Inspiration (Parte Um)

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Besteira.

Ao final das aulas, Frank se despediu de seu único amigo, Ray, e seguiu o caminho familiar ao corredor da luz que pisca sem parar. Seus passos eram pesados e furiosos. Sua cabeça fervilhava, as palavras "suspensão" e "expulsão" se repetindo, rimando, ritmadas como o mais sem criatividade dos poemas. Ele não deveria se sentir dessa forma, injustiçado, incompreendido. Frank tinha notas medianas, não eram altas o suficiente para o colocarem em uma universidade, mas boas o suficiente para que ele não fosse reprovado, por mais que beirasse a reprovação todas as vezes. O comportamento dele, todavia, não era bom. Por mais que não incomodasse os professores nas aulas, vez ou outra ele era pego dormindo, resultado das insônias. Juntando tudo isso, era justo concluir que Frank Iero não era um bom aluno.

A caminhada da vergonha até a detenção poderia ter sido apenas mais uma na rotina de Frank, mas o corredor estava diferente do que na última vez que ele esteve ali na semana anterior. Os tijolos beges e em tons amarelados pelo desgaste da construção, agora sustentavam telas pintadas.

Eram três pinturas expostas, todas com a mesma paleta de cores, tons em preto, cinza e vermelho, principalmente vermelho. O conjunto era chamativo, transgressor e sangrento. As pinturas exibiam figuras humanas que gritavam, choravam, sangravam, arrancavam seus próprios corações. Parecia clichê, mas Frank se sentia assim, constantemente prestes a explodir em uma bagunça sangrenta e feia. Sim, ele achou as pinturas grotescas e um pouco feias. Frank não entende de arte, tampouco se interessava por tal para além da música barulhenta que escutava em suas noites de insônia. O caos de percussões e cordas que o lembravam que estava vivo, ou que deveria viver. Porém, naquele momento, ele não tinha a noção de que estava magnetizado pelo alguém por trás da pinturas e não por elas em si. Quem era a alma perturbada que havia tornado o corredor da detenção em um lugar ainda mais sinistro e decadente? Quem era responsável por aquelas pinturas horríveis?

Frank percebeu de soslaio que havia alguém o observando. Ele se virou para a figura misteriosa sem fazer alarde ou demonstrar surpresa. Frank tinha um um bom reflexo. O que ele encontrou foi um rosto conhecido. Um garoto, pouco mais alto que ele, com um rosto redondo, nariz angular, cabelos pretos que vão até a altura do queixo e olhos com um reflexo esverdeado que ele nunca havia visto antes. Ele conhecia aquele garoto, os dois faziam aula de álgebra juntos - quando Frank comparecia -, tinha certeza que ele se chamava Gerard. Todavia, ele parecia um dos certinhos, Frank se perguntou o que ele teria feito para estar a caminho da detenção.

Ali, embaixo da maldita lâmpada defeituosa que ninguém trocava, Frank e Gerard ficaram se encarando. Frank com a postura desleixada de sempre e Gerard ereto, com as mãos nos bolsos de seu moletom preto, aparentando estar um pouco tenso.

O garoto da aula de álgebra parecia estar procurando palavras para dizer. Frank quase podia perceber as engrenagens da cabeça de Gerard se mexendo. Então, ele esperou, até um pouco ansioso para ouvir, talvez.

"Me desculpe por te assustar..." disse Gerard, ainda sem se mexer, um pouco tímido.

"Você não me assustou." Frank respondeu rápida e indiferentemente.

As pupilas de Gerard se dilataram sutilmente e o garoto remexeu as mãos por dentro dos bolsos, curvando o corpo de um lado para o outro, claramente desconfortável. Frank estava de mau humor, mas não queria ser um idiota com Gerard. Ele não era bom em interpretar pinturas, mas era bom em interpretar pessoas. Havia algo que o garoto gostaria de falar com ele, mas estava com dificuldades, Frank tentou ajudá-lo a conduzir o assunto.

"Fazemos aula de álgebra juntos, certo? Você está indo para a detenção também?" Perguntou Frank, tentando deixar o clima mais descontraído.

Gerard olhou para ele e soltou um sorriso fraco.

Inspiration | Frerard Short FicWhere stories live. Discover now