratado assim, pelo menos era o que Jhonny sentia enquanto ouvia a risada de Igor ecoar pelo quarto. Não importa em qual perspectiva a situação não parecia minimamente agradável, será que Jhonny morreria ali? Acorrentado como um animal, sendo espancado e humilhado pelo seu captor? Será que Jhonny não seria livre nem para morrer em paz nesse mundo tão odioso? Mesmo que suplicasse a todos os deuses porque nenhum o salva desse destino pior que a própria morte? Será que era Jhonny o errado apenas por ter nascido diferente dos humanos? Seria menos humano por nascer com um corpo diferente dos demais? Por quê que ele quem tinha que ser punido por nascer daquele jeito, sendo que nunca desejara nascer amaldiçoado daquela forma.

  Igor que se divertia ao ver o olhar de sofrimento do garoto se dirigiu a porta no momento em que terminou de acorrenta-lo a parede, também se certificando de que a fechadura da porta estava bem trancada antes de se afastar. Jhonny não tinha o que fazer naquele estado deplorável, enquanto se arrastava pelo chão do quarto com as correntes presas ao seu pescoço tentava não se desesperar tanto, ao menos não sentia a mesma dor que sentiu quando seus membros lhe foram cruelmente arrancados, parecia que da noite pro dia a dor diminuira consideravelmente, talvez fosse efeito de algum remédio, mas não tinha certeza se Igor realmente se importaria em fazê-lo sofrer com a dor de suas feridas, talvez o deixasse lá para apodrecer em meio ao desespero.